Segunda-feira, 15 de junho de 2015 - 12h10
O Resende é funcionário público há mais de 40 anos. Nascido no rio Cautário, descende de uma família antiga de Guajará-Mirim. Desde cedo apaixonou-se pela pesca, pela caça e pela natureza, pois aos 8 anos já acompanhava o pai, gerente de seringal dos melhores, como comboieiro mirim, puxando o grupo de burros e mulas, entregando mantimentos e recolhendo as pélas de borracha produzidas nas estradas dos seringais.
Na época devida trazia barricas de castanha e quilos de poaia com o foco nos ganhos de quem se valia dessas atividades para aumentar a renda.
Nenhum pedaço lhe foi retirado pelo trabalho iniciado desde a mais tenra idade. Quando “desceu” para a cidade pôde ele estudar, ampliar os seus horizontes, passar em concurso e especializar-se na área de planejamento governamental.
Na qualidade de contador, é expert em orçamento. Hoje é assessor parlamentar.
Como disse, ele tem como hobby a pesca, inclusive a de mergulho. Suas histórias são inúmeras, muitas delas vivenciadas ao lado do fiel amigo Cláudio Feitosa.
Uma delas o Resende me repassou: trata-se da briga entre uma sucuri e um pintado. A sucuri teria uns 6 metros. E o pintado não ultrapassava os 90 centímetros.
Como se sabe, a sucuri espreita sua presa e, num átimo, a abocanha e a envolve com o seu laço macabro e fatal. Deus me livre desse abraço constritor...
O pobre pintado tem os esporões como arma de defesa. É a imitação de uma zagaia ou de um punhal com garras invertidas como se fosse parafuso, que ao perfurar um corpo a retirada é dificultada ante as saliências das nervuras que tendem a segurar o esporão no tecido onde se fixou. O ferrão dele tem um mundo de limo com bactérias, fungos e parasitas que se traduzem em alto teor de veneno que arde, dói, avermelha e faz sofrer, a exemplo do que acontece com a ferroada da arraia.
Aliás, a arraia também tem no seu esporão os mesmos princípios, daí a dor tamanha que o infeliz que se vê com a pegada dela, ampliada à lancinante dor pelo veneno introjetado.
Explicada essa situação para quem não é do ramo, mas aprecia histórias desse naipe, posso agora contar que o Resende, indo à pesca, chegou ao rio Caripuna, de água preta, cuja largura se equivale àquela do igarapé Bananeiras, este distante de Guajará-Mirim cerca de 18 km pela rodovia BR-425.
Na verdade, o “rio” Caripuna é um igarapé tributário do rio Madeira, ali próximo da usina do Jirau, rico em pescados das mais variadas espécies.
E, colocando a voadeira na água, ele e os companheiros Sales, Antônio e o índio Buriti deram início à pescaria, desejando pegar umas jatuaranas, uns surubins, pintados, etc.. Percorreu algumas centenas de metros e viu que chegava à outra margem desse pequeno rio. Aproximou-se da praia e um vulto escuro foi observado, como se estivesse enrolado.
Arrepiou-se! Era uma sucuri, enorme! Depois pôde medi-la. Tinha 6 metros e pouco.
Estava morta! E grudado à altura da cabeça da “bichona” estava o pintado, fazendo supor que na peleja travada, na sua intensidade, na veemência da desesperada luta pela sobrevivência, ele cravou um dos esporões logo abaixo da cabeça da cobra-grande (na linguagem figurada, no que seria o início do “pescoço” da fera. Mas cobra tem pescoço?).
E ambos foram encontrados mortos, mortinhos da silva. A serpente, quase um monstro, não venceu a particular guerra que inventara e morreu de morte “matada”, tragada pela ferocidade de um pequeno pintado que nasceu para desfilar garboso nos rios da América e não para entregar-se à fúria de uma sucuri, que não soube avaliar quão violento pode ser um bicho quando amarga um embate de forma desesperada para não morrer.
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