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Gente de Opinião

Paulo Saldanha

A inveja e a admiração


Na cultura católica a inveja é um dos pecados capitais. Senhor, livrai-me desse sentimento tão negativo!

Confrontando essa palavra, temos que, na comunhão do dia a dia, a admiração se traduz como estima, sentimento que valoriza a simpatia e a empatia em relação a uma pessoa.

Sócrates, não o jogador do Corinthians, mas ele, o Sábio — viveu em Atenas, entre 469 e 399 a.C.—, nos ensina: “Não te contentes em admirar as pessoas bondosas. Imite-as”. Na imitação de uma virtude é praticada uma das maiores recomendações cristãs.

Ao contrário, a inveja reflete a incapacidade de alguém carente de sentimentos elevados que vai nutrindo em relação a outrem o desejo de tornar-se-lhe igual, mas que se frustra amargamente por não chegar ao patamar do invejado que obteve, por conta dos talentos recebidos dos céus, seja no campo material, profissional, econômico ou social, as conquistas que o invejoso tanto almeja.

Conseqüência: o invejoso torna-se, via de regra,  recalcado e triste, dada a própria incompetência para atingir os limites ultrapassados pelo indivíduo alvo da sua invídia.

        —Se aquele cara tem, porque eu não posso ter?

—Por que ele possui tanto e eu nada ou pouco tenho?...

Ocorre que o tempo vai correndo e o invejoso, que acalenta o escárnio de ser limitado, despossuído de talentos, vai se corroendo na frustração, posto ser incapaz de buscar a própria felicidade, exercitando as forças interiores que poderiam impulsionar a sua grande e própria virada no rumo de uma trajetória de sucesso na busca da pretendida prosperidade...

Na “Parábola dos Talentos”, formulada por Jesus, o Homem-Deus que mudou a história do mundo, saindo de sua humildade e crucifixão vergonhosa para entronizar-se em Roma, o coração do Império que o matou, vemos que o Senhor distribuiu aos servos talentos em níveis diferentes. O importante é, de fato, usá-los bem, realizando com amor e consciência social as tarefas que lhe couberem. Seja bom no que faça e terá sucesso. Você só será cobrado pelo que recebeu.

Alguém se antecipou e cunhou a frase: “Amar é admirar com o coração, admirar é amar com o cérebro”...

Ora, nos dicionaristas encontramos a definição de que admiração “É extasiar-se diante de, experimentar sentimento de admiração em relação a...”

No filme “Amadeus”, que retratou a vida de Mozart como o músico genial que foi, surge a figura de Antônio Salieri, um músico da corte. Ambos viveram em Vienana segunda metade do século XVIII; Salieri, embora medíocre e desprovido de maiores talentos, admirava Mozart.

Salieri, interpretado com maestria pelo excelente ator F. Murray Abraham, demonstra uma inveja danada do gênio agonizando ali à sua frente e, ao mesmo tempo, deixa refletida nas suas expressões faciais a grande admiração que acalentava, desde há muito, pelo gênio imortalizado aos 36 anos de idade.

Importa dizer que a admiração e a inveja podem, como no exemplo de Salieri, caminhar lado a lado, em equilíbrio — melhor se a admiração prevalecer, se for mais forte, pois o contrário é por demais perigoso, em especial para quem se deixa possuir pelo sentimento negativo.

Contudo, embora não cultive eu a inveja como ingrediente moral, em que pese ao fato de não possuir talentos especiais que possam despertar esse sentimento pecaminoso em alguém, afirmo: Deus me livre do invejoso, Vade Retro!

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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