Quinta-feira, 31 de agosto de 2023 - 10h11
Está difícil de
entender! o nosso Ademar, sem se despedir viajou,
deixando-nos incrédulos, indefesos, abandonados
e desprotegidos, tudo
porque a amizade que dele recebíamos nos
transformava em pessoas bem
fortes!
Desde há muito faz
parte da história rondoniense seja porque foi
eficiente colaborador do INCRA, servindo em
Guajará-Mirim, Ouro Preto e
Cacoal (até em Rolim de Moura foi parar),
agenciando o progresso e
distribuindo desenvolvimento social e humano.
Implantou, sob as
ordens do Assis Canuto, o PIC-Ouro Preto, nos seus
primórdios, concorrendo para que se
transformasse no pujante município de
hoje.
Em Guajará-Mirim urgenciou a
integração com os parceleiros chegantes e não afastou os nativos, muitos dos
quais passaram a ser possuidores de terras.
Sem perder a ternura,
assessorou o José de Abreu Bianco na Prefeitura
de Ji-Paraná e, no governo Bianco, a nível
estadual, foi importante agente na
Secretaria da Fazenda, sob as ordens do
Arnaldo, irmão do então governador.
Na administração
Osvaldo Piana também ofereceu a sua inteligência,
talento e experiência, sob a batuta do então
Secretário Bader Massud Badra,
com quem já trabalhara na Prefeitura de Guajará-Mirim.
Líder nato, recebia em
sua casa gente de todos os pensamentos,
ideologias, matizes e vertentes, pois era um
conciliador.
Afável, emérito
gozador, ao contar uma tragédia fazia os seus
interlocutores se acabar no riso, aquele riso
que abranda e cura “os males que
nesta terra se padece”.
Neste dia 30 de agosto
de 2023, se ficamos mais pobres, com a viagem
desse espírito intenso! Todavia, o céu ficou
mais energizado, pleno da sua inteligência e sabedoria e, num espaço bastante iluminado
chegou de mansinho, sem querer aparecer e deve ter iniciado um papo com os
inquilinos mais antigos, proseando naquele estilo único, palpitando, aqui e
acolá, abrindo espaços na conservadora corte celestial.
E
São Pedro, barbudão, abriu um sorriso posto ter recebido um espírito que sabia
valorizar a caipirinha e a caipiroska, uma devoção do edificador da Igreja do Cristo.
O seu casamento com a
Maria Lúcia Paes, minha prima, neta da
matriarca Cirila Paes, foi a síntese do amor
verdadeiro que uniu um
matogrossense a uma guaporense na cidade em que
seu pai Benedito Salles,
o virtuoso comandante dos maiores barcos da
Empresa de Navegação do
Guaporé tanto brilhou, quando viveu nesta
fronteira entre os anos 1930 e 1940.
Quando conheci o
Benedito Salles, seu pai, ele era o cartorário de registros na comarca de Barra
do Bugres-MT. E me acolheu num domingo, mesmo sendo seu direito ao descanso. Lá
em Cuiabá conheci seus outros irmãos e irmãs, um deles professor universitário,
o outro procurador do estado.
Mas, voltando ao Ademar
acho difícil esquecer um homem da sua
envergadura. Deveria ser nome de praça ou de
rua
Mesmo se tivesse
condições eu não iria ao seu sepultamento. Prefiro
lembrar dele, fazendo suas blagues sobre a
minha figura, bebendo a caipiroska
e saboreando uma carne, tão competentemente
elaboradas pelo seu neto, que
mandara preparar para celebrar uma das últimas
visitas que lhe fiz.
Ele era caloroso, às
vezes emocional na acolhida. Nas conversas sérias
se transformava num filosófico conselheiro e
amadurecido mentor. Afinal, tinha
cultura e vivências muitas para orientar,
guiar, encaminhar direções corretas.
Caro Ademar, não se
preocupe conosco, que ficamos, desde já, curtindo
uma saudade doida de lascar por mais empedernido, por mais duro que seja o coração de
alguém.
Sem você tudo fica mais
difícil! Mas, com você, um dos grandes guerreiros com quem me irmanei, todos
sabemos que estará nos acalentando com suas bênçãos daí de cima e, com o seu legado,
haveremos de vencer...
Como você, Ademar,
viajou, sem se despedir permita-me lhe dizer, bem
ao gosto do que se escuta nesta fronteira,
quando alguém da nossa estima,
que, assim como você cativou tanto amor e
benquerência, tanta estima,
simpatia e apreço, neste seu trânsito pelo
planeta: “que te vaya bien”, querido
irmão!
– que te
vaya bien, querido irmão! e que descanses em paz!
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