CRÔNICAS GUAJARAMIRENSES NO III ENCONTRO DE ESCRITORES EM G.MIRIM

 

NO III ENCONTRO DE ESCRITORES CECILIA MEIRELES, PADRE ANTÔNIO TOMAZ, CATULO DA PAIXÃO CEARENSE, DRUMOND, LULU SANTOS, ETC VISITARAM GUAJARÁ-MIRIM 

Paulo Cordeiro Saldanha(*)

“Aprendi com as primaveras a me deixar cortar para poder voltar sempre inteira”. Com a citação de Cecília Meireles, o Acadêmico William Martins, da Academia de Letras de Rondônia, a ACLER, concluiu a sua palestra versando sobre a valorização da mulher, em cima do seu respeito e da sua sensibilidade que se sobressaem na visão que ele, o William Martins, tem sobre as mulheres. 

Essa foi uma das palestras que o público presente na Câmara Municipal de Guajará-Mirim pôde se deliciar e aplaudir. 

É que aconteceu na Pérola do Mamoré, o III Encontro de Escritores de Rondônia, Promoção da ACLER – Academia de Letras de Rondônia e realização da AGL – Academia Guajaramirense de Letras, nos dias 12 e 13 corrente, no Plenário da Câmara de Vereadores, com participação efetiva de membros das Academias de Letras de Vilhena, Cacoal e Ji-Paraná e de escritores e poetas da vizinha cidade de Guayaramerin. O evento foi ainda prestigiado pelo escritor amazonense César Albuquerque, que atualmente reside no Rio de Janeiro. Os resultados foram os melhores! 

Com efeito, não faltaram elogios ao desempenho dos palestrantes, dos artistas e poetas que enriqueceram o evento com suas notáveis performances. 

Com o Tema “Rondon no Vale do Guaporé”, o Escritor e Poeta Matias Mendes, que também é historiador, nos apresentou, com a sua erudição já conhecida e com o bom humor que exercita, a um Cândido Rondon, nem tão cândido assim, quando a sua obstinação o levou a liderar as missões recolhidas e atravessou este País, aportando no Guaporé por três vezes: em 1906, 1919 e em 1930, seja trazendo a comunicação que nos retirava do isolamento, seja provendo a demarcação destas terras lindeiras. O Matias abriu com chave de ouro o ciclo das palestras! 



O Evângelo Vassilakis, um refinado músico, descendente de uma das famílias mais antigas da região, conseguiu transmitir a sua emoção a uma platéia que, entre outras músicas, viajou nas asas de “Yesterday” dos Beatles. 

A escritora e poetisa guayaramirense Gaby Cuéllar, Vice-Presidente do Palácio de la Cultura y Notables del Beni nos encantou com a sua acurada técnica e expressão artística brindando-nos com um belíssimo poema do repertório “costumbrista” (regional). 

O Advogado Simão Salim, de forma magistral, a todos comoveu com Cruz e Souza, Padre Antônio Tomaz e Catulo da Paixão Cearense, este último autor da famosíssima “A Flor do Maracujá”, poema épico que nos remete ao Cristo, que o artista Simão desenhou com excelsa arte no instante em que declamou a poesia. 

Já por conta da agenda do sábado, dia 13 o Acadêmico Julio César Yriarte Solíz, pôde instruir os Escritores e Universitários, com a fecunda palestra que versou sobre “Dispositivos Legais do Direito Autoral no Brasil”, demonstrando ser um intelectual das ciências Jurídicas, ante a superior qualidade da sua apresentação, fluente e eloqüente sob todos os aspectos. 

Na vertente musical o Tane Melhem, “embriagou” a todos os presentes com emoção pura, uma vez que, talentoso que é, presenteou-nos com uma rica interpretação -em português e espanhol- numa voz impecável, afinada e repertório muito bem escolhido. 

Depois, a Professora Maria Cristina Victorino de França, Doutora, do Corpo Docente da UNIR e Acadêmica da Academia Guajaramirense de Letras, detentora de rara inteligência, perspicácia e sabedoria, discorreu, do alto do seu conhecimento, sobre a “Academia e a Reforma Ortográfica”, segurando a atenção de todo o grupo de mais de 70 pessoas, haja vista a forma bem fundamentada da sua palestra, recheada de citações que, inclusive, trouxeram para o plenário a figura terna do Carlos DrumMond de Andrade. 

Finalizando os trabalhos matutinos, o escritor Juan Carlos Crespo de Guayaramerin-Bolívia, proferiu a palestra “Herencia del Tupi-Guarani na Linguagem Amazônica”, tema que despertou profundo interesse na atenta platéia. De tão bem apresentado este trabalho, o público conseguiu compreender a mensagem, mesmo em castelhano, não sendo necessário, ao palestrante, recorrer ao seu “portunhol”. 



Na parte da tarde, o William Martins, com disse no intróito, homenageou as mulheres, no bem fundamentado discurso, merecendo, a exemplo de todos, os aplausos pela forma competente, lúcida e poética como se desincumbiu da missão. 

Em seguida, os Acadêmicos discutiram os temas de sua esfera em que se trataram sobre os “Livros E os Escritores como agenciadores das transformações”, temas esses que fundamentaram a “Carta de Guajará”, uma síntese de sugestões, que poderão se transmudar em ações concretas, que possam viabilizar melhores alternativas para a Cultura e para a Literatura no Estado. 

Juan Carlos Crespo Avaroma, um intelectual que vale a pena escutar, no momento da “Tribuna Livre”, surpreendeu-nos com outra faceta artística. É cantor e dos melhores! Mesmo rouco, apresentou uma bela canção do repertório latinoamericano, canção de protesto com temática social, que calou profundamente na seleta assistência, (enriquecida pelos intelectuais de Guayaramerin, por universitários e Professores da UNIR, entre outros), que, comovida, o ouviu e aplaudiu. 

Novamente artistas locais, nas pessoas do Rick Badra e Ricardo Bártholo deram um show de músicas, na linha popular brasileira, demonstrando que estão aptos para representar a terra que lhes serviu de berço, no cenário artístico regional e nacional. Enquanto executavam suas canções acabei “viajando num sonho” onde os via e ao Tane Melhem, junto com outros, tocando e cantando numa das principais redes de televisão do País. E por quê, não? 

À pedido, o Julio Yriarte interpretou com alma e com o sentimento de artista de vanguarda, “O Mediterrâneo” do compositor espanhol Juan Manuel Serrat, uma linda canção em que retrata a vida e a morte, abençoa a luta e sublima a mulher. 

Guajará-Mirim jamais será a mesma! Um Sarau já está em gestação para abril, com promoção da AGL, a Academia Guajaramirense de Letras, a nova parceira dos destinos culturais do Município, sempre ao lado dos homens e mulheres desta geração, que acreditam que vencer desafios é sempre possível, se exercitarmos a humildade e a perseverança, com foco no passado que vai alimentando o nosso futuro.

(*) Membro da Academia Guajaramirense de Letras e da Academia de Letras de Rondônia