Quarta-feira, 22 de setembro de 2010 - 20h47
Paulo Cordeiro Saldanha*
“Como a ave que volta ao ninho antigo
Depois de um longo e tenebroso inverno,
Eu quis também rever o lar paterno,
O meu primeiro e virginal abrigo”. **
** Luiz Guimarães Jr.
“Entrei. Um gênio carinhoso e amigo, o fantasma talvez do amor materno, tomou-me as mãos, olhou-me grave e terno, e, passo a passo, caminhou comigo”...**
Em frente da Praça Mário Correa, o meu lugar santificado. Meu canto de paz, meu espaço de luz! Minha ilha particular cercada de bênçãos por todos os lados: A Igrejinha do Perpétuo Socorro – sempre me pareceu a extensão do lar onde fui criado.
Ou, ao contrário, o lar onde fui criado terá sido a extensão da Igrejinha do Perpétuo Socorro?
Ali meus Pais se casaram e onde me casei. Um dia o primeiro neto foi batizado. Ali aprendi a rezar, cantar os cânticos louvando a Deus, Jesus e Maria Santíssima; ajudei na Santa Missa. Fiz a primeira comunhão e fui crismado; junto a outros meninos tornei-me Cruzado e Apóstolo de Cristo.
No outro dia, senti inevitável vontade e retornei. Ao adentrar fiz a genuflexão, o sinal da Cruz e olhei à direita. Uma escada se quisesse, me levaria ao côro e, depois, a altura dos sinos. Nem precisei ir lá; fiquei ali e acabei sentindo o cheiro da umidade que se aspirava ao subir aqueles degraus em direção às estruturas que moviam os relógios e badalavam os sinos.
Uma atmosfera me envolveu e até parecia que alguém, como se um guia católico fosse, me acompanhava em direção ao centro da igrejinha.
Parei. Estava só?
Olhei para o Altar que sempre me foi tão familiar e imaginei que alguém com barba e bem paramentado me dizia “O senhor esteja convosco”. Era uma frase específica, especial, única, dita para mim!
Quanta pretensão!
Dom Rey, tão liturgicamente voltado para a cerimônia, estava sisudo, mas sorriu ao me olhar. Baixei a cabeça de forma reverente e outro sorriso iluminou o seu rosto, já marcado pelo tempo.
Sentei num dos bancos próximo dos confessionários e me imaginei ouvindo “Coração Santo” e olhei mais para o lado e vi tão nítido o Órgão e, atrás dele, parecia que a Carmem Carvalho tocava e cantava inebriada com fervor angelical.
Ledo engano! Meu Deus, como às vezes a minha imaginação é fértil! Pisei no chão, voltei ao planeta Terra, não sem antes sentir que a Irmã Agostinho me dava um tchauzinho com aquele sorriso encantador, como que apoiando a aquela visita sentimental, mas que, em suma, refletia uma atitude derivada de uma necessidade espiritual.
Eu procurava me avistar com Deus!
Ajoelhei-me e procurei me concentrar. Alguém passando por mim bateu no meu ombro e foi em direção à sacristia, levantei os olhos e respondi com um aceno. Padre Elias estava de bom humor! Ao saber que eu me encontrava no local, o Padre Hugolino colocou a cabeça para fora do confessionário e me abençoou. Nem me deu nenhuma penitência.
Irmã San Rafael, a Vovó-Freira, intercedeu e o sacerdote me liberou da confissão no pressuposto de que eu já me arrependera sinceramente dos pecados cometidos... E, de lambuja, perdoou-me pelas futuras pequenas transgressões a serem praticadas. Fiquei com saldo credor! Que bom! Posso pecar à vontade! E me arrependi do temerário pensamento naquela hora transitado sob a justificativa das tentações mundanas, em meu juízo pessoal, que a condição de humano, que se antevia reincidente, por uma fragilidade prevista, que naquela hora já me alcançava. Mas, eu sei, nada justifica a fraqueza. –Seja homem, cara! O então Padre José Vieira Lima me alertava... Por sua firmeza, cultura e dedicação virou Bispo e vive em Cáceres.
Do alto da imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro imaginei ter visto saindo da mão direita da Mãe Santíssima uma luz tão forte caminhar na minha direção. A paz de Deus me confortou! Fechei os olhos e me senti fortalecido!
Parecia que ao voltar no tempo eu cheguei a ver as filhas de Maria, o grupo do Sagrado Coração de Jesus e outros católicos, tão contritos, fazer suas preces, seus pedidos, através das orações que aqueles dirigiam fervorosamente ao criador.
Outros, segundo a minha virtual observação, apenas agradeciam pelas bênçãos recolhidas. Os homens, eu pensava, precisam de Deus em suas vidas para lhes irrigar a trajetória que poderia ser tão angustiante não fosse a esperança, nutrida na fé, que alimenta a alma de cada um.
E, assim “em que da luz noturna à claridade, uma ilusão gemia em cada canto e chorava em cada canto uma saudade”... lá dentro, lá dentro da Igrejinha.
*-Membro Fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e Membro Efetivo da Academia de Letras de Rondônia-ACLER
Fonte: Paulo Cordeiro Saldanha
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