Sexta-feira, 15 de janeiro de 2010 - 09h22
Paulo Cordeiro Saldanha
Final do século 20, nas ruas, nas madrugadas o violão e o cantador silenciaram!
Na visão de Mario Quintana, “o luar é a luz do sol que está sonhando”; porém, a meu ver, fica, hoje, aguardando que os seresteiros tenham a sensibilidade para redescobrir a emoção do som retirado das cordas de um pinho numa noite de lua cheia.
O astro principal naqueles momentos era o cantador! Ao seu lado os últimos românticos se concentravam na letra e na música, quase sempre um bolero (ou um samba-canção) que narrava uma história de amor, com começo, meio e fim...
“Lá no alto a lua esquiva”, dependendo do tema que vinha à luz no dedilhar e na voz do violeiro, ficava meio encabulada, comovida e, certamente, as lágrimas furtivas derramadas aqui na terra pelos seresteiros, ébrios do momento, representavam a síntese da mesma emoção que ela recolhia lá em cima, e, por conta desse sentimento que lhe chegava através da canção, é possível que ela se comovia também, já que –dizem– era e é apaixonada pelo astro rei.
Mas quase não se encontram!
Os seresteiros possuem a alma de poeta! São românticos apaixonados pela vida e pela vontade de amar. Amam a vida, idolatram recordar os amores, as paixões da juventude, as recordações que traduzem saudades! E a música, essa representação da arte divina, os aproxima mais de Deus.
Esse mesmo Mário Quintana, que nos fala do luar, nos remete a instigante frase de que “o passado não reconhece o seu lugar: está sempre no presente”. Com efeito, sob o nome de saudade, ele se fixa nos nossos sentimentos, marcando uma presença tão forte que nos traz as doces lembranças do encantamento que representava fazer serenatas.
Eu as fiz num número razoável, “curtindo”, saboreando cada momento!
Fiz, não! Delas participei, posto não ter sido abençoado com o talento para ter afinação. Meu grupo era constituído pelo Rubens Pinheiro, José Maia, Lourival Diniz, Paulo Cruz Rodrigues, Hamilton Nogueira Cavalcante, Antônio Nogueira, Almério Madeira, Nelson Casara, Nébio Casara, Delny Cavalcante, Fernando Ribeiro dos Santos e José Oceano.
Caminhávamos pelas ruas da cidade, notadamente nas madrugadas de sexta para sábado, escoltando uma garrafa de batida de maracujá e garantindo a integridade física do violão, a outra estrela do séquito.
E a noite findava nos vendo ingressar na madrugada ligeiramente sóbrios, mas felizes com o entusiasmo que as melodias iam provocando certamente muito mais nos cantadores ali representados do que nos pais das meninas nossas amiguinhas, ou, eventualmente, das namorados de alguns, que iam despertando, a partir dos sons das músicas, já que os genitores ficavam preocupados com o horário de trabalho do dia seguinte, embora sábado, dia não útil para quem, como eu, era profissional de banco.
E quando a “friagem” nos surpreendia, aquele mesmo luar se tornava ainda “mais cândido”, eis que o soprar do vento e a neblina fina a cair, se nos molhavam o corpo nos aqueciam a alma, ante a beleza que vislumbrávamos: o filtro do luar atravessando as partículas da chuva fina e que se refletia nas poças d’água que iam surgindo.
E, como se estivéssemos numa procissão, íamos cumprindo o nosso ritual, de casa em casa, segundo o cerimonial previsto, até que o cansaço nos recomendasse o caminho de casa.
No dia seguinte, já montados na bicicleta, ou nas famosas Vespa ou Lambretta, íamos recebendo o “muito obrigado” das amiguinhas pela homenagem prestada, quando as músicas solicitadas foram cantadas, ora num “português meio ruim”, ora num castelhano duvidoso, mas que atendia plenamente ao exigente gosto musical de nossa geração.
Também, por outro lado, recebíamos as recriminações daquelas meninas informadas da ação do grupo musical acontecido horas antes, mas que, por falta de tempo, não pudéramos visitar. Algumas até simulavam um “Tô de mal”, até que uma serenata especialmente ensaiada pudesse acontecer como a exclusividade imprescindível, necessária e reparadora.
E todas elas, as amiguinhas daquela rica geração mereciam o nosso devotado afeto, em função da beleza, da graça e da sensibilidade que nutriam os seus sentimentos tão elevados, o que sempre valeu à pena, porque as suas almas jamais foram pequenas...
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