Segunda-feira, 29 de abril de 2013 - 14h42
Aqui em Guajará acontecia cada uma! Solenidades que seriam marcadas por uma liturgia severa se transformaram em gozações, ante a ausência de talento de alguém para falar em público.
Por exemplo, quando o Guajará Esporte Clube sagrou-se campeão em 1966, durante a entrega das medalhas aos campeões, alguém da mesa diretiva, dirigindo-se à platéia indaga: “Pergunto quem deseja usar o uso da palavra”?
E o Ex-Governador Paulo Nunes Leal, prestigiando o evento, sorriu discretamente.
Durante uma reunião da área diplomática em que bolivianos e brasileiros discutiam sobre o domínio da Ilha Soares, (a maior que fica entre as duas cidades no meio do rio Mamoré) alguém também da mesa principal defendia a tese de “que aquele tema seria solucionado entre o Itamarati do Brasil e o Itamarati da Bolívia”.
Quando o Luiz Gonzaga veio à cidade, a apresentação dele se deu na Praça Mário Correa. Ali, o artista nordestino cantava e cantava. Mas poucos aplaudiam, embora todos estivessem adorando a chance de ver o grande ídolo nos encantar com suas músicas. Até que o Luiz, filho de Januário, já incomodado com a frieza do público, despejou:
–Salário Mínimo, o pessoal de Guajará é tão econômico, que parece ser pão-duro, não abre a mão nem para aplaudir!
Aí o povão passou a comparecer com as palmas, mas não aprendeu a lição...
Salário-Mínimo, um dos seus músicos tocava zabumba.
Num comício pro Aluizio Ferreira um dos oradores, querendo demonstrar erudição, assim se dirigiu para o grupo enorme que formava os torcedores da agremiação dos Cutubas:
–Desejo apresentar ao nosso preclaro candidato Aluizio Ferreira, essa gente ignara, esse povo ignavo, que nem descobriu o seu porvir... E apontava na direção dos correligionários.
E os assistentes ainda aplaudiram o “desinfeliz” que os insultava com um palavrório desconhecido.
–Esse “homi fala bunito”, reconhecia o Chico Arigó, balançando a cabeça afirmativamente, olhando para as pessoas ao seu lado, comovido com a sabedoria, fluência e a eloqüência do orador, recolhendo a aprovação plena do Tião Cossaco.
Mas têm também as ações além fronteira, cujo exemplo maior vem do Estácio Lopes Gusmão, lateral dos melhores, “sarrafeiro” dos bons, que impedia, por todos os meios ao seu alcance, inclusive fazendo faltas violentas, o avanço dos atacantes adversários, por isso era temido, mas constantemente enquadrado pelos árbitros de então.
Um dia o Estácio, como integrante da seleção guajaramirense na cidade de Riberalta (era o Brasil no país irmão), eis que já chegou embriagado no Clube social e só se apresentava aos anfitriões da seguinte maneira:
—Mucho gusto, Estácio Lopes Gusmão, DA do BCA.
Na época o Banco da Borracha (El Banco de La Goma) era conhecido no Oriente boliviano como o “Banco de Crédito da Amazônia, Banco de Desarrollo, agresivo y fuerte”. Mas DA ninguém imaginava o que seria! Porém, intuíam pelo menos: DA não seria Diretor Administrativo? Não seria Defensor das Américas? Alguns ousavam questionar. Simon Bolívar poderia estar ali representado na figura intrépida de “Don Lopez Guzman”. E, como tal, foi o Estácio, entronizado na mesa diretiva dos mandatários da Agremiação, e, muito falante, assim acabou sendo conhecido como “DA del BCA”.
E as paceñas e as saltenhas eram disponibilizadas em profusão! E o nosso DA passou a ser o centro das atenções e o alvo das deferências.
E a noite chegou e o nosso bebinho também; de pileque, retornou ao hotel ante os inúmeros “saluds fondo seco” a que o obrigaram, na típica cultura etílica boliviana. No outro dia a seleção jogaria.
E ele jogou como nunca! Até parece que as paceñas foram o mote de que se valeu para atuar com maestria. Nem pareceu que havia consumido tantas garrafas de cervejas, mas toneladas de cálcio, ferro e vitaminas...
Manteve a discrição e, em nenhum momento abriu para o seleto grupo dos anfitriões que o seu DA derivava da condição de Diarista Avulso no antigo Banco de Crédito da Amazônia, mas, depois, já no BASA, instituição onde fez brilhante carreira profissional, mesmo a despeito das cervejas nacionais que ingeria, com a grandeza espiritual que sempre o envolveu, em que pese ter nos anos 80, na cidade de Humaitá, no Amazonas, dependurado as chuteiras como atleta vencedor que também soube ser.
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