Sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010 - 06h00
Paulo Cordeiro Saldanha
"A música é capaz de reproduzir em sua forma real, a dor que dilacera a alma e o sorriso que inebria". Ludwig van Beethoven (1770-1827”)
Uma geração transfere para a outra muito do que recolheu como mensagem familiar, seja nos usos e costumes, seja na indicação literária, seja, enfim, nas demais vertentes da cultura, como por exemplo, a expressão musical que vivenciou.
Comigo não foi diferente! No seio familiar aprendi a gostar de Silvio Caldas, Isaurinha Garcia, Dalva de Oliveira, Carlos Galhardo, Orlando Silva, Alcides Gerardi, Gastão Formenti, Nora Ney, Albertinho Fortuna, Nelson Gonçalves, Luiz Gonzaga, enfim, uma multidão de astros que brilharam no firmamento tupiniquim.
Antes, Francisco Alves e Vicente Celestino realizavam a emoção dos brasileiros das décadas de 40 e 50.
É evidente que esta geração não precisa conhecer os nomes que transitaram pela minha época de menino. É que outros ritmos e outros astros passaram a emoldurar o universo cancioneiro que se nos foram apresentados; nem por isso menos belos ou menos criativos.
Mas, convenhamos as letras das músicas de antes tinham começo, meio e fim; e procuravam eleger o lirismo como pedra angular nas suas criações.
Quem quiser valer-se das pesquisas poderá descobrir os fundamentos que envolviam a produção musical das décadas de 20, 30, 40 e 50 e se entusiasmará, com certeza, aqui no Brasil, com a riqueza, o tesouro guardado por conta da criatividade dos autores e dos intérpretes de então.
Quem não se emociona ao ouvir um dos maiores hinos do cancioneiro popular brasileiro: “Chão de Estrelas”; ou “Mensagem” (esta já regravada pela Vanusa), “Favela”, “Bandeira Branca”, “Me deixa em paz” (redescoberta pela Ana Carolina), “Caminhemos”, “Asa Branca”, “Maria Bethania”, “Adeus-Cinco Letras que choram”, etc, etc.
Os artistas que a minha geração viu florescer, surgem a partir do Cauby Peixoto, Agnaldo Rayol, Ângela Maria, Maysa, Elizeth Cardoso, Agnaldo Timóteo, porém, o astro maior, sem dúvida é Roberto Carlos, seja como autor, seja como intérprete. Nesse interregno o Chico Buarque, Fagner, Jessé, Altemar Dutra, Wanderléa, Martinha, Rita Lee, pontilhavam como estrelas o nosso território musical.
O Chico Buarque com a sensibilidade à flor da pele legando “Roda Viva”, “Valsinha”, “O Meu amor”, “Carolina”, “Construção”; e ainda não posso esquecer “Pra Não Dizer Que Não Falei De Flores”, do Geraldo Vandré, e do Rei Roberto, que na mesma época, produzia “Café da manhã”, “Detalhes”, “Amada Amante”, “Côncavo e Convexo”, “Cavalgada”, “Eu Disse Adeus”, “Namoradinha De Um Amigo Meu”, “Desabafo”, “Meu Pequeno Cachoeiro”, “Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo” - isto num universo de centenas de outras melodias que fizeram tanto sucesso.
Interessante é que assim como o olfato quando ativado nos faz viajar por conta de um perfume, uns cheiros de comida nos remetem para as lembranças de uma época, assim a música ou até um acorde nos enviam mensagens que a ternura de alguns instantes esculpidos nos nossos cérebros nos permite ficar comovidos.
O cérebro, esse privilegiado instrumento que lidera a nossa química, deixa arquivado de tal forma, intensamente arraigado, esse tipo de mensagem, que jamais deixa de nos tocar, quando a emoção é estimulada pelo sininho surreal dessas verdadeiras chamas que ficam aquecidas, “stand by”, lá nas profundezas de nossas recordações, mais íntimas, porque antes, lá atrás, bem antes, nos enterneceram, nos comoveram, porque temos almas e sentimentos tão nobres e tão especiais para admirar o lirismo que descobrimos numa melodia, com a qual nos identificamos, ainda mais se fez ela parte de um passado, de um momento ou de uma inesquecível paixão....
Paul McCartney diz que se emociona quando toca as músicas do seu grupo e acrescenta: "Pelas canções, você entra em contato com eles novamente. É uma forma de revisitá-los. É triste e emotivo"...
O poder das músicas se eterniza, num lado, via Beethoven, Strauss, Bach, Mozart, Tchaikovsky, Ravel, Heitor Villa-Lobos e tantos outros, por conta do erudito.
Porém, no outro, o popular, os nossos “artífices” do universo dessa linha, em face de suas criações, certamente, no futuro, terão assento no panteão virtual dos autores clássicos, pois as músicas que acalentam ganham força como tradução da arte superior, a partir do instante em que são imortalizadas na alma e no coração de um ou vários povos, que passam a idolatrá-las como referências, como edições divinas.
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