Domingo, 12 de junho de 2011 - 07h37
Nos anos 40, já depois da segunda guerra mundial, o destino premia Guajará-Mirim com a presença do médico George Moniz de Aragão Oliveira, conhecido como Óliver, um afável homem, acompanhado da cantora, instrumentista, arranjadora, poeta, compositora e apresentadora Dilú Mello, sua Mulher.
O Óliver comandou a Prefeitura de nosso Município entre 28 de outubro de 1947 e 20 de novembro de 1950, quando foi substituido por meu Pai, Paulo Saldanha Sobrinho.
Eu, menino, conheci a Dilú Mello (lembro-me dela a partir de 1957) e nutria verdadeira admiração, em face da irradiante simpatia que a envolvia. Marca de sua requintada personalidade artística e humana.
Autora de músicas do quilate de “Fiz a cama na varanda e Sapo cururu (1944)”, retornou ao Rio de Janeiro, após cumprida a missão do marido, que aqui, conforme adiantei, exerceu a elevada função de Prefeito.
Na Cidade Maravilhosa, ela, a Dilú, depois, inclusive, pontificou como apresentadora de um canal de televisão, em que enaltecia a música popular brasileira, momentos em que valorizava a regionalísmo gaúcho e nordestino. A Dilú tinha vivido, quando criança, no Rio Grande do Sul.
Lá pelos idos de 1957/1958, com saudades da terrinha, o casal retorna a Guajará; e envolvida pelos superiores motivos artísticos, ao lado de personalidades locais, alavancada pela inquetação realizadora do casal Harry Covas e Zuíla, baseados numa peça de Martins Pena, montam uma obra com ingredientes municipais. Engraçada, crítica e revolucionária. Lotou o Cine Guarany.
Nessa representação teatral, com atores e atrizes locais (Valvinda Câmara, Haroldo e Flaiza Arouca, Simão Salim e Paulo Saldanha Sobrinho e outros) obtiveram estrondoso sucesso que os conduziu para apresentações em Porto Velho e em Rio Branco, vitórias que lá se repetiram, também.
Nessa fase Dilú Mello apresentou-nos o Conjunto Farroupilha com o seu encanto e magnetismo, e brindou, através de LP’s, com a canção gaúcha “A Chimarrita”. Relembremos parte de seus versos: “A Chimarrita que eu canto/, Veio de cima da Serra/Rolando de galho em galho/Até chegar nesta terra!”.
Segundo a Wikipédia, “A chimarrita, também chamada de limpabanco, é uma dança típica do folclore gaúcho. Originária dos Açores e Ilha da Madeira, a chimarrita é uma das danças mais populares do fandango gaúcho”.
A letra e a música –de um lirismo ímpar– nasceram nas serras gaúchas; cantava a saudades e relembrava a dança de seus habitantes. Guardo essa canção no recôndito do meu cérebro. Ouvi-la, vale à pena! É ótima para quem não tem vergonha de sentir saudade...
A Maria de Lourdes Argollo Óliver, a nossa querida primeira dama naqueles idos do final dos anos 40, inicio dos 50, reconhecida nos meios artísticos como Dilú Mello, era maranhense de Viana, onde nasceu toda faceira, em 25 de setembro de 1913, para, depois se transformar em talentosíssima folclorista brasileira, compositora, cantora e instrumentista.
Muito menina passou a valorizar a música , quando aprendeu a tocar violino, com apenas cinco anos. O violão lhe chegou aos nove, através da Mãe, Dona Nenê. A professora Elizéne D’Ambrózio passou a ensinar-lhe Piano, exultando com a sua múltipla capacidade para vencer o desafio de tocar diversos instrumentos, com maestria.
A familia de Dilú Mello pôde vê-la aos 10 anos, tão novinha ainda, compondo a sua primeira página musical, uma Valsa, com o título de “Heloísa”, uma homenagem doce e sincera à irmãzinha mais nova.
O diploma lhe chegou aos 13 anos, através do Conservatório de Música de Porto Alegre, sendo-lhe outorgada a medalha de ouro, haja vista a comovente habilidade e virtuoso talento para a arte, quando era muito jovem, ainda.
Nessa fase, apresentou-se no Teatro Colon, na Argentina, e, ao lado de outra expressão precoce, o Angelito Martinez, com quem o Governo argentino, valorizando-os, os conduziu numa turnê, percorrendo o País, divulgando o oficio, a habilidade, enfim, o gênio de ambos.
No Teatro Municipal do Rio de Janeiro, foi aplaudida em cima das árias das óperas "Bohéme" e "Vida de Jesus". Com apenas 17 anos, em 1930, concluiu seus estudos de canto lírico. “Apaixonada pela música dos tropeiros do sul, abandonou à música clássica e passou a dedicar-se a música regional gaúcha e de países vizinhos”. Afirma um trabalho publicado numa edição que enaltece as “cantoras do Brasil”.
Sabe-se que Altamiro Carrilho gravou músicas de autoria da Dilú, que já agradava a sua diversificada plateia, dedilhando um acordeon, muitas vezes maior que ela própria. A midia da época a batizou como a “Rainha do Acordeon”. Legou mais de 100 músicas, algumas delas valorizadas por Fagner, Marlene, Amalia Rodrigues, Inezita Barroso, Doris Monteiro, Ademilde Fonseca, Nara Leão, Carmem Costa e Clara Nunes.
Já em 1966, mais uma vez (e desta feita, a última) pisou neste chão, revendo os amigos aqui deixados. Subiu ao Guaporé e marcou de forma agradável sua estada nestas terras. Veio acompanhar um amigo que teve problemas com a Ditadura.
Essa Guajaramirense por adoção deixou o planeta na cidade do Rio de Janeiro, em 24 de abril de 2000, para tocar outras músicas, lá no plano celestial, deleitando um comovido Jesus Cristo e seus apóstolos, com certeza.
Bem, o maridão, o Óliver, dela sentia irrenarrável orgulho e a acompanhava emocionado nas suas audições. Foi ele um dos Prefeitos que, naquele tempo, cuidava da abertura da rodovia em direção ao Iata e ao Novo Sertão; e zelava para que esta cidade tivesse suas Praças bem cuidadas e coloridas pelos diversos matizes de seus jardins.
*Membro Fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e Membro Efetivo da Academia de Letras de Rondônia-ACLER.
Fonte: Paulo Cordeiro Saldanha
*Membro Fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e Membro Efetivo da Academia de Letras de Rondônia-ACLER.
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