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Paulo Saldanha

CRÔNICAS GUAJARAMIRENSES: O Grande Pequeno Polegar


 

Paulo Cordeiro Saldanha*

Ele, o Clayton Guimarães Covas, o Moacir Pontes Filho e eu fazíamos parte da mesma patota, quando estudávamos no Colégio Nossa Senhora do Calvário.

Ali nasceu o apelido Pequeno Polegar, que, ao longo da sua trajetória, se transformou em Polegar para, depois, consolidar como seu Marketing Profissional, no famoso Doutor Polegar.

Estatura pequena cresceu pouco, mas seu cérebro privilegiado dava conta da inteligência superior que o adornava.

Menino ainda demonstrava sagacidade, reflexo bem ativado e sobressaía-se o espírito gozador, que era uma das suas características mais eloqüentes.

Lá pelas tantas fomos estudar, ele, Clayton e eu na cidade de Porto Velho. O Moacirzinho voou para São Paulo. No Colégio Dom Bosco, o Jacy de Alencar Farias marcou a sua presença com notas elevadas.

Nossos pais rotineiramente enviavam bolachas, farinha Láctea, leite condensado e doces que dividíamos com os demais colegas e entre nós; ainda que, temporáriamente, um estremecimento nos envolvesse por alguma discussão ou discordância, a permuta dos doces sempre selava a paz entre os coleguinhas da mais tenra idade.

Na realidade éramos tão unidos que momentânea rusga não ultrapassava o horizonte e o tempo das 24 horas. E ríamos das discussões emergentes.

Um dia rumei para a cidade do Rio de Janeiro, deixando-os em território rondoniense.

Nas férias nos encontrávamos e descobríamos que tínhamos aumentado a estatura. Eu um pouco mais que eles. O papo ia transformando os temas, com o ganho da maturidade que ameaçava acontecer.

Seu Conrado Farias tinha um sitio – Mamoré acima– no qual criava algumas cabeças de gado, bem em frente a uma ilha. Numa das férias o Polegar e eu fomos caçar e adentramos na tal ilha. Jamais vi concentração tão elevada de jararacas na minha vida. Mas não fomos “ofendidos” por nenhuma delas, embora tivéssemos corrido riscos, ante a quantidade dos répteis encontrados. Fugimos do local!

O estudo em cidades diferentes e, depois, a busca pelo curso superior e/ou a profissão exigida pelo caminhar da idade, acabaram nos separando novamente.

Quando fui à capital paulista, em 1969, descobri o seu endereço, salvo engano na Vila Mariana, uma casa adquirida pelos pais e que abrigava outros estudantes guajaramirenses, onde fui festejado na chegada e homenageado com um lauto almoço preparado por ele, José Nilson Guimarães, Almério Madeira e outros, todos amiguinhos desta Pérola. A despedida foi emocionante porque desconhecíamos quando seria um novo encontro.

Até que em Cuiabá recebi uma visita relâmpago do companheiro de infância, já formado e ostentando ele o título de Advogado, que eu perseguia estudando na Universidade Federal de Mato Grosso.

Festejamos o reencontro celebrando-o com uns copos de chopp lá no Chopão, quase no final da Avenida Presidente Vargas.

Um dia retornei à terrinha e, vire e mexe, sempre estávamos juntos, comemorando uma amizade que ultrapassava os 48 anos.

Fui visitá-lo certa feita e observei que ele voltara a beber e negligenciara nos cuidados com a veneranda Dona Clarice, sua querida Mãe; localizei-o num Bar, chamei-o à ordem e o trouxe para Casa. Veio “emburrado”, reclamando, mas veio.

Conhecedor dos ritos, dos códigos e da legislação em vigor, com prática forense marcantemente forte, era consultado por outros colegas. Porém a bebida o atrapalhava e esmaecia o talento, o conhecimento e a inteligência de que se valia para agir defendendo os seus clientes.

Mas sempre vi pontificando a lealdade e o afeto aos amigos como marcas de sua personalidade cativante.

Há pouco mais de um ano, no mês abril, a noticia infausta: o Doutor Polegar acabara de falecer. Corri para a sua residência, cedo, em torno das oito horas (manhã) e não pude vê-lo.

E assumi, depois, a idéia de não querer me despedir do companheiro. Guardo dele a imagem caminhando comigo nas passarelas do Pakaas Palafitas Hotel, ouvindo suas piadas, algumas bastante pesadas, sobre as quais quem mais ria, era ele próprio...

Lembrar do Polegar, é lembrar do Doutor Jacy, meu amigo de fé, meu irmão, camarada...

Fonte: Paulo Cordeiro Saldanha
  
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