Sábado, 6 de novembro de 2010 - 11h52
Paulo Cordeiro Saldanha*
Hoje vou deixar minha alma voar mais alto, lá para as bandas do infinito, onde um dia haverei de fazer minha nova morada.
Não sei se vou de trem, avião, barco ou nas asas da minha imaginação. Talvez me agarre na cintura do vento e numa desabalada carreira antecipe a hora da chegada e transforme em verdade as muitas ilusões que gerencio, cedo, durante o dia, seja nas escaldantes manhãs de inverno ou nas noites frias de verão.
Ou será nas enluaradas madrugadas de Primavera?
Vou olhando o céu azulado e busco na imensidão do horizonte um pássaro capaz de dialogar com os meus botões. Porém, imagino que, na incessante busca de alimento, ração jamais negada pelo Criador, nenhum deles deseja me oferecer a chance de uma conversação.
Acabei me decidindo: vou num veleiro, o que me credencia a buscar primeiro um encontro para lá de inusitado, ou seja, um encontro comigo mesmo, que me possa harmonizar com os meus sentimentos, já que a minha viagem, se não é pelo ar, não importa se o céu esteja plúmbeo, “sarcástico” ou se é de brigadeiro. O que importa é o aconchego que tento descobrir em mim mesmo, nestes instantes de questionamentos.
Como navegante, o meu veleiro me levará a um destino certo, rio acima, será como se, ao invés de caudaloso rio, “manso lago, sem ondas e sem espumas”, me suavizará o percurso fluvial, ainda no alvorecer, ao romper do sol vermelho e quente, como diria o poeta, rumo aos braços da paz, que busco para apaziguar esse pobre e nem tanto velho coração.
E na cadência do veleiro vou repassando a minha trajetória, fazendo repousar meus sonhos, anseios e buscas, que carrego, respaldando-os nas conquistas auferidas, a partir das experiências positivas e daquelas derivadas das quimeras naufragadas, que se vão cicatrizando pelo tempo, acionista minoritário das horas, dias, semanas, meses e dos anos.
Voa, Voa minha liberdade na velocidade do veleiro. No primeiro porto seguro, darei o sinal, desejando parar; tudo porque lá, certamente, também, serei amigo do Rei... É preciso andar sozinho, aspirar o ar, fazer exercícios e, enquanto isso valer-me de um momento para a introspecção, manejando-a, transformando-a em instrumento de reavaliação de condutas, ações e reações.
Meditar é preciso!
E depois, energizado reembarcar no veleiro e seguir adiante, vencendo os trechos e os desafios, contatando outras pessoas, admirando outros cenários, novos “anoiteceres e lindos amanheceres”... Jorge Luis Borges deve ter ficado revoltado por essa invasão em que ouso copiar pequena parte de um dos seus textos!
E nas noites escuras subir no teto do veleiro e ficar contando os astros, verificando se o Cruzeiro do Sul não migrou para o Norte, cismado com a resoluta trajetória do Satélite artificial que parece mover-se, qual estrela cadente, que se entrega no espaço sideral, morrendo. Mas o Satélite ainda “se moverá por inércia” por muito tempo...
Assim como as estrelas temos começo, meio e fim. Nossa permanência no Planeta é perene e eterna como os amores nascidos durante a paixão irrefreável, que vivifica enquanto não se esvai nas frustrações, acalentado nas mútuas decepções, nos cansaços, nas palavras mal empregadas, na ausência de ternura ou na descoberta de novos amores.
Voa minha liberdade, voa, mas, me deixe quieto num dos barrancos da vida, pois nesta viagem desejo abraçar o sol e me deixar seduzir pelas sereias, acariciar de forma voluptuosa o seio da chuva e, com ela, rolar no chão da terra úmida e dadivosa. Até parece que ela está no cio...
Tudo isso enquanto há tempo...
E nessas milhas percorridas confirmei alguns princípios que me foram anteriormente revelados, mas que não os reconhecia como verdade verdadeira dos mais velhos, inclusive pelo Padre Antônio Tomaz, grande Poeta, que um dia nos legou: “Quando partimos no verdor dos anos. Da vida pela estrada florescente, As esperanças vão conosco à frente, E vão ficando atrás os desenganos. Rindo e cantando, célebres, ufanos, Vamos marchando descuidosamente; Eis que chega a velhice, de repente, Desfazendo ilusões, matando enganos. Então, nós enxergamos claramente como a existência é rápida e falaz, E vemos que sucede, exatamente, O contrário dos tempos de rapaz:– Os desenganos vão conosco à frente, E as esperanças vão ficando atrás.”
*Membro Fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e Membro Efetivo da Academia de Letras de Rondônia-ACLER
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