Sábado, 14 de agosto de 2010 - 08h23
Paulo Cordeiro Saldanha*
Nasci numa época em que as famílias tinham o bom hábito de se visitar. Naquele tempo uma amizade era consolidada com o convite para um casal ser compadre e comadre do outro, dando azo à idéia de que se tornavam quase parentes.
Quando uma visita era anunciada, nós, os meninos de então, vestíamos a nossa melhor roupa e partíamos eufóricos para a casa dos nossos “tios”.
Ali nos misturávamos com os amiguinhos, íamos para o quintal ou para frente da residência, visando às brincadeiras que se transformavam na felicidade mais ampla e mais irrestrita.
Chegava a hora do lanche. Como vivemos na fronteira tinha chicha ou aluá; bolos, pasteis e sanduíches. Como nos fartávamos!
Enquanto isso os nossos pais “papeavam” e “papeavam”, pedindo da criançada alguns decibéis de menos barulho, já que desejavam ouvir os diálogos daquilo que emergia na conversação deles.
E se a visita era na casa do vizinho ao lado, melhor ainda, pois nem nos cansávamos, por conta da inexistente caminhada, bastando sair de um portão para adentrar na casa ao lado. A intimidade era tanta que nem esperávamos os nossos pais e ingressávamos naquela casa como se fosse o nosso próprio lar.
Dona Gizela, por exemplo, era amiga de todas as horas de minha Mãe. Visitavam-se, trocavam receitas e, juntas fizeram cursos de culinária e bordados. Meus pais eram colegas de trabalho do Humberto.
Refiro-me aos Sarde Lopes. Casal que celebrou na última semana seus 60 anos de fecunda e abençoada união.
Com efeito, Dona Gizela e “seu” Humberto Cohen Lopes, ao lado de filhos, netos e bisnetos e de tantos amigos queridos, no Laje de Pedras estiveram reunidos para aquela comemoração.
As palavras do Sacerdote, os depoimentos recheados de muita emoção da Valvinda Câmara Badra, do Eloi Cohen Lopes (irmão que veio do Rio de Janeiro e representou as demais irmãs presentes) e das netas deram o tom da felicidade reinante e sintetizaram as bênçãos que foram pedidas e derramadas sobre aquele clã.
E no momento das homenagens, lágrimas escorriam dos olhos para as faces, os corações palpitavam mais fortemente e o venerando casal recolhia bastante emocionado o relato que, na realidade, era um grito de amor, uma declaração de respeito, admiração e reverência, pelo exemplo legado, já que aqueles dois representam um paradigma a ser cultuado como mensageiros que novas duplas poderão mirar para modelar a sua própria trajetória de vida.
Os filhos (Antônio, Esther, Francisco e Paulo) se dividiram na organização da festa e na preparação do almoço, cujo cardápio tão rico quanto criativo mereceu o elogio de todos. Até a Edith Nobre de Jesus chegou do Rio de Janeiro para a festa e muito auxiliou na coordenação dos serviços.
À esquerda, à frente e à direita um cenário estonteante: o Rio Mamoré, descia empurrado pela corredeira transformando em música o barulho da cachoeira, que concorria para maior velocidade das águas e iam refletindo a luminosidade de um sol que, qual mestre sala, reverenciava o céu azul, sob o aplauso de um vento Norte que insistia em fazer parte daquele singular evento familiar.
E os amigos se reviam, abraçavam-se, analisavam a conjuntura política, esportiva e social em nome da alegria e em nome das saudades encruadas no peito de cada um.
É certo que nesses 60 anos de vida em comum, dificuldades foram superadas em nome do amor profundo, da renúncia, da humildade, generosidade e compreensão. Nenhum casamento chega tão longe, como o deles, se as virtudes citadas e outros predicados positivos não forem exercitados.
O sentido de família que os Sarde Lopes sempre cultivaram passa pelo culto à formação religiosa que os acalentou, pelo otimismo que nutriu e encaminhou a educação dos filhos; pelo bom humor que aquela família abençoada entre si sempre irrigou, enfim, pela dosagem de amor que, no seu âmbito, diuturnamente retroalimentou.
Para mim, valeu ter participado de mais um sagrado encontro da família do “seu” Humberto e de Dona Gizela, pois todos nós que lá estivemos saímos com a sensação de que as bênçãos dirigidas ao casal se expandiram e se espargiram de tal forma, que foram derramadas sobre todos nós, que estávamos lá, para justamente lhes desejar muita paz, harmonia, felicidade e prosperidade, como prece dirigida a Deus, fonte de luz, proteção e endereçamento de mais essa sincera oração.
*Membro Fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e Membro Efetivo da Academia de Letras de Rondônia-ACLER.
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