Quinta-feira, 10 de novembro de 2016 - 16h59
Adoro “causos” e me delicio com os disparates decorrentes da criatividade do ribeirinho, do ‘beiradeiro’, enfim, do homem que vive no campo, nas florestas e nos barrancos dos rios e igarapés.
Vira e mexe me chega alguém, sabedor que dou trela (e muita) para as fantasiosas histórias inventadas, e me repassa narrativas que, acaso me façam rir, as elevo à condição de crônica, desconhecendo se vão emocionar ou comover pessoas do entorno, eventuais leitores da minha coluna Crônicas Guajaramirenses.
E lá vai uma dessas que até assustam...
Huáscar da Guia me disse, sem tremer, que viu uma sucuri de quase 20 metros emergir do rio em frente a um pedral, com dois tucunarés de uns 15 quilos cada, um no suvaco direito e o outro no esquerdo...
Sucuri tem braços? Nas bandas de cá existem tucunarés daquela dimensão e peso? Sabe-se que esses peixes, mesmo no rio Negro, Amazonas, não alcançam esse tamanho todo.
E aí, de novo, me lembrei do Doutor Demerval, um competente médico que viveu em Guajará e em Porto Velho nos anos sessenta, que inventava situações como essas sem ficar vermelho e pedindo a confirmação de sua doce e amada esposa.
E Sabino, meu amigo de priscas eras, garantiu que, num igarapé lá para as bandas da Colônia do Iata, cheinho de piranhas, os macacos, receando as mordidas mortíferas do peixe assassino, só bebiam água através de canudos feitos de bambu, enquanto ficavam debochando das piranhas fazendo gestos obscenos com os dedos, porque se achavam, mercê da criatividade, protegidos da sanha dessas celeradas.
E por falar em celerado, o Torito Eurácio, que não se reconhece bem educado, mas tosco, do alto de sua virulência verbal e sempre acompanhado de seus ensandecidos companheiros Artuzin Pedregoso e Nilton Misaque, se saiu com esta, que a seguir relato:
“Fui pescar ali no barranco do rio Mamoré. Tinha muito mosquito, mas eu levei o meu ‘trezoitão’; e a cada investida daqueles sanguinários eu me defendia, atirando nos olhos daqueles pequenos ‘vermes’ (sic)... e como sou ecologista, matava a todos e não lhes feria as pestanas. E entre um lançar da linhada n’água e outro, eis que peguei um peixe bem graúdo, que veio fazendo o maior escarcéu. De repente, pareceu que eu ouvia um som estranhíssimo, o mesmo que os mal educados fazem quando querem tirar nacos de comida dentre os dentes, assim” - e imitou o ruído emitido da boca quando se tenta tirar um fiapo ancorado entre os dentes.
Não consegui onomatopéia alguma que chegasse próximo dessa falta de boas maneiras.
E Torito Eurácio, merecendo os aplausos de Artuzin Pedregoso e de Nilton Misaque naquela narrativa, continuou:
“Não é que eu descobri que tinha fisgado a danada da pirarara pelo dente cariado dela?”
Artuzin e Misaque, entre orgulhosos e inebriados com o tema ali expandido por seu herói, aplaudiram a história, esclarecendo que o peixe, com aquele gesto barulhento, apenas desejava expelir do “dente” um fiapo de metal ou, no caso, o anzol incômodo do qual tentava desvencilhar-se.
Eu pensei: até aqui nessas barrancas mamorenses tem puxa-saco pra tudo! Esses uns aí atuam como se fossem assessores para assuntos aleatórios...
Esqueceram-se eles de que eu sei que a pirarara não tem dentes, mas uma espécie de serra na arcada da boca.
E continuei aprendendo: a mentira tem pernas curtas... Mesmo assim, não desconjurei os contadores de “causos” e acabei rindo da criatividade colocada na rodada de nossa conversação.
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