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Gente de Opinião

Paulo Saldanha

BULLYING, O NEGRITO E O TI BALANÇA


Antes de mais nada, alguém pode me ajudar? É que ando à procura do Negrito, ex-companheiro de colégio. Tudo por conta do tal Bullying...

Dizem os dicionaristas sofisticados que “Bullyings” tem porsignificado usar a superioridade física para intimidar...

A palavra bullying é derivada do verbo inglês bully. Mas o brasileiro sempre imitador do americano, sem personalidade lá muito firme, ao invés de criar uma palavra genuinamente nossa, resolveu repetir o chavão estrangeiro para justificar o real, que é sofrer violência física, psicológica ou mental a partir de outrem, adulto ou criança.

Na Wikipédia “é um termo utilizado para descrever atos de violênciafísica ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (tiranete ou valentão) ou grupo de indivíduos causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder... Nas escolas, a maioria dos atos de bullying ocorre fora da visão dos adultos e grande parte das vítimas não reage ou fala sobre a agressão sofrida”.

Meu neto já sofreu uma perseguição moral dentro do colégio onde estuda, até que se rebelou e deu uma tapa em quem o estava aterrorizando, mesmo depois dos pais e tias terem alertado a direção da escola para as atrocidades padecidas pelo meu pequeno parente. Agora é menino respeitado naquele ambiente.

No Colégio Nossa Senhora do Calvário, nos anos 50, ninguém poderia imaginar que o TI BALANÇA seria o representante desse mal, o BULLYING, cujo nome em inglês não era nosso conhecido. Nem por aquele infeliz. Apenas as pancadas físicas e morais que nos atingiam eram percebidas.

Menino perverso aprontava com os menores e até aqueles do seu tope, empurrando-os na fila, dando-lhes rasteiras, cascudos com os dedos dobrados, beliscões, socos e tapas.

Se alguém ficasse contrariado ele se armava com os punhos cerrados e sapecava:

–Achou ruim? Ti Balança...

Daí o apelido que recebera e de que tanto se orgulhava.

Hoje adulto vejo que Jean Retz está correto ao nos ensinar que "de todas as paixões, o medo é aquela que mais debilita o bom senso". Mas, em relação ao TI BALANÇA, só tínhamos uma crença: ele era do mal! Fugir dele era o que interessava, pois o TI BALANÇA simbolizava um tipo de fobia!

Quando via um menino menor, ao passar por perto, ele esticava a perna provocando, tentando chutar o outro. E nós desviávamos o trajeto para jamais esbarrar no TI BALANÇA.

Nos instantes da Ordem Unidade o Ti Balança nos dava com os dedos também dobrados um tapa na orelha ou um murro na parte posterior do pescoço, na nuca.

E cada um de nós, amedrontado, fugia da rinha daquele galinho de briga metido à besta.

E no horário do recreio quem não lhe ofertasse uma parte ou o todo da sua merenda o TI BALANÇA virava uma fera e atingia acintosamente o colega menor, ali a sua frente.

Interessante é que as freiras não viam ou parecia não desejar ver as atrocidades cometidas por aquele aprendiz de capiroto.

Até que alguém que atendia pelo apelido de NEGRITO deu uma surra nesse Ti Balança, tão ultrajante, com direito a pé no pescoço e no trazeiro, retirada de sangue pelo nariz e boca, que o tipo perdeu o abominável conceito de bom de briga que acabou, em nome do terror, espraiando.

Ficou desmoralizado como valentão de araque, cabendo a inversão de atitude, passando a ser vaiado por todos os menores que se sentiram vingados pela surra imposta pelo NEGRITO, para ele de triste e enfadonha recordação.

–E aí, TI BALANÇA, TI BALANÇA - provocávamos nós, os antes amedrontados e já agora neo apadrinhados do Negrito...

 -Vamos, TI BALANÇA, nojento! - reproduzíamos quase em coro.

E o TI BALANÇA engolia seco, pois só nos atrevíamos a desafiá-lo quando o NEGRITO estava por perto.

"O medo é o pai da crença"! - já racionalizava o soberano literato Olavo Bilac.

Agora vou alimentando um desejo, minha nova crença: deixar o TI BALANÇA, se ainda estiver vivo, envelhecer mais um pouco, para eu ir enfrentá-lo e partir para cima dele, praticando o Bullying que ele insistia em exercitar com os menores de estatura abaixo ou igual a sua, lá nos tempos idos de primário.

Mas espero que o fantasma do NEGRITO, para minha segurança pessoal, apareça para atormentá-lo, no instante em que eu, com as vestimentas de centurião, com escudo e espada adequados, estiver me preparando para lhe dar umas bordoadas.

Caro amigo NEGRITO, veja se pode aparecer... Só vou precisar da sua força... moral, física ou espiritual.

Não é por medo, não, Negrito! É pavor, mesmo, pavor do TI BALANÇA.

Afinal, meu neto João Paulo é bem mais valente que o avô!

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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