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Gente de Opinião

Paulo Saldanha

A Lágrima e o Sorriso



Alguém, que não sei quem é ou quem foi, deixou cravado: “Um dia a lágrima disse ao sorriso: invejo-te porque vives sempre feliz. O sorriso respondeu: engana-te, pois muitas vezes sou apenas o disfarce da tua dor”.

Há lágrimas que advém do infinito da dor, e outras repousam na alegria suprema, comoção que nos envolve quando a emoção nos surpreende!

As lágrimas que derivam da dor têm o gosto do mar e a cor plúmbea da tormenta, mas lá na fímbria azul do firmamento fica escondida uma válvula de escape em nome da sua transformação em doce saudade...

E lá nesse encontro, já no núcleo do horizonte, há uma chama que se conhece com o nome sagrado de ESPERANÇA!

Outras lágrimas nascem do amor naufragado após anos, dias e noites de um convívio tão íntegro, mas que, mercê do cansaço espiritual, fica malogrado por conta da rotina que desemboca na mesmice, a qual fossiliza, imobiliza e traumatiza.

Khalil Gibran nos ensina que “deve existir algo e estranhamente sagrado no sal: está em nossas lágrimas e no mar”...

Há lágrimas vertidas decorrentes da conquista de um bem, valor ou vitória alcançada em cima do trabalho árduo ou da dedicação mais extremada, ao fim e ao cabo de uma trajetória, sucedida pela análise de que, sim, valeu a pena, posto que as almas envolvidas não foram pequenas. Vencer foi preciso!

Nas disputas nos concentramos na lágrima como explosão de júbilo por quem nas Olimpíadas venceu mais um embate. Aí, então, é choro que não acaba mais, pelo orgulho de representar o País e o presentear com a medalha de ouro, instante em que o sorriso se confunde com as lágrimas derramadas justamente quando é entoado o Hino Nacional.

Há, na outra ponta, o sorriso malicioso, debochado, sarcástico daqueles que se acham mais inteligentes, mas não passam de apaniguados pela soberba dos dissimulados e pela infâmia dos fariseus...

O genial Charles Chaplin deixou evidenciado de que “é preciso crer no riso e nas lágrimas como antídotos contra o ódio e o terror”.

Neste instante, todavia, em que a saudade caminha de mãos dadas com a ternura, eu peço a todos que reconheçam as minhas razões e “tirem o seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor...” Nelson Cavaquinho me deu permissão para me valer da sua frase. E Victor Hugo me orientou na crença de que “o homem é forte pela razão; a mulher, invencível pela lágrima. A razão convence; a lágrima comove”.

Há ainda o misto de sensações que brotam sob a forma de sorrisos entremeados com as lágrimas que insistem em orvalhar os nossos olhos ao ouvirmos as canções que nos inspiram e nos incendeiam, ou nos despertam ou nos acalmam, porque traduzem as mais íntimas recordações ao fazermos uma regressão ao tempo da nossa mais tenra infância, e que nos remetem ao útero materno e à figura da Mãe, num instante em que ela nos ninava ou quando nos acudia nos inseguros primeiros passos como habitantes do planeta...

Lágrimas acontecem num momento de exaltação da vida em que é chegado o auge da nossa alegria, externada mediante a abertura do “vertedouro” dos olhos com a contradição do sorriso, sublime momento de comoção elevada à última potência – abalo positivo –, provocado pela reação da sensibilidade em face da maestria demonstrada ora pelo músico, ora pelo cantor da canção popular ou erudita, que enleva e arrepia, e tudo se transforma em frenesi... Porém, jamais será, como é para alguns, histeria.

E eu, desprovido de maiores talentos, notadamente para a música e poesia, ocorre-me a única habilidade que detenho: sorrir, emocionar-me, sensibilizar-me, chorar e aplaudir os talentos justamente da música, da poesia, dos esportes, da arte de representar e aqueles benfeitores da humanidade...

Para esses, eu, que me enterneci sorrindo, tantas e tantas vezes acabei me comovendo, chorando!
 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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