Segunda-feira, 5 de abril de 2010 - 19h26
Paulo Cordeiro Saldanha (*)
O Fuad, filho do senhor Abdon Melhem Bouchabki encontra-se aqui na sua cidade. No seu berço, onde está curtindo as doces lembranças de sua infância, de sua juventude e da sua maturidade. Hoje ele e a família vivem em Vitória, no Espírito Santo.
Ele, que estudou no Colégio Mackenzie, em São Paulo e no Instituto Gammon lá de Lavras, em Minas Gerais, está, como se diz, “matando as saudades da terrinha” de tão boas recordações para ele, um talentoso carnavalesco, que se transformava num excelente jogador de Futebol e de Basquete, na juventude.
Aqui, foi empresário e representou os Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul; trabalhou com o Tio Toufic Melhem, na firma que seu pai Abdon montou; depois, tornou-se carismático Representante de Indústrias Sulistas. Nasceu em seguida um industrial quando implantou o famoso Guaraná Parecis, vendido e transferido para a dinâmica, inteligente e vitoriosa empresária Anely Câmara Badra.
Casou-se com a Norma Rivoredo, filha de uma das maiores referências como pessoa, homem público e empresário do ramo da borracha, o sempre tão bem lembrado João Freire de Rivoredo, de fino trato, afável, simpático e exímio dançarino de boleros, valsas e outros ritmos, que o faziam desfilar nas pistas de dança no tempo em que Guajará-Mirim tinha seus clubes sociais, vibrantes e competitivos, entre si.
O “seu” Rivoredo foi um exemplo vívido de pessoa que venceu na vida, a partir da superação, do ultrapassar dos obstáculos, do aproveitamento das oportunidades, que ele jamais deixou passar. Quando bem moço, ainda em Belém, capital do Pará, conduzia os animais que puxavam os bondes de então.
Um dia resolveu dar um basta e rumou em direção a estas “bandas”. Empregou-se num estabelecimento assim que aportou em Porto Velho. Mas desviou o seu foco para a possibilidade de um emprego na iniciante Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, onde se apresentou como especialista em Despacho e Desembaraço de Mercadorias, ainda que estivesse blefando posto que jamais trabalhara nessa atividade.
Humilde, mas preocupado, já que fora imediatamente aceito para a vaga, albergou-se na proteção de um amigo, recém conquistado, que o preparou para a missão e, ato continuo, lhe substituía na elaboração do necessário e imprescindível relatório diário sobre os encargos a si atribuídos. À noite, deslizavam nas pistas de danças portovelhenses com suas partners ou faziam da boemia um hino de louvor a boa música..
Até que passou a dominar com galhardia os tais serviços, sem que a Chefia tenha descoberto a sua total inexperiência para cumprir a contento as obrigações decorrentes do trabalho. Condição previamente exigida quando da entrevista para o emprego. Mas ele era assim: intrépido, audacioso e... muito simpático.
Lá pelas tantas soube da presença do então Coronel Rondon que caminhava no vale do Guaporé. Pediu as contas e se apresentou ao grande líder, desejando fazer parte da sua briosa equipe.
O certo é que aprendeu o Alfabeto Morse, tornou-se telegrafista e homem de confiança do Rondon. Logo foi promovido a Cabo.
O Militar, certa feita, deu-lhe uma missão: localizar e prender um marginal que invadira uma casa de ribeirinho e seviciou todas as mulheres de uma família, após matar os homens. Ordens severíssimas e radicais!
Missão cumprida a contento: o homem, aquela besta-fera, após resistir, já ferido entregou-se, não sem antes fazer o seu último pedido: fumar um cigarro de palha. Desejo atendido. Ele, moribundo, “fumaçou” o trabuco de palha e entregou um alforge cheio de papelim e tabaco para um dos seus “justiceiros” “como lembrança, posto que para onde iria não precisaria daquilo”. Afinal, “suicidara-se” como um passarinho!
Os detalhes de como a alma do indigitado fora encomendada aos demônios não sei como teriam sido repassados para o sempre tão Cândido Rondon...
Num dos destacamentos houve um Levante e o Cabo Rivoredo, bem armado, vestindo uma camiseta sem mangas, acabou apaziguando os baderneiros. Mas foi chamado a ordem pelo Coronel, seu Chefe, pois não vestia naquela hora, o uniforme com mangas compridas, exigido pela Corporação avançada na Floresta. Em razão desse episódio jamais deixou de usar camisa com mangas compridas, a partir de então.
O líder militar apreciava a desenvoltura do seu subordinado, até que lhe dirigiu um “baita” elogio (mas seria mesmo elogio?) por sua devotada atuação. O termo tenacidade, exposto no Boletim, causou-lhe ligeira aflição. Consultando o Chefe recolheu a recomendação para que se valesse de um dicionário. Viu que realmente tinha sido elogiado.
O conhecimento de todo o Vale do Guaporé despertou no cidadão Rivoredo o desejo de se tornar empresário da atividade gumífera. Nasceu o seringalista Rivoredo. Transformou-se num dos líderes da produção de borracha no município de Guajará-Mirim,
A essas alturas já estava casado com Dona Dulcina Freire de Rivoredo, a Dona Nazinha, uma Paraense de fé, excelente companheira, esposa e Mãe de família.
Dessa união Nilton, Neusa, Nelson, Nélio, Norma, Nedilza e Nilzene deram a cor da felicidade e grande alegria ao casal. Todos iniciados com a letra “N”.
Nesse abençoado clã o Fuad buscou a sua metade, a Norma, e brindou a sociedade brasileira com uma família linda, descendente de dois pioneiros do Município, o Senhor Abdon Melhem e João Freire de Rivoredo, dando continuidade a uma história tão rica iniciada lá atrás por dois casais que tanto ajudaram a edificar o futuro que hoje vivenciamos.
Há um provérbio Chinês que nos diz: "Todas as flores do futuro estão nas sementes de hoje...”
O Fuad Bouchabki e a Norma Rivoredo Bouchabki são, pois, uma parcela dessa tradução, tão eloqüente e tão viva, sintetizados no presente venturoso, através dos filhos que lhes enriqueceram a existência e dos netinhos, a significação maior de que Deus está assegurando um futuro fulgurante para eles, e para a geração que eles representam, na dimensão da trajetória de vida plantada por seus Avós.
(*) Membro Fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e Membro efetivo da Academia de Letras de Rondônia-ACLER.
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