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Paulo Saldanha

Dona Suk Ry More e Hernando Parará Borgiano - Por Paulo Saldanha


Dai-me paciência, Senhor, Deus, Pai e Criador, para ouvir estórias de Hernando, o mentiroso maior do pedaço, em substituição ao saudoso médico Doutor Demerval Bastos.

Acontece que Hernando Parará Borgiano, aquele que nasceu em Lábrea, no Amazonas, mas foi criado aqui em Guajará-Mirim, foi contratado como vigia de um empreendimento às margens do caudaloso rio Mamoré, mas foi surpreendido por diversas vezes dormindo no trabalho pelo supervisor da empresa.

Nesses instantes, se o seu abençoado sono fosse interrompido antes das 22 horas, nem um pedido de desculpas ele vociferava; todavia, se o chefe gerasse qualquer constrangimento lá pelas duas ou três horas da madrugada, Hernando virava fera, dado o atrevimento em acordá-lo no seu melhor horário de sono profundo, instante em que viajava pela estratosfera com seus desvairados sonhos.

E entre uma falta e outra ia sendo perdoado porque, sendo criativo, vinha inebriando os circunstantes com narrativas miraculosas.

Um dia, saiu-se com a seguinte história concebida nos seus momentos de desvairada loucura:

“Sendo eu vigia dos mais cuidadosos, nada passa despercebido por mim... Noite dessas, enluarada, eu observei uns olhos graúdos, brilhantes, subindo o Mamoré. Às vezes levantava a cabeça mostrando alongada língua, como se estivesse a espreitar alguma comida, pensava eu. E o bicho, tão atento no seu objetivo maior, estava descuidando deste observador, que não perdia nenhum dos seus gestos, nenhum dos seus atos. Foi quando desviei os meus olhares e vi que algumas capivaras tomavam, descuidadamente, delicioso banho de lua, ali na praia à minha lateral. Umas jogavam areia nas outras ou lançavam água nas demais, como se estivessem rindo e felizes.

Dona SUK URI, acautelando-se para atacar de surpresa, deitou-se nas mansas águas barrentas do caudaloso rio e foi aproximando-se de mansinho, sem levantar as suspeitas no ambiente festivo em que, descuidadamente, as senhoras CAPI VARAIBAS se encontravam sob as bênçãos do luar amigo.

E eis que, 'de repentemente', a plêiade de jovens da espécie Hydrochoerus hydrochaeris, pensando tratar-se de um tronco aquele amontoado de cor escura, viu um avanço sobre a “mocinha” escolhida, que num átimo virou presa fácil através do abraço macabro; amedrontada e sem forças para resistir, foi percebendo que aquele abraço a apertava e a triturava com uma facilidade incrível. Depois, afundando a constritora, esta a levou justamente para o lado em que eu, Hernando Parará Borgiano, me encontrava”.

E, na maior cara de pau, informou aos seus ouvintes que, de posse de sua arma predileta, um arsenal de spray de pimenta contendo desde malagueta até a tal mexicana, a conhecida Habanero, misturadas com solução de bateria, mirou nos olhos faiscantes de dona Suk Uri e nela lançou um jato, a qual deu um urro de dor (percebam que a serpente da história de Borgiano "gritava" histericamente!!!) e liberou o corpo inerte da Capi Varaiba, disponibilizando-a para o já variado cardápio de carnes da casa dele. Caçada das mais baratas que ele garantiu ter feito!

–Acontece, meu irmão, que eu estava tão compenetrado em salvar o animal do ”bicho rastejante” que nem vi o rumo que a Suk Uri tomou, imaginando eu que ela foi cantar noutra freguesia, ou seja, em alguma baía do pedaço, onde deve estar usando óculos Ray Ban, porque fiz um estrago nos olhos daquela famigerada, predadora de inocentes animais silvestres.

–E o spray? Você pode me mostrar para eu fazer uma análise na sua composição química e botânica? - perguntei de chofre.

–Você acha que vou entregar de bandeja um produto que eu desenvolvi, após tanto experimento? Espere sentado, meu ingênuo amigo!

Realmente só sendo um ingênuo para aceitar que uma narrativa mentirosa chegasse ao seu final, daquela maneira melodramática e acintosa, bem ao espírito de contumaz falastrão já sem salvação no reino de Deus, o Hernando Parará Borgiano,  o pouco diligente vigia, mas um grande enganador do entorno guajaramirense.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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