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Paulo Saldanha

A Samaúma, o Casamento, a Filosofia Socrática e os Cisnes - Por Paulo Saldanha



A celebração de um casamento deve anteceder a celebração de um nascimento! Espera-se que o matrimônio tenha a duração de uma castanheira, de uma samaúma ou de uma itaúba! Jamais de uma embaúba, posto que ela pode ser levada pela ação da menor enchente, ao sentir suas águas sob suas raízes.

Um amigo muito querido e sempre lembrado defendia o casamento de forma ardorosa, e divulgava que, como instituição, deveria ser estimulado, até forçado, haja vista representar a fundação da família, estrutura pequena mas básica na universalidade social, garantidora do futuro que sempre se esperaria bem formado, distante da delinqüência de todos os seus integrantes.

E um dia, enquanto revisava um dos meus romances, me disse que Sócrates, considerado o “bam-bam-bam” da Filosofia, integrando a nossa conversa com sua ironia à parte, citou um dos seus legados: “jovens, casem-se; se acharem uma boa esposa serão felizes; caso contrário, se tornarão filósofos...”

Ri e gravei a frase, que penso ser essa aí. E ele completou:

– O Sócrates não suportou as pressões da mulher (cujo nome esqueci) porque ele não conseguia prover a casa, embora fosse um “graaaande” filósofo...

Afinal, essa ciência não paga direito as contas de um lar, principalmente naquele tempo, posso intuir.

A história nos traz que nos anos 30 do século passado surgiu em São Paulo um movimento intitulado O Movimento Integralista sob a liderança de Plínio Salgado, que resumia seu programa no seguinte ideário: ”O culto de Deus, da Pátria e da Família – a Unidade Nacional; o princípio da Ordem e da Autoridade; o prestígio do Brasil no Exterior e a Justiça Social”. Nada contra, enquanto se constituir em movimento filosófico e idealista. Até porque sem Deus na direção não há comando; sem família bem estruturada a sociedade tende a fracassar e na Pátria desunida e acéfala o povo não prosperará.

A família pode ensejar a ausência da promiscuidade e pode permitir a diminuição da paternidade/maternidade irresponsável, garantindo uma perspectiva de melhor direção na formação sociológica de uma nação - no caso, do nosso cansado e vilipendiado, mas sempre amado Brasil.

Encontraremos em Provérbios 18:22 a seguinte mensagem: “quem acha uma esposa acha o bem e alcançou a benevolência do Senhor”.

Celebrei no dia 03 de julho de 2017 quarenta e oito anos de minha união com a Olgarina. E, bem cedo, inspirado no garotinho argentino soberbo que, ao aniversariar disse ao pai que quando crescesse gostaria de ser como o genitor, para que tivesse um filho igual a ele...,  e lhe disse:

–Tenho inveja de você...

–Por que, meu amorzinho?

–É que se eu fosse uma mulher desejaria ter um marido assim como eu... Mesmo assim, me dou os parabéns por merecer uma mulher assim como você!

Os risos sobrevieram antes do abraço que jamais falta nas nossas celebrações.

E constato que passamos a representar um casal que se encaminha para as bodas de ouro. Sim, o ouro incorrosível, encontrado nos leitos de alguns rios, em estado puro na natureza, praticamente indestrutível, com cor exuberante e brilho que extasia as pupilas humanas. Entretanto, na visão dos botânicos, caminhamos no rumo de nos tornarmos o simbologia da união tipo Samaúma, planta duradoura, quase milenar; ou, pela resistência, o casal Itaúba, vez que há muito tempo deixamos para trás a vida efêmera da embaúba, cujas raízes superficiais não agüentam as intempéries, as cheias e a intensidade dos ventos. As embaúbas crescem, porém são ocadas, ainda que alimentem pássaros, macacos e a preguiça, entre outros - inclusive nós, humanos. Mineral ou vegetal, a nossa união humana é exemplo e paradigma, abençoada por filhos e netos! Graças à Deus!

Poderia ser união tipo castanheira, que vive mais de 500 anos. Não chegaremos lá! No entanto, me estimula a idéia de sermos um casal ora Samaúma, emblema da quase perenidade, ora Itaúba, desafiadora do tempo. Entrementes, nos confundindo com cisnes, no tempo que pudermos e enquanto a saúde permitir, vamos nadando em manso lago azul como no poema a seguir, de Júlio Salusse:

Os cisnes

A vida, manso lago azul algumas
Vezes, algumas vezes mar fremente,
Tem sido para nós constantemente
Um lago azul sem ondas, sem espumas,

Sobre ele, quando, desfazendo as brumas
Matinais, rompe um sol vermelho e quente,
Nós dois vagamos indolentemente,
Como dois cisnes de alvacentas plumas.

Um dia um cisne morrerá, por certo:
Quando chegar esse momento incerto,
No lago, onde talvez a água se tisne,

Que o cisne vivo, cheio de saudade,
Nunca mais cante, nem sozinho nade,
Nem nade nunca ao lado de outro cisne!

        

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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