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Paulo Saldanha

A CRUZ DO CORONEL


Após a visita a Dom Geraldo Verdier, depois da reunião da nossa Academia Guajaramirense de Letras, no sábado passado, dia 28, enquanto concluíamos o encontro literário/administrativo, na sua sala gentilmente disponibilizada, sorvendo um “caliente" café da hora, fomos falando de Dom Rey e acabamos por envolver na conversação um pouco da vida do meu tio-avô, que, para mim e para muitos, é referido como o saudoso Coronel Saldanha.

- Você sabia, Paulinho, a cruz que o coronel fez implantar na primeira igrejinha continua lá, soberana e firme?

- Mas que cruz é essa, Dom Geraldo?

- É aquela, imediatamente atrás da torre que Dom Rey acrescentou ao prédio da obra entregue pelo seu parente à cidade de Guajará-Mirim, em 1924.

Confesso que eu desconhecia a história da cruz do Cristo que o Cel. Saldanha mandara ali fixar.

E o generoso Bispo emérito me conduziu até o ângulo da visão que me permitiu enxergar, na parte posterior da torre a cruz do coronel.

Bem, a história que eu ouvi contar é que o coronel Saldanha devoto do catolicismo, ante a ausência de um lugar para reunir os fieis da cidade, ousou e venceu e, valendo de seus recursos financeiros fez erguer o templo católico local, que acabou sendo sagrado numa reunião encaminhada pelo Padre Antônio Peixoto, Salesiano, 1º Vigário de Guajará-Mirim, vindo de Porto Velho, com a missão de, ritualisticamente, entregá-lo em 24 de Dezembro de 1924; assim, se pôde inaugurar o primeiro templo, um tributo a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.

É preciso fazer justiça: a primeira escola e a primeira igreja mereceram a ação e/ ou o co-patrocínio do meu saudoso parente, assim como a implantação da Guaporé Rubber Company, e, ainda, o auxilio na construção do primeiro hospital, que Dom Rey fez implantar aqui. O emérito Professor Carlos Costa foi por ele contratado em Manaus para aqui exercer o seu magistério tão edificante, na escola que o coronel fez edificar na cidade.

O Estádio de futebol do Ypiranga em Porto Velho, contou com a devoção de alma e de espírito do Paulo Saldanha, o coronel da Guarda Nacional, Presidente dessa agremiação possivelmente nos anos 20.

Peço permissão ao insigne historiador Francisco Matias para citá-lo nas frases a seguir, quando documentou para a dimensão dos fatos a solenidade de instalação do Município de Guajará-Mirim: “Nesse ambiente solene e festivo, um personagem era sobremaneira importante: o coronel Paulo Cordeiro da Cruz Saldanha, principal artífice da criação do município e gerente da poderosa empresa Guaporé Rubber Company, que representou o governador do estado Amazonas, Dr. Ephigênio Salles. No discurso de posse, o Dr. José Mendonça de Lima, afirmou que “o coronel Paulo Saldanha foi o maior e mais esforçado batalhador pela vitória da libertadora cruzada”.

Nestas terras do poente agiu e liderou um movimento para a implantação do Território Federal do Guaporé, em 1937. Só que ele, sonhador, desejava que a capital tivesse nas terras do então Mato Grosso e não nas do Amazonas, a sua sede, quimera não atendida pelo Presidente Vargas, no que acertou. O documento “nascido” em Guajará chegou ao Ditador correligionário do Aluizio Ferreira...

Nem por isso deixarei de enaltecer a liderança e as ações planejadas e executadas pelo Coronel Aluizio Ferreira para que o Território pudesse ser criado e implantado.

Na trajetória política do Coronel Saldanha, ele foi um audacioso cidadão que, enxergando adiante do seu tempo, pugnou como se diplomata fosse para que a integração Brasil/Bolívia se materializasse em cima do respeito, da solidariedade e da reciprocidade com a sociedade humana dos irmãos do País fronteiriço, daí ter recebido a maior comenda do Governo boliviano, em reconhecimento ao esforço e a sua sensibilidade integradora.

Poderia até me dispensar de esclarecer esses fatos, em face da minha proximidade com o sempre bem lembrado coronel, aqui na Pérola do Mamoré, mas calar-me representará omissão, descaso, logo, injustiça... Querendo alguns ou não, ele faz parte da história da Amazônia!

Mas a cruz que fez implantar quando entregava a primeira igreja apostólica romana aqui em Guajará-Mirim, não será a mesma cruz que alguns historiadores mais modernos (o Professor Abnael Machado de Lima pesquisador emérito, o tem distinguido nos seus registros) insistem em excluí-lo da história regional e desejam remeter ao esquecimento um dos principais nomes para a afirmação política, econômica e social destas plagas, um nome que venceu as primeiras eleições ainda em 1946 para Deputado Federal, porém manipulada por dois figurões deu a vitória ao Aluizio Ferreira. Naqueles idos já se fraudavam eleições no tempo do Guaporé...

Aliás, é uma cruz que nós, eleitores desta geração, continuamos nos tempos de Rondônia carregando até hoje...

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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