Domingo, 30 de março de 2014 - 05h09
Ninguém pediu, mas vou dizer: eu ainda iria fazer 18 anos e lembro que, na qualidade de Secretário Geral do CESGM (Centro Estudantil Secundarista de Guajará-Mirim) fui “cassado” pelo então Comandante da Sexta Companhia de Fronteira, ocasião em que o Centro foi fechado, mesmo porque o então Presidente, com pé e corpo na ideologia comunista, havia pronunciado, em fins de fevereiro de 1964, contundente discurso numa de nossas assembléias, em que denegria o Exército, sem que esse episódio representasse a opinião dos demais integrantes da pequena sociedade estudantil.
Já no dia primeiro de abril o Capitão Carlos Augusto Godoy fazia desfilar a tropa pelas ruas da cidade de Guajará-Mirim, e, depois, no coreto da Praça Mário Correia, afirma de forma tonitruante que a contrarrevolução estava presente neste lugar, visando a afastar das nossas perspectivas um modelo político que logo ficaria vencido pelo tempo, cujos tentáculos alguns afoitos desejavam implantar no País.
Lembro-me que a população das terras mamorenses, que tinham o Godoy (FOTO) em elevado conceito, aprovavam o ato cívico-militar celebrado no logradouro público.
Depois, um inquérito fora aberto e o Carlos Teixeira, Presidente do CESGM e o Lourival Diniz Dias foram interrogados, e, depois de algumas horas, liberados.
Eu, que jamais admitiria, por formação familiar, ter passagem alguma pela doutrina vermelha, assim como milhões de jovens daquela geração, jamais fui importunado. Mas, lamentei o fechamento do Centro Estudantil.
E fui observando, com a substituição dos dias pelos anos, em que a maturidade simboliza a sabedoria, que o Território Federal de Rondônia, passo a passo, sob o comando dos militares, ia prosperando e, de conquistas em conquistas, foi transformado em Estado.
Nesse interregno meu pai, na condição de Superintendente do Serviço de Navegação do Guaporé, Prefeito Municipal ou de administrador do Hospital Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que já se relacionara anteriormente a 31 de março de 1964 com diversos coronéis do exército, entre eles, Paulo Nunes Leal e Ênio Pinheiro, seus amigos, nas conversas nos dizia afirmando a sua inequívoca opinião sobre as virtudes morais, cívicas e gerenciais desses líderes, a quem passei a admirar e a respeitar, à distância.
Com o advento da contrarrevolução, com outros governadores militares ele, o meu pai, se ombreou como Executivo, assessorando-os, respeitando-os e enaltecendo-os em face dos mesmos predicados que observava nos homens que tiveram na mão e no cérebro a responsabilidade de conduzir os destinos das terras rondonienses, anteriormente.
O Jornalista Lúcio Albuquerque entrevistando o ex-Governador Jorge Teixeira de Oliveira logo após descer do avião
no aeroporto de Porto Velho, ao lado do Coronel Humberto da Silva Guedes
Recordo que João Carlos dos Santos Mader, João Carlos Marques Henrique Neto e Humberto da Silva Guedes marcaram as lembranças de meu pai, todos eles como gestores prudentes, sérios, obstinados, voluntariosos e competentes, a partir da forma como escolhiam seus colaboradores, em cima do quesito mérito. Administradores adiante do seu tempo!
Eu, que anos depois, já nos idos de 1980, recebi missões dadas por um intrépido militar, jamais abdicarei da excelsa honra de ter trabalhado sob as ordens do saudoso Coronel Jorge Teixeira (foto), o líder que transformei em ídolo, porque, para mim, continua sendo hors concours como chefe, amigo leal e irmão, camarada.
Paulo Saldanha ao lado do saudoso Governador Jorge Teixeira de Oliveira e sua esposa, em cerimônia pública
Os militares, além do desmedido nacionalismo, decorrente da formação profissional que os inspira e impulsiona, são idealistas (raríssimas as exceções) e, tomam suas decisões em cima do necessário e imprescindível instrumento de atitude gerencial, chamado de planejamento, fonte de inspiração das ações que se traduzem em retumbante sucesso. Em cima do planejamento o Coronel Humberto Guedes deu o primeiro start para a fundação do Estado; por conta do planejamento eficaz o coronel Jorge Teixeira implantou de forma determinada, acertada e promissora “a mais nova estrela no céu do Brasil”.
Dinâmico e audacioso plantou sementes políticas e sócio-econômicas que nem a mais desastrada gestão civil poderia acabar.
Mas, sobretudo plantou decência, realizações, competência, entusiasmo, devoção de alma e de espírito ao nosso País, razão da respeitabilidade que, até hoje, 27 anos depois da sua morte, vai desfrutando perante a sociedade que viu a maneira como ele soube dignificar-se perante a história da região que liderou.
No plano federal vimos que a escolha de ministros, quase todos civis, por parte dos Presidentes eleitos pelo Congresso, recaia em cima do elevado quilate profissional e moral dos selecionados. Pouquíssimos fatos de corrupção emergiram (um deles, no caso, um Governador do Sul foi rechaçado) e o desenvolvimento abençoava todos os pontos cardeais do País. Presidentes austeros, generais absolutamente fichas limpas, se sucediam deixando marcas de progresso e afirmação social.
Naquele tempo o INCRA, com sua ação distributiva bem socialista, entregava, sob critérios, lotes rurais, neutralizando preventivamente movimentos psicossociais fundamentalistas que temerários desejavam fazer eclodir no Sul maravilha; o BNH produzia as primeiras moradias, conjuntos residenciais populares eram implantados, dentro de conceitos urbanísticos e paisagísticos e, ainda, gerava seus impulsos no rumo da oferta de água e esgoto à população. O setor de energia pululava, fervilhava, daí a construção das hidrelétricas de Itaipu e Tucuruí (as principais), além do lançamento do Programa Nacional do Álcool (Proálcool); nessa fase ocorreu o aumento das exportações de produtos agrícolas e a indústria brasileira expandiu-se, inclusive aquelas derivadas do polo da SUFRAMA, criada em 1967.
Com propostas de relevância social foram instituídos o FGTS e o FUNRURAL, entre outros.
O governo investiu em grandes projetos (construção de estradas e hidrelétricas) e estimulou a exploração econômica da Amazônia e do Centro-Oeste, através de programas – POLAMAZÔNIA e POLOCENTRO– e a Petrobrás se agigantava, sem que Pasadena alguma, no Texas ou alhures, lhes surgisse no horizonte moral. E a ligação rodoviária (iniciada no governo Juscelino Kubistchek) avançava, no ritmo de progressão via a telefonia, que unia o país e favorecia a comunhão do nosso com os mercados do mundo. Universidades federais realizavam o sonho de alunos e de seus familiares, mediante a chance do bacharelato.
Apenas uma minoria desejou num tempo fazer uma revolução para implantar o comunismo cubano ou qualquer outra coisinha, tivesse o nome que tivesse, visando introduzir aqui no Brasil, a exemplo do que ocorreu no Caribe, a ditadura que ali se eternizou, com uma proposta que pudesse derrubar outra ditadura, a de Fulgencio Batista, mas que, sem alternância pura no poder, só favorece os mandatários de plantão (os irmãos Castro e seguidores apreciadores das delicias do capitalismo), já que é duradoura tanto quanto sanguinária, como aconteceu na URSS, quando milhões de fraternos russos foram mortos ou submetidos às mais fétidas das masmorras pelos seus irmãos na nacionalidade soviética.
É de Newton a Lei que nos ensina: “A toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade”, no campo das ideologias, logo na vertente política da vida, houve uma reação à violência da tentativa de se tomar o governo brasileiro, na marra. Em 1935 Prestes já matara irmãos de armas com esse objetivo macabro. O Governo militar, representante do povo, agiu de forma enérgica e não permitiu a transferência de comando para as mãos de guerrilheiros baderneiros, terroristas, matadores, bandidos, facínoras, enfim, para as mãos do que seria considerado como uma escória. Lamenta-se que a tortura tenha maculado em termos a trajetória dos militares no poder nacional. Mas e o derramamento de sangue, as mortes ceifadas pelos terroristas contra seus irmãos nacionais e estrangeiros no auge da luta armada?
Como admiro os governos militares, que tanto nos legara, do qual honrosamente fui integrante, como civil consciente de suas responsabilidades, posso afirmar que, naquele tempo, não haviam os Mensalões, imoralidades outras tipo Ambulância/Sanguessuga, Anões do orçamento, Abreu e Lima, a Refinaria, Rosegate, aparelhamento do Estado, o propinoduto, os vínculos do Governo com as FARCs e outros escândalos que nem seria cansativo decliná-los.
Até porque o que diferenciava os militares desse deformado poder dominante era o estilo republicano, profissional e competente como, eles os militares, gerenciavam a coisa pública com idealismo, amor ao Brasil, valendo-se do pragmatismo com ênfase no planejamento estratégico, nos planos de ação integrada e nos programas sociais abrangentes.
Naquele tempo, todavia, o estilo diferentemente de hoje, premiava a forma de planejar, organizar, controlar, coordenar e, sobretudo comandar com eficácia, eficiência e efetividade uma nação, em que as palavras de ordem eram cumpridas, em que o direito de propriedade era respeitado, vândalos eram punidos, as famílias e os professores educavam filhos e alunos, quando as soluções eram buscadas em nome da cidadania, do crescimento e do desenvolvimento sócio-econômico, quando o direito de ir e vir era assegurado, quando o mérito elevava os escolhidos para as funções públicas, quando a progressão social alcançava a todos de forma igual, mediante a oferta de cursos universitários, desde que se quisesse estudar e evoluir, porque as universidades eram implantadas para que negros, brancos, amarelos, ruivos e índios, se desejassem, pudessem chegar ao topo segundo o sonho de cada um...
Ante o triunfo da iniquidade, só posso encerrar dizendo: Que pena! Mas, que valeu o 31 de março de 1964, valeu! E, eu, ainda que estivesse sozinho, celebrarei a data.
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