Quarta-feira, 5 de maio de 2010 - 20h49
Paulo Cordeiro Saldanha*
Tudo começou com a Guaporé Rubber Company que, através de seus sócios ousaram implantar uma empresa de transporte fluvial, com a finalidade de fomentar, na outra ponta, a produção gumífera, com receios de que os seringais de cultivo que os ingleses implantaram no Sudeste asiático, (Ceilão, na Malásia, etc), após a biopirataria das sementes e mudas de nossas seringueiras, pudessem cair nas mãos dos alemães e/ou japoneses.
O Ocidente sempre se preocupava com essa possibilidade, pois de há muito se falava na avidez de outros povos no avanço de terras alheias. Em 1917 acabou eclodindo a primeira guerra mundial.
A Guaporé Rubber veio para, neste Noroeste brasileiro, em que pese a dificuldade geográfica, dar uma resposta ao estímulo da produção da borracha, que seria aqui impulsionada, ao lado da castanha, peles silvestres e, mais tarde, visando a indústria farmacêutica, a Ipecacuanha, a conhecida poaia.
A implantação dessa Companhia coube ao Coronel da Guarda Nacional, Paulo Cordeiro da Cruz Saldanha, que, mais tarde, acabou adquirindo o controle da Empresa, tornando-se proprietário, até que, em fins dos anos 40 transferiu o patrimônio para o Governo Federal, quando foi criado o Serviço de Navegação do Guaporé.
Os objetivos continuaram os mesmos: transportar pessoas, gêneros e demais cargas, levando o correio, enfim, unindo as populações ribeirinhas dos rios Mamoré, Guaporé e seus afluentes.
O SNG, como era conhecido teve uma ação socioeconômica muito reprodutiva. Levava passageiros e cargas e trazia dos altos rios a produção dos seringais, dos castanhais, gado e poaia. Possuía um contingente de funcionários que, nos dias de pagamentos dos salários, inflava o comércio de dinheiro.
Nos anos 50 e 60 o seu estaleiro produzia balsas e batelões construídos com madeira ou chapas de ferro, sob o comando do Mestre Couteiro, acolitado pelo Antônio Soldador, grandes artífices naquela seara, assim como o Mestre Loureiro era na construção naval, com madeira.
Naquele tempo os administradores públicos inventavam os meios, com criatividade, pertinácia, vontade e idealismo. E não se submetiam às dificuldades e faziam acontecer...
Interessante é que muitas embarcações foram preparadas com esmero e competência pelos valorosos Mestres e funcionários do SNG.
O Francisco Serra está ai, elegante e sóbrio, bastante lúcido para confirmar tudo. Foi um destacado servidor daquele Serviço de Navegação, assim como o Tito Hugo Lobo, grande líder e competente Comandante, que depois Chefiou o Tráfego da Corporação.
Lembro-me de vários outros, além dos tenazes homens daquela equipe, cujos nomes passam pelo Aniceto, Cavalcante, Chico Serra, Crisanto, Isidoro, Levi, Joãozinho, Joaquim Conrado, Julio Gomes Neto, Romualdo Frazão de Almeida, Sebastião Reis, o Vigia Francisco Alves, Antônio Felipe, Bruno Alves, Chico da Silvina, Gabriel, Iris Leite de Brito, José Banana, Laurindo, Leônidas, Miguel, Neco, Paletó, Pedro Paulo, Pedro Pereira, Pompílio, Raimundo Teixeira Nunes, Sebastião Gorila, Souza, Tomé Alves de Souza, Vaca, Vitorino, Cozinheiros Salustiano, Hermínio, Costa e Pinto.
O interessante era a maneira do Salustiano, o simpático Salu, na preparação da comida segurando entre os vãos dos dedos do pé uma manta de charque; com uma grande faca na mão, matava as mutucas que lhe infernizavam as finas e brancas pernas, cujo sangue se incorporava nos pedaços de charque que seriam servidos como almoço ou jantar.
Na parte burocrática os encargos eram cumpridos através da Sebastiana Diniz Dias, Wilson Hayden do Couto, Roschildes Melo, Vitoriano Paes de Azevedo, Eremita Cordeiro Saldanha, Jeremias Gusmão, Luciano Cavalcante, Setembrino Lobato dos Santos, Flavio Lins Dutra, Humberto Cohen Lopes, Alípio Fonseca, Paulo Saldanha Sobrinho, Bento Coutinho Sampaio, depois, Elisa Carvajal, Lourival Diniz, Moema Cavalcante Lemos, e outros.
O SNG cumpria, pois, fecundo papel social, pois unia Vila Bela da Santíssima Trindade, no Mato Grosso, a Guajará-Mirim e, essas duas cidades, a Porto Velho, Manaus, Belém, ao Nordeste, Sul e Sudeste do Brasil. E o importante é que suas ações se complementavam e completavam, por outro lado, as atividades da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.
Ambas eram geradores de emprego e renda, até que foram mal gerenciadas, politicamente mal utilizadas, viraram cabide de empregos, deficitárias e após sucateadas, morreram!
Que pena! E de nada adiantou a criação da ENARO, transformada em CONARO e jamais adiantarão outros nomes pomposos, se não se cultivar os princípios saudáveis da boa gestão, que busca a eficiência, a eficácia e a efetividade nos resultados, sociais, financeiros e econômicos, com vistas à perenização dos Entes Públicos.
*Membro Fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e Membro Efetivo da Academia de Letras de Rondônia-ACLER
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