Sexta-feira, 21 de agosto de 2015 - 07h51
Raposão, um sujeito alto, musculoso, moreno, poderia ser o sonho de consumo das mulheres mal amadas do pedaço. Poderia ser, não: ele era!
Conquistara a benquerença de Gertrudes, até bem pouco tempo antes pudica mulher, maltratada esposa de Juvelino, seringalista de médio porte nas cabeceiras do Rio Ouro Fino, bacia do Guaporé, lugar onde passava boa parte do ano envolvido na produção gumífera e na coleta da castanha e da ipecacuanha.
Raposão, habilidoso nas artes do amor, sabia tocar a sensibilidade de uma mulher e levá-la ao Nirvana em onze minutos, se muito.
Gertrudes a ele sucumbira porque seu marido não a elevava como mulher aos píncaros do prazer carnal. Jamais conhecera as emoções como aquelas que Raposão lhe prodigalizou na primeira lapada... e nas subseqüentes. E ela sonhava com os repetecos...
Em razão dessa fecunda experiência que representou um encantamento sublimado, passou a perseguir o autor da façanha, quase que o constrangendo.
–Cuidado, Raposão. O marido da Gertrudes chegou lá do Ouro Fino e foi avisado de que você anda visitando a casa da mulher, após pular o muro.
–Mas quem teve a coragem de levantar uma maluquice dessa? Mulher casada para mim é homem, e além de homem será meu compadre...
Ocorre que Raposão passou a evitar o assédio já descarado de Gertrudes e foi-lhe “sonegando” doses de carinho, fechando a boca para os beijos e escasseando seus fungados no pescoço daquela já considerada desfrutável.
Até que um dia Juvelino encontrou-se no porto da cidade com Raposão e o olhou com intensidade, sem ternura e com interrogações, além dos chifres na cabeça.
E passou a falar em alto e bom som que na quinta-feira, já no dia 20 próximo, partiria em viagem de volta ao seu seringal.
Um plano macabro ele projetava. Algum incauto poderia até acreditar nessa suposta viagem. Para um observador da vida do lugar, nenhum retorno após o fabrico se daria com tamanha rapidez.
Todavia, “cautela e caldo de galinha, que não fazem mal a ninguém” foi provérbio esquecido por Gertrudes que, ao preparar a mala para a viagem do marido, começou a introjetar o plano, audacioso planejamento, para ter Raposão novamente sobre os seus lençóis.
E foi correndo para a casa de Magnólia, fiel amiga de infância e alcoviteira daquele amor clandestino, para telefonar para o amado e amante.
–Sabe, amor, aquele verme viaja de volta ao nosso seringal já no dia 20. Nessa noite eu o espero lá em casa. Você não vai faltar, né? Estou com saudades...
–Não vai dar não, querida. Seu marido anda desconfiado, e quando me encontrou lá no porto me olhou de um jeito que me inquietou. Olhar de matador...
–Mas, amor, ele quando sai só volta meses depois. E eu quero você logo, já não suporto mais esse afastamento...
–Vamos ter juízo, amor! Não vou lá na sua casa, procure entender o meu lado...
–Ah! Você enjoou de mim. Está me tratando como trata as outras. E eu que arrisco tudo para ficar junto de você...
–Bem, no dia 20 não vou. Irei no mesmo horário no dia 21, por questão de segurança. Mas vai ter que ser do meu jeito.
–Como assim?
–É que eu tenho uma tara: transar igual a touro e vaca.
–Eita, como assim?
–Ora, o touro não cheira lá atrás o órgão da vaca? E depois que ela urina, não olha para o céu?
Acontece que Gertrudes nem discutiu o método, o novo jeito pelo amante encaminhado.
E no dia assinalado Raposão pulou o muro e adentrou na residência de Juvelino para se encontrar com Gertrudes. E se abraçaram e se beijaram com desespero e avidez. E ela, ingênua, mas carente, ficou de cócoras e fez xixi, falando em seguida:
–Amor, eu já urinei!
Raposão chegou mais perto, e igual ao touro, aspirou o cheiro, olhando em seguida para o forro do teto. Nesse instante assustou-se, surpreendido pelo cano do revólver 45 engatilhado, apontado de cima para baixo, na furiosa mão de Juvelino. E respondeu à Gertrudes:
–Querida, se você olhar para cima, aí sim, vai se borrar toda!...
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