Sábado, 17 de março de 2012 - 09h07
No texto anterior lhes afirmei que o Lourival Diniz é um vencedor. Mais que isso: é homem íntegro, afável, excelente chefe de família e gozador emérito. Mas é bom que se diga: todos os seus amigos, todos, sem exceção, tem histórias hilariantes a contar, por conta da relação com o “nobrinho”, consoante adora ser chamado.
Antes de ser titular pelo Guajará Esporte Clube, na condição de reserva, deixou de comparecer ao Estádio de futebol João Saldanha e preferiu ir ao cinema, ao lado dos outros únicos reservas, o Sabá e o Ângelo. O Guajará, desfalcado de 3 titulares, que tinham viajado, precisava desesperadamente dos seus imprescindíveis suplentes.
Procurou-se pelos reservas. O Simão soube que estavam no Cine Guarany. Revoltado, ante a falta de compromisso daqueles, o Salim, já de calção, camisa, meiões e chuteiras, montou na sua bicicleta Raleigh, furibundo, caminhou em direção ao centro da cidade; falou com o velho Pedro Misturado, que recolhia os ingressos vendidos e adentrou num Cine Guarany escuro, com o filme já sendo exibido; e, fileira a fileira, ia procurando pelos fujões. Encontrou-os e, pegando-os pelo colarinho, deu ordem unida e os trouxe –eles choramingando– sob protestos, até o campo de futebol, local onde se trocaram e se vestiram como atletas. Afinal, naquele momento, eram insubstituíveis. Já pensaram? Nesse jogo o Diniz se superou! Fez até um gol na raça, mas destroncou o dedão, com o qual costumava dar, segundo ele, verdadeiros “tubos”, palavra já naquela época em desuso, que queria dizer, chutes de longa distância. No caso dele, a esmo, sem rumo e sem direção...
Numa determinada data, jogando futebol de salão, na quadra do Simon Bolívar, eis que víamos um Diniz, correndo ora subindo, ora descendo, orientando a sua equipe.
Porém, no esquadrão adversário encontrava-se o Almério Madeira, dono de um chute tão violento quanto o do Rivelino. Possuidor de um petardo; não havia goleiro que ousasse segurar um chute do filho do Almir Madeira. Numa dessas o Diniz, desguarnecendo as partes íntimas, surge na frente do Mocotó de Anta (apelido do Almério), no exato instante em que o pé inicia o toque na bola, disparando dois trilhões de megatons, da ponta do seu Kichute (tênis da época). O Diniz recebe a bola bem ali no lugar que vocês estão pensando. Outro cairia no chão... O Diniz, não! Agachou-se e ficou urrando, correndo nas extremidades da quadra. Seus uivos, não eram gritos, não! Eram brados retumbantes, de diversos sons; eram uns grunhidos que nos faziam crer que ele estava nos últimos estertores de cruel agonia. Ficou lívido, branco, amarelo, vermelho e roxo, até que mais calmo, cambaleante e pernas abertas, buscou o rumo, a direção da sua casa.
Em 1961, ao ouvir historias sobre a Marinha, ele e o Ângelo Nobre de Jesus, a quem carinhosamente tratava de Nego Ângelo, que jamais tinham saído de Guajará-Mirim–nem até Porto Velho– pegando um avião da FAB, desembarcaram diretamente na antiga capital da República. Foram hóspedes do Almirante João Paiva Azevedo (nem sei como conseguiu o endereço dele), que era amigo de meu pai e do meu Tio João Saldanha. Ali, com o prestigio do Almirante, ingressaram na Escola de Grumetes. Sofreram agruras das mais variadas e pediram as contas.
Numa dessas, os dois que saíram daqui sem conhecer, assim como eu, a televisão, o elevador, a escada rolante, etc, resolveram ir ao Cine Vitória, na Senador Dantas. Viram que as pessoas bebiam água, a partir de um bebedouro elétrico. Com sede, pararam em frente e se curvaram. E a água não saia.
–Diniz, como você é distraído, homem! Não vê que você tem que fazer uma reverência para a água sair?
–Distraído é você, Nego Ângelo. Vá lá e veja se sai água...
E o Ângelo, para riso dos cariocas, gingou da esquerda para direita, fez um rodopio, depois, uma mesura, digna do súdito ao Califa mais rico do pedaço. Por pouco não fez uma genuflexão. E a água não brotava das entranhas da desditosa máquina.
–Viu Nego Ângelo, como distraído é você. Deixa comigo!
E o nosso Diniz, chega mais perto da desatenta máquina, faz uma curva teatral para a frente, na verdade, uma senhora reverência, depois olha para cima, como em oração, balbucia algumas palavras, que mais pareceram um xingamento e o equipamento nada de espargir o sacrossanto líquido tão ansiosamente aguardado.
Ao lado, a população de cariocas ia sendo ampliada para a gozação explodir.
Bastava, se fossem mais diligentes e observadores, pressionar com o pé um botão, adrede instalado na base do equipamento, que faria a água lhes saltar e saciar a sede. Um velhinho, que já passara pelo mesmo problema, com pena, os ensinou, para repúdio dos presentes.
Em Roraima, onde atuou na defesa dos interesses do BASA, com sabedoria, inteligência e competência, tornou-se ídolo do Edson Cunha (funcionário mais novo), que se empolgou tanto com as vivências do Nobrinho em Guajará e nas terras fluminenses, quando lhe pôde transferir todas as situações vividas na Marinha.
–Edson, na Escola de Grumetes, a gente aprende de tudo: boxe, capoeira, luta livre, natação e, até, lutar com cachorro valente e, ainda, pegar cobras com a mão.
–Mas você não tem medo, por exemplo, de cobras?
–Que medo, nada! Cobra eu pego com rapidez, pelo pescoço assim (e avançou na garganta do Edson) balanço para ela ficar tonta e não mato, não! Fico sacudindo-a e a lanço distante 40 jardas de onde estou... Mas, cobra tem pescoço?
Eu, um pouco atrás, fazendo a rotineira caminhada, após o jantar, ouvia surpreso tantas vantagens sendo colocadas, quando eu conhecia até que ponto ia a valentia do nosso herói.
–Mas, Everaldo e Sabino (brilhantes colegas que estavam presentes auxiliando na recuperação do Banco de Roraima, através do BASA), eu conheço a peça; tem medo até de rolo de fumo, se estiver estendido no chão.
E o Sabino foi aproximando, aproximando e beliscou bem forte o calcanhar do Nobre protagonista, fazendo um barulho, na tentativa de imitar uma cobra em fuga.
–Ai, Ai, Ai, fui ofendido! Fui ofendido! E o Diniz já gritando de dor, tentando estancar virtual sangue, foi desmaiando, desmaiando... e só não caiu porque o Edson o amparou.
Nós, os outros, ficamos gargalhando com a hilária cena ali apresentada. E o Diniz, com uma fleuma inglesa, meio sem jeito, acabou sorrindo, desconfiado, para espanto e decepção do pupilo, que viu que o seu ídolo não seria, assim, tão corajoso como ele intuía.
Brincadeiras à parte, o Diniz é boa companhia, bom anfitrião e um exemplo como homem idôneo, brioso, de confiança e, agora, desfrutando merecidamente na cidade de Fortaleza, das delicias do capitalismo, doutrina que, quando jovem, ele tanto repudiava....
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