Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Paulo Saldanha

Achados e Perdidos


 

Achei a vida verdadeira quando busquei a Deus na sua diversidade e plenitude.

Perdi a juventude quando encontrei a sabedoria que se acha embutida nas coisas simples do cotidiano.

Achei o irmão quando abracei o amigo sincero.

Perdi a solidão quando descobri a autêntica amizade.

Achei novos matizes no amanhecer quando valorizei a natureza viva.

Perdi muitos entardeceres, os mais belos e inebriantes, quando me curvei à pressa com que buscava sobreviver.

Achei o arco-íris sempre multicolorido quando dobrei a esquina da minha sensibilidade e escancarei as janelas das nuvens.

Perdi a ingenuidade quando a competição profissional me demonstrou que subir os degraus da hierarquia significa enfrentar feras no dia-a-dia.

Achei meus mestres quando descobri que a sabedoria que os movia derivava da experiência que tentavam me repassar, preparando-me para missões futuras.

Perdi meus devaneios da juventude quando vi iniquidades e o triunfo das maledicências nos desempenhos de alguns no serviço público.

Achei, através do trabalho, toda uma aura de dignidade que o labor envolve, como perspectivas de progresso material e crescimento espiritual de um homem, concebido à imagem e semelhança de Deus, Pai e Criador.

Perdi amigos – quase sempre falsos e bajuladores – quando tive que tomar decisões duras e racionais, visando proteger-me e às empresas às quais servia.

Achei um manancial de referências positivas sob todos os aspectos quando me tornei avô.

Perdi a paciência quando observei tratamentos inadequados, desumanos e hostis contra crianças, mulheres e idosos.

Achei a felicidade quando recebia a bênção maternal como expressão maior do carinho e do afeto que resume a vontade de proteger e orientar.

Perdi o respeito por homens que jamais valorizaram a esposa e companheira leal que abençoa a vida e o lar com o seu desvelo.

Achei a consideração de meus pares quando lhes disse que ser cristão é ser solidário, é cuidar da natureza, zelando pelos seres que habitam a terra, protegendo os mananciais.

Perdi o rumo quando vi semelhantes fugindo das guerras, humilhados e vencidos, sem conseguirem comover nações inteiras e nem seus governantes egoístas pelo drama vivenciado.

Achei meu eixo como humano quando, pela prece, humildemente, pedi a Ele proteção e luz.

Perdi a noção das coisas quando verifiquei que o comércio move-se mais no interesse mercantilista exacerbado muito mais do que deveria inspirar a celebração das festas natalinas, o dia das Mães e dos Pais.

Achei o Cristo quando lhe agradeci, comovido, bastante emocionado mesmo, pela vida e pelas lições de vida com que fui premiado.

Perdi a serenidade quando tomei conhecimento do abandono por uns filhos que negligenciaram o necessário apoio aos seus pais e avós, ainda vivos; e me decepcionei com o esquecimento após morrerem deprimidos por essa omissão.

Achei numa edição musical popular ou erudita a mão do Espírito Santo a impulsionar a criatividade de um gênio.

Perdi a calma quando vi vândalos danificando prédios, lojas, obras de arte, apenas com o desejo de protestar.

Achei o meu sentido de brasilidade mais aguçado quando vi duas crianças com a mão no peito, como se novos heróis da sagrada pátria já fossem, ao entoar o Hino Nacional com entusiasmo que me revigorou a nacionalidade que achava olvidada.

Perdi completamente o respeito ao homem público que se lambuzou na lama do Mensalão, Petrolão, Eletrolão, Fundos de Pensões, etc., etc., etc...

Achei, enfim, o meu equilíbrio e o meu norte quando vislumbrei que o Brasil terá salvação, não porque estou vendo gente de perfil graúdo ser preso, mas porque já se nota que a nossa imprensa é relativamente livre e muitos dos nossos julgadores não são covardes, mas ao contrário, firmes, idealistas, lúcidos e independentes.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Crônicas Guajaramirenses - O poder do m da palma da mão

Crônicas Guajaramirenses - O poder do m da palma da mão

O M que lembra a palavra Mãe é o mesmo M que, conforme o Cantador nos ensina: é onde na palma de nossa mão principia o nome Maria.M que se une a ou

Crônicas Guajaramirenses - Olha pro céu, minha gente!

Crônicas Guajaramirenses - Olha pro céu, minha gente!

Azul, o nosso céu é sempre azul... Diz uma estrofe do Hino de Rondônia. Será?Bem antes do nosso “Sob Os Céus de Rondônia”, tentaram nos ensinar que:

Crônicas guajaramirenses - Por quê?

Crônicas guajaramirenses - Por quê?

Por quê os prédios públicos são tratados pelos homens e mulheres do meu tempo com tamanha indolência? Preguiça, ou será má vontade?Por quê o edifíc

Crônicas Guajaramirenses - As águas negras e as águas barrentas

Crônicas Guajaramirenses - As águas negras e as águas barrentas

Sempre me comovo ao observar o encontro das águas, que, no caso rondoniense, são os beijos gelados entre os rios Guaporé e Mamoré e deste com o rio

Gente de Opinião Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)