Sexta-feira, 23 de março de 2012 - 05h04
O Nobre Diniz sempre foi muito politizado. Atuante como líder estudantil cravou seu nome na história do antigo CESGM, o CENTRO ESTUDANTIL SECUNDARISTA DE GUAJARÁ-MIRIM, fechado em 1964 pelo então Comandante da Sexta Companhia de Fronteira, o já famoso Capitão Godoy.
Eu era o Secretário Geral do CESGM, sendo seu Presidente o Carlos Correa Teixeira, que, apesar de jovem, possuía uma oratória vibrante, fluente e eloqüente. Ao contrário deste escriba, tinha sempre um pé na ideologia quase radical dos soviéticos, pensamento doutrinário que nada representava para mim. O Carlos fez um inflamado discurso, lá por volta de fevereiro de 1964. Resultado, por seu conteúdo contundente e controvertido, o Capitão Godoy, após uma sindicância, conduzida pelo Tenente Luiz, em que o Carlos e o Diniz foram os únicos “entrevistados”, vimos o CESGM fechar as portas.
Mas, voltemos ao Diniz politizado. Na campanha de 1958, ele preparou um discurso, apresentou ao seu cunhado João Saldanha, que o leu, torcendo o nariz, mas acabou tentando melhorar.
Quando o seu candidato Ênio Pinheiro ia a um comício, lá estava o Diniz “declamando” o seu improviso, eis que o tinha decorado. Mas, de tanto repetir, quando dos encontros com os eleitores Cutubas, o povo também o guardou na memória e o reproduzia como se fora uma oração, dizendo: “Povo de minha terra, aproxima-se o momento em que as forças aliançadas tentam denegrir o cenário político-partidário, arrastando-nos a enxurrada lamacenta que nos conduzirá ao abismo da derrocada e da destruição. Por isso vos conclamo; unamos as nossas forças pelos sagrados ideais”...
O Nobrinho começava o palavrório e os torcedores dos Cutubas reverberavam tal como se faz numa Igreja com o Pai Nosso.
E o povão repetia, quase ensandecido, numa liturgia como se tivesse ensaiado, o atormentado discurso de nosso herói. Eu, de tanto ouvir, acabei decorando, também.
Na sua formatura, como concluinte do curso técnico comercial, que o constituiu Contador, no segundo grau, o Diniz liderou o grupo para que, após a solenidade formal, os festejos pudessem continuar com novo rito, nova pompa, inovador e diferente cerimonial.
E conduziu os concluintes para um balneário, na direção da serra, onde as meninas de vida fácil eram as estrelas. Este escriba, que não era finalista de curso algum, mas possuía uma lambretta, ficou responsável pelo transporte das galinhas assadas, arroz e farofa, candidamente preparados por Dona Lola, sua Mãe, pois dissera que iriam celebrar a formatura, num santo lugar, e ali alimentar aquela troupe de desvairados, que celebravam a formatura de maneira inusitada.
Quando cheguei não vi ninguém são. Ébrios, todos estavam inseridos na interpretação literal do termo, segundo o Aurélio, pois se encontravam “arrebatados por algo que enleva ou encanta; embriagados, extasiados”. Ali o Futuro e o Passado do País (inclusive daquelas meninas) estavam literalmente tontos... e já perdidos!...
O Diniz era um revolucionário, das palavras e das ações e, como se fora um profeta de araque, sabia manejar a sua turma de seguidores, se não para a Terra prometida, mas para a festança anunciada, sempre regada a batida de maracujá.
Na nossa juventude, ninguém sabia da existência de motéis. No auge da pouca idade, sem muito juízo, ainda, descobrimos que as viagens do João Saldanha, meu tio e cunhado do Diniz, para o Médio rio Guaporé, muito nos eram vantajosas, posto que fizemos da sua casa, vazia durante meses, o ponto de encontro com as visitadoras emergencialmente descobertas para os encontros clandestinos.
Todavia, nenhum de nós era, nem de longe, os desesperados soldados do capitão Pantaleón Pantoja, personagem de Mario Vargas Llosa, no livro “Pantaleón e as Visitadoras”.
Um dia, lá pelas tantas, além de nós dois, já estava ampliado o grupo de “aproveitadores” da residência do viajante: Paulo Cruz Rodrigues, Antônio Nogueira, Donaldo Patrocínio, com direito a mudança de freqüentadoras, aquelas sensuais (?) visitadoras.
O responsável pela mobilização e integração das meninas charmosas cabia ao Chefe do Departamento de Relações Institucionais, Antônio Nogueira, sob a aprovação e supervisão do Lourival Diniz. Plagiando alguém, só as bonitinhas cabiam na nossa interpretação do fundamental.
Mas, alguém com a ternura sexual muito exacerbada, derrubou e quebrou dois bibelôs da Dalila, dona da casa, que os colecionava.
Dias depois, após chegar como quem chega do nada, o João Saldanha nos chama e desabafa: “Eu sei que vocês dois, fizeram a minha casa de temporária zona; tudo bem! tudo bem! mas não quebrem os bibelôs da Dalila”.
Nem podíamos convocar o Paulo Cruz Rodrigues para nos defender, haja vista a sua culpa em cartório, mesmo porque ainda não era o Advogado ativo, conquista que só obteve anos depois.
Calados estávamos, caladíssimos permanecemos! Não poderíamos materializar provas para nos incriminar. Desconhecíamos a Constituição Federal, que, naquele tempo, não previa dispositivo desse naipe.
Só nos coube ficar vermelhos de vergonha... Até que nova viagem, dos donos e proprietários da moradia para Ilha das Flores, nos motivou a recomeçar com as nossas festinhas particulares, com direito a dança provinda de uma eletrola, regada a batida de maracujá, preparo em que o Diniz era (e é) um profissional dos melhores. Nenhum bibelô foi quebrado, depois.
Revolucionário, nos usos e nos costumes guajaramirenses, Dom Diniz, quando não se encontrava na Casa do cunhado, poderia ser visto na Praia do Acácio, à noite, se verão, nu, deitado na areia, sob a luz do luar, embriagando de amor sua visitadora, bonita, mas bem gordinha, cintura de barril, a quem alcunhava de “Minha Santa”, pois se esquecia do nome dela, com os olhos faiscantes de ternura e intenso amor para dar e distribuir.
Esse é o velho Diniz de guerra! A quem, quase 13 anos depois, reencontrei aqui em Guajará-Mirim, em novembro de 2011, durante o X Encontro dos Filhos e Amigos de Guajará, a nossa AFAG.
Valeu, emérito cidadão de Black Stone, a tradicionalíssima Pedras Negras, berço de memoráveis, assim como ele, um digno representante das abençoadas terras guaporenses.
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