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Paulo Saldanha

CRÔNICAS GUAJARAMIRENSES: O Colégio Dom Bosco de Porto Velho


  
CRÔNICAS GUAJARAMIRENSES: O Colégio Dom Bosco de Porto Velho - Gente de Opinião

Paulo Cordeiro Saldanha
 

O Rio de águas escuras vai descendo em direção ao Mamoré. Vejo a sua cadencia e vou recordando de coisas que eu vivi. Lembro dos meus tempos de estudante, por exemplo. 

É que pertenço (a exemplo de tantos outros) a uma família que se orgulha de ter merecido o padrão dos ensinamentos recolhidos a partir da cultura salesiana. 

Meu Pai Paulo e meu Tio João Saldanha estudaram no Colégio Dom Bosco de Manaus; meus irmãos, além de mim, foram alunos nos dois Salesianos de Porto Velho. Meus filhos – por força das transferências de cidades– em Manaus, em Porto Velho e Cuiabá, também. 

Três gerações que conquistaram, assim como outras, a excelsa honra de vivenciar a mensagem derivada dos ensinamentos de Dom Bosco. 

Em 1959 vivi o privilégio de estudar no Colégio Dom Bosco da capital portovelhense. Muitos guajaramirenses, também, entre eles, até onde sei pontificam os nomes do Simão Salim, Flávio Lins Dutra, Eros Saldanha, os irmãos Gondim, o Alberto, irmão do polegar, Delny Cavalcante, etc. 

Aquela Casa de Ensino, liderada por Dom João Costa, o Bispo, pelos Padres Ângelo Spadari (Diretor do Colégio), Silvio Bianchi (Secretário), Chiquinho (um Santo), Efigênio, Evaristo Afonso, Romano, Miguel, Humberto e Adolfo, era reforçada pelas presenças dos Clérigos Maciel e Claudionor; ainda os irmãos leigos, Joaquim e João. 

O Professor Farias, grande maratonista, nos inflava o peito de orgulho. Ele ali vivia e ali lecionava Desenho. 

Lá pelas tantas, e eu me lembro perfeitamente, bem alto, sobrevoou a cidade de Porto Velho um objeto até então não identificado. Eis que prontamente o Farias, sobe correndo os degraus do Colégio, vai até a sua torre e descobre, através de uma luneta, que o OVNI nada mais era senão um avião de propulsão à jato, certamente americano, que ousou invadir o nosso espaço aéreo. E durante a sua aula, para a nossa turma, desenhou no quadro negro a forma do avião invasor. 

Cursando a primeira série tive como colegas o João de Deus, o João Matny, o Marineu, Aldenir Courinos, Pelé, Otomar Mariúba, Lucio Guzman, Pedro Struthos, Leonardo, Roosevelt, Carlos Otino de Freitas, Cesar Pinheiro, Lacerdinha, Eduardo Lima e Silva (filho), Eugênio, Ivo (Casa Saudade), Clayton Guimarães Covas, Jacy Alencar Farias (o Polegar) , etc. 

Peço perdão, mas o tempo deixou que alguns nomes ficassem perdidos na minha memória, mas não no meu coração. 

Nessa época pude conviver com os irmãos Eurinho, Homero, e Mazinho Tourinho; Ruy e Licurgo Alencar, Formiga, Charles e Marden Degold, Adão, Sebastião e Renato Fandinho e, ainda Dirceu (orelhinha), Rubens Borges da Silva, o Rubinho, Zacarias, Paulo Nunes; Felix Bestene, José Nemetala, Fernando Tuma e Edu Saad (grande músico), estes do Acre. 

Os estudantes internos, além das aulas obrigavam-se a ter dois períodos, um deles à noite para seus estudos. Jamais sairá das minhas lembranças, a música “Balada Triste”, cantada pelo Agostinho dos Santos, que, em torno das 19 horas, todo dia, o alto falante do Cine Lacerda fazia ecoar. 

Nas minhas andanças pelo Brasil, qual cigano, por conta da profissão, toda vez que eu ouvia a melodia, seus acordes e a voz do Agostinho dos Santos me remetiam para as fortes lembranças das terras, das doces terras caiarís. 

Quando os passeios eram permitidos nas quintas-feira, íamos ao Porto da cidade visitar o “Leopoldo Peres”, o “Lobo da Almada” ou o “Augusto Montenegro” que eram para nós os “transatlânticos” que mexiam com a nossa imaginação. Lá comprávamos guaraná, grapette (sou– e assumo– da época do Grapette) e castanha de caju. 

Os botos singrando as águas do Madeira, ali tão próximos, faziam as suas evoluções, tentando exibir suas habilidades, através de uma dança que até hoje não sei interpretar. 

Aos domingos, na Missa da Catedral alguns olhares furtivos venciam as vigilâncias perenemente eternas dos padres e das freiras e alguns flertes aconteciam entre as alunas do “Nossa Senhora Auxiliadora” com os meninos do Dom Bosco. Sorrisos, piscadelas de olhos, acenos reproduziam as promessas e juras de amor que, nem sempre se materializavam. 

Noutros passeios ou caminhávamos em direção a Igreja Nossa Senhora das Graças (lá no KM 1), quando um campo de futebol nos era franqueado ou, um caminhão já quase vencido pelo tempo, nos deixava no KM 6 da rodovia que hoje demanda ao Candeias, onde num igarapé de águas límpidas aprendi a nadar. 

Não existia a Avenida Nações Unidas, mesmo porque a Sete de Setembro acabava um pouco adiante do Cine Lacerda. 

Nos colégios salesianos, além dos ensinamentos colocados à disposição do alunado, a prática esportiva era um forte. O futebol, inclusive de salão, o volley-ball, o Basket-ball, o tênis, a bocha, o xadrez e a jogo de dama, o espiribol, o ping-pong eram estimulados. 

Quantas e quantas vezes víamos o Clérigo Claudionor, o Professor Félix, um telegrafista competente, a serviço do território, enfim, outros homens praticando o tênis, quando esse esporte ainda não tinha aquela divulgação que hoje experimenta. 

Toda noite, antes do recolhimento para o sono reparador, uma palavra do Diretor do Colégio, o Padre Ângelo Spadari, nos transmitia uma mensagem diferente para a nossa reflexão. 

E todos iam para o dormitório, sonhar com os anjos ou com as namoradinhas que povoavam os nossos pensamentos, algumas quadras adiante, dormindo nos alojamentos do “Colégio Maria Auxiliadora” ou numa das residências da capital.... 

Ah! Se eu me eternizasse, para sempre vivesse... 

Mas as horas implacáveis vão me deixando... 

Meu tempo não queria que corresse 

Na velocidade com que vai voando...

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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