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Gente de Opinião

Paulo Saldanha

Abraçar e ser abraçado


Tem dia que a gente acorda e se sente, como quem chegou ou estreou, de bem com a vida, desejando apertá-la, estreitar a todos com os braços, circundando a frente e as costas das pessoas queridas, cingindo o seu dorso, como quem deseja abarcar aquele instante de eternidade, momento sublime em que se dá voz ao silêncio da emoção e vez à comoção que nos incendeia.

Tem dia em que a carência estancou de repente e bateu às portas do nosso coração desejando recolher o abraço mais apertado do amigo generoso, ou do fraterno errante, mas que nos faz bem demais, tê-los ali presentes na divagação que nos rodeia.

        Tem momentos de nossa existência em que um passado abençoado nos pega desprevenido com lembranças que elevam o nosso ego aos píncaros de uma glória efêmera, tão passageira, como a nuvem que passa tripudiando ali no horizonte tão próximo, quando um sininho suave é ouvido por conta das recordações benfazejas.

        O abraço é a expressão que os seres humanos se valem para manifestar seus sentimentos de amor, paixão, afeto, força, gratidão, proteção, reconhecimento e aplauso.

         Aliás, há bichos que dele se valem também para acarinhar e proteger.

         Dos humanos e dos outros animais, Deus me livre do abraço do Tamanduá e dos macabros apertos, constritoras pressões plenas de ferocidade das sucurís!...

         O abraço atua como a bênção maternal, acalma e reanima, será recebido como uma defesa contra os males, funciona como respaldo, ante-paro contra os fluídos negativos e acaba nos socorrendo de temporária ausência de energia espiritual.

         O abraço espraia luz e incendeia a nossa alma; em face da sua aura bem-aventurada e multicolorida, é caminho para a felicidade porque envolto em preces subliminares de estima. Tem mão dupla: “o que lhe desejo de bem é o bem que eu recolho”.

         O abraço dado com sinceridade e devoção é como o beijo ofertado, sem ânimo de trair. O Evangelho nos fala do beijo que identifica o personagem trocado por 30 moedas...

         O abraço caloroso traduz a parcela de divindade nos humanos que se inspiram no sentimento do amor para demonstrar afeto, decorrente dos laços familiares ou não, desejo de ninar, ânimo de transferir ternura, vontade de se demonstrar devoção, veneração e admiração, saudade e zelo.

         Abraço, dádiva que sintetiza a explosão de um carinho, expressão da intensidade de um sentimento. Abraço, demonstração sublime de um afeto que não se demonstra por palavras, mas pelo gesto que deseja gritar bem forte: eu te amo, eu te quero como o amor da minha vida... ou como irmão.

         O abraço bem apertado exprime o encontro, peito a peito, de um com o outro coração.

         Abraço quente, morno é abraço dado ao filho, à filha, ao neto ou à neta, à mulher amada... ao amigo que surpreendeu com a sua chegada...

         Abraço solidário ao doente, cuja perda parece inexorável, mas que se dá, durante a visita, na vã esperança de transferir a energia vital que o conduza à reabilitação, ou que se transforma, dias depois, em força dinâmica que se emite em favor da viúva, dos órfãos, dos parentes no instante da dor, da despedida cruel, fato indesejável, que não pôde ser mudado.

          Abraço, enfim de quem deseja ser sempre abraçado e que se insere no contexto das amizades como prova de lealdade e fidelidade, atributos daqueles que se descobriram como irmãos e parceiros, sem serem consanguíneos, nesta terra de Deus, Pai e Criador.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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