Sexta-feira, 22 de junho de 2012 - 17h55
Seria querer demais! Porém, os atuais instantes do estudante João Paulo Candea Saldanha, meu neto de 6 anos, são bem diferentes dos meus tempos de antigamente.
Antes das aulas (nos recreios) e até depois delas, as disputas entre os colegas, com direito a plateia, eram através das bolinhas de gude (que chamávamos de peteca) ou do massacre de um pião sobre o outro. Às vezes, como na então permitida rinha de galo, naco de um simbolizava a vitória do outro.
Pião- "O massacre": Fazíamos uma espécie de "cabresto" no pião do vencedor e a ponta do prego afiadíssima, favorecia o estrago no pião do perdedor. Chegava a partir ao meio...
As petecas: "O torito": Semelhante a um jogo de bilhar, ou seja, três bolas pequenas colocadas a partir de um risco no chão e os oponentes, com uma bola maior, faziam o espetáculo... o vencedor era o que contava maior número de pontos...
Outros garotos se fixavam no Álbum de fotos: era comum o uso de fotos (figurinhas) de jogadores de futebol do Rio de Janeiro, para se fazer álbuns e conhecer os diversos clubes da época. Muitos conheciam Ademir de Menezes, Castilho, Pinga, Pinheiro e outros mais.
Os albuns continuam com Neymar, Ganso, Luis Fabiano, Jeferson, Loco Abreu, Herrera, Wagner Love, Fredy, etc, etc, etc.
Havia uma disputa, representada pelas jogadas, ora de um, ora do adversário, com uma plataforma de madeira, a famosa Patela, em cima de um desenho feito no chão, na tentativa de ganhar as capas das carteiras de cigarros, que alguns colecionavam com as marcas, se bem me lembro: Hollywood, Continental, Colúmbia, Macedônia,Lincoln, Aspásia, Pullman,Astória, Estoril, Luiz XV, Finesse, Mistura Fina, Lucky Strike, Derby, Malboro, Camel e Chesterfield(estes chegavam através de “la banda”,da Bolivia).
O Simão Salim pede para não esquecer as marcas Elmo, Aspirante e o feroz Paquita. Em boa hora recordado!
Almério Madeira lembra que a Patela “era um círculo feito no chão, dentro se colocava as "capas" de cigarros e a uma certa distância traçávamos uma linha de onde os oponentes começavam a batalha”...
O curioso é que jamais desejei ser fumante de nenhum dos cigarros cujas capas eu cheguei a juntar.
Outros meninos, numa menor quantidade, colecionavam selos. Aliás, eu tinha uma memorável coleção de selos, sempre alimentada pelos Padres e Freiras franceses, que guardavam os envelopes para mim. Recordo que até da África eu recebia envelopes, o que me dava um orgulho enorme mostrá-la. Exemplares de selos franceses e espanhóis enriqueciam a minha seleção.
Na minha infância empinar papagaio ou as cangulas seria um “must”! Preparávamos as unidades com talas/varetas de bambu, buriti, taquara ou ouricuri, cola e papel de seda; boa era a linha corrente, salvo engano número 10; depois fazíamos a rabiola e corríamos para a rua onde os embates aconteciam.
Realizar as manobras e fazer a arraia embicar elevava a adrenalina, nos transformava em herois ou em vaiados bandidos, se a pipa não atingisse a perfeição do movimento tentado.
Nem sabíamos dos riscos que o cerol (Mistura de cola-derretida com vidro pilado –o de magnésio, de preferência– e, ainda mais, peneirado). Outra “arma” seria uma lâmina de gilete implantada no final da rabiola da pipa que alguns embutiam.
Não recordo de algum incidente ou acidente, ainda que fossem utilizados em profusão.
Os anjos da guarda dos pipeiros nos protegia!
Hoje, é certo que jamais permitiria o uso dessas verdadeiras “armas”.
Abater o papagaio do outro refletia uma conquista ou o chôro vertido, se a nossa pipa de cada dia fosse a derrubada. E a garotada do “Movimento dos Sem Papagaios”, ficava observando, torcendo para que aqueles que estivessem cortando, ou seja, guerreando, cruzando com outras pipas, com o cerol implantado nas suas linhas ou com as giletes instaladas na rabiola da pandorga, as nossas curicas, arriassem a do adversário.
E ainda tinha a desabalada correria buscando alcançar primeiro o papagaio abatido, um verdadeiro troféu, que jamais seria reclamado pelo antigo dono da peça. Por isso muitos quintais eram invadidos...
Mas, tinha um mas: se o vitorioso dono do papagaio chegasse a resgatar o artefato em queda, preendendo-o ao seu objeto flutuante, além de aplausos, mereceria ficar com o “despojo” do adversário vencido.
Tantas palavras rebuscadas para resumir que papagaio aparado, pertencerá sempre ao “carrasco”...
Mas, jogar futebol com os pés descalços, no improvisado campo do Colégio Nossa Senhora do Calvário resumia o interesse maior da criançada. Algumas bolas, naquele tempo, vinham com um encordoamento de couro, como se fora um fecho, que as fazia correr como se estivesse meio tonta.
Havia a bola totalmente de latex, feita por algum sensivel seringueiro, que a presenteava a um pai de aluno. Todavia, o esférico industrializado já era encontrado na forma atual, sem ser colorido.
Hoje, os meninos da geração eletrônica já vêm com o DNA da cibernética e manejam celulares com a maestria que os da minha geração venciam as disputas com a bolinha de gude. Jogam, curtem aplicativos, enviam torpedos, abatem aviões e pássaros virtuais, correm em pistas numa velocidade tal, programadas pelo computador, vencendo disputas de carros imaginários, tiram fotografias e as inserem no lap top, enfim, valendo-se da parafernália disponivel pela técnica mais moderna, já não se utilizam do pião, das carteiras de cigarro, da bolinha de gude e exercitam com desenvoltura as ferramentas tecnológicas mais evoluídas...
Ficaram, contudo, ainda não sei por quanto tempo, os papagaios, os albuns de figurinhas e o jogo de futebol, como remanescentes das brincadeiras de 58 anos atrás.
As capas de cigarros e até as bolinhas de gude já perderam o seu espaço e o seu encantamento.
Ante a força do progresso e ao império da tecnologia até o pião cansado de guerra já não rodopia mais.
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