Paulo Cordeiro Saldanha
A música do Luiz Gonzaga e do seu parceiro Humberto Teixeira nos remete para a certeza de que tudo em volta “é só beleza”, o sol de abril e a mata em flor, mas o Assum Preto, cego dos olhos, não vendo a luz, canta de dor”.
É que alguém, – diz a letra da música – por maldade e, talvez, por ignorância, furou os olhos do Assum Preto, para que ele assim cantasse melhor.
Dessa forma, caminham, numa outra vertente, as ações políticas, de alguns menos avisados.
Ao invés de trabalho (eu o associo ainda a ética), “furam os olhos de alguns”. oferecem esmolas que se transformam em bebidas e até em drogas (e não em comida), que geram um estupor, ou seja, dando-nos a sensação de que todos nós, neste País, estamos entorpecidos, por conta de uma omissão que paraliza toda uma nação.
Faço notar, que estou bastante atento àquela vertente do amor Cristão que nos orienta a dar de comer aos que têm fome e de beber aos que têm sede... Porém, há um porém!
O que dá ao homem aquela dignidade intransferível e indelegável? Respondo: –com o seu trabalho, com o seu suor, poder prover a sua familia.
Migalhas o aniquilam, o “adormecem”, e o debilitam moralmente perante sí proprio e perante os seus. Migalhas anulam e despersonalizam o individuo.
Como o Assum Preto, que perdeu os olhos, o homem sem trabalho, vive solto mas não poderá voar; acha-se preso, limitado, sem liberdade... No caso –o pássaro em questão–, preferiria mil vezes a gaiola, desde que o céu ele pudesse vislumbrar.
O nosso cidadão sem trabalho, olha para o chão, submetido a um vício da acomodação, estimulado por uma espécie de dependência, que não é química, mas que o coloca na fossa, caminha curvado e se submete aos arrogantes de plantão...
A Constituição Federal, preocupando-se com a dignidade do cidadão já assegurou no Art. 6º: “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”.
Faço notar que o Legislador, seguindo a lógica da importância, no conceito de sua prioridade, após sinalizar como direitos primeiros a educação e a saúde, cravou com letra forte, de forma retumbante, o trabalho (o grifo me pertence), como as três maiores preocupações. No que agiu de forma inteligente, pois, sem a oferta de Emprego digno, poderão surgir os desamparados...
E o atendimento a esses custa muito mais caro para a Nação, posto que representa o estímulo a ociosidade, a negação à recompensa como fruto do labor e aplausos aos fomentadores da licenciosidade.
Mas na lógica dos “adormecidos”, aqueles entorpecidos pela esmola, que, como tal, não lhe confere nenhum orgulho pessoal, nem eleva a sua estima, se questiona: Por que trabalhar se vou vivendo e bebendo à custa do Governo?...
No Governo
Juscelino Kubistchek o Brasil agigantava-se com as emergentes indústrias naval e automobilística, com a abertura da BR-29 (hoje 364), – a nossa Brasília/Acre– a Belém/Brasília, a construção de Brasília, etc, sinalizando que aquele estadista governava de costas para o Oceano Atlântico.
Enfim, o Brasil virava-se do avesso, em direção a verdadeira busca para a sua integração.
Com as frentes abertas, o trabalho era enaltecido como forma de se atender as necessidades sociais; promovia-se a dignidade do Chefe de família e novas fronteiras agrícolas emergiam.
Naquele tempo, a oferta de trabalho desaguava, numa síntese, em novas oportunidades de crescimento humano, com vistas à realização pessoal dos provedores das famílias.
Hoje, o que se vê: há oferta de emprego, em algumas regiões mais que em outras, mas o homem sofre a vilania de se esconder atrás de umas bolsas.
Há outra com o nome de bolsa-reclusão, em que o Governo apóia a família do bandido, mas nem “tchum” para a família que ele tornou órfão. E, por conta dessas Bolsas, o homem não vai mais a procura de trabalho, porque acaba vendendo a sua dignidade por míseros cartões, que o humilham, vilipendiam e o descaracterizam como ser à imagem e semelhança de Deus.
Assim como o Assum Preto, furaram-lhe os olhos “Pra ele assim, ai, cantá mió”. E furaram os olhos, enfim, de toda a população-cidadã.
Principalmente na hora de votar!
Que pena! E o pior cego é aquele que não quer ver...
Pois há aqueles que, em troca de uma dessas bolsas inventadas, não desejam trabalhar, mas deixam de levar uma vida reprodutiva e multiplicadora.
Há ainda a história que nega ao adolescente o direito de, sem prejuízo do calendário escolar, prover a sua própria formação mediante a permissão de ter acesso a um trabalho virtuoso.
Conheci o trabalho ainda com 9 anos e nenhum pedaço me foi retirado; antes, bem cedo, a disciplina e a hierarquia me chegaram ao conhecimento. Urge, voltar a permitir que adolescentes possam encontrar nos braços e no esforço que despenderem a dignidade que não encontram quando passam a ser mobilizados pelo tráfico de drogas.
Até porque, trabalhar não é vício; eu repito trabalhar com ética, é virtude que, se não faz adoecer, não nos leva à morte, mas à vida saudável, gerando um passo em direção à própria liberdade, com os nomes pomposos que se chamam dignidade e cidadania.
Meus aplausos ao Fagner que, um dia cantou e decantou o homem, o trabalho e o sonho, nos seguintes versos: “um homem se humilha, se castram seu sonho, seu sonho é sua vida, e a vida é trabalho, e sem o seu trabalho, um homem não tem honra, e sem a sua honra, se morre, se mata... Não dá pra ser feliz, não dá pra ser feliz”...