Sábado, 19 de junho de 2010 - 08h47
Paulo Cordeiro Saldanha*
Diz a letra da música de Silvio Caldas e Rogaciano Leite que “os meus cabelos cor de prata são beijos de serenata que a lua mandou pra mim. Os meus cabelos grisalhos são pingos brancos de orvalho num tinteiro de nanquim”. Quanta poesia e
quanto lirismo numa frase que emociona os sentimentos mais elevados!
Os meus cabelos cor de prata, representando as vivências, aquelas boas e ruins, simbolizando o tempo percorrido nesta existência que, apesar de tudo, foi abençoada por Deus, e sintetizam uma verdade que não dói.
Afirmam que a maturidade, sócia da experiência, já chegou agora na “puberdade” da minha velhice, como expressão mais legítima de que minha vida, como previsto na curva de GAUSS, já iniciou a trajetória em direção ao outono. Assim é também com homens e mulheres da minha geração!
E o tempo, que é implacável foi chegando inclemente e me pegou desprevenido, ao permitir que me fossem pintadas as têmporas, com as indisfarçáveis marcas, mas não me deixou amargo, nem recalcado! Aprecio sorrir! Adoro ouvir histórias, estórias e piadas. Jamais desprezarei um papo temperado com saudade!
Quando nasci a Segunda Guerra já tinha acabado. Mas, antes li e aprendi que ela será sempre uma tragédia, inclusive para o vencedor! Quantas famílias, por exemplo, enlutadas por conta da famigerada iniciativa de Hitler de invadir outros países em busca de mais território. Possuir mais, na visão dele, era imperativo!
Cresci beneficiário das inovações tecnológicas que a guerra e o pós guerra puderam conceber. Evolui recolhendo a qualidade melhor de vida que me foi permitida com a conquista da geladeira, do fogão à gás, liquidificador, ventilador, filmes a cores, lambreta, automóvel, ao invés do trem, viagens aéreas, e até do ar condicionado.
Afirmei-me profissionalmente recebendo instruções via telegrama e cartas circulares, que demoravam trinta dias entre Belém e Guajará-Mirim, o telégrafo foi substituído pelo Telex, que acabou desmoralizado pelo Fax. O termofax foi abafado pelas fotocopiadoras, até que o computador, como fundamento da Terceira Onda do Alvin Tofler trouxe a informação como a força motriz para as grandes transformações que a humanidade vem, desde há muito, já experimentando. O computador e a Internet me foram conhecidos.
Vi que muitas Igrejas foram criadas em nome do Evangelho e li que diversos Oráculos prediziam que o ocaso do Planeta aconteceria a partir do aparecimento de falsos profetas.
Jamais ouvi falar tanto de Deus quanto agora e observo que o homem apesar de tudo, se torna tão embrutecido, egoísta e violento num tempo em que o Criador tem sido tão decantado. Ele e o seu filho Jesus.
Quando Nostradamus me foi apresentado me tocou a revelação de que “quando pássaros de aço estivessem voando no céu, seria o princípio do fim...”
E nesse interregno meus cabelos negros, como símbolo de uma trajetória comum a todos os mortais começaram a desbotar. E eu nem percebia que, ao lado da alvura deles, pequenas rugas aplaudiam o meu envelhecer.
Já não existem as pelas de borracha pintando de negro o chão ali entre o Porto Oficial e a Estação Ferroviária; continua o vai-e-vem das catraias, porém o trem já não chega, mas também já não sai; outros rostos substituíram os rostos do meu passado e do meu presente; o avião de carreira deixou de decolar, mas se nega em pousar por aqui, também.
E o tempo, na sua inexorável cadência caminha em direção ao futuro, permitindo-me, através das lembranças, voltar a ser o menino, magro, dentuço, mas com cabelos negros, única “arte” que exercito através dos meus pensamentos, com a maestria de minha imaginação tão fértil, que traduz os elevados sentimentos de saudade que, na maturidade, eu tão bem domino...
Até que vejo no espelho a quantidade e o prateado dos meus cabelos brancos e, ao balançar a cabeça numa isolada brincadeira de bom gosto, dou um aviso à vida para que não considere ainda aquele movimento como um gesto de despedida e de adeus.
Ainda, não!
*Membro Fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e Membro Efetivo da Academia de Letras de Rondônia-ACLER.
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