Segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014 - 20h04
Sinto pena de ti, guajaramirense, que és relegado ao abandono!
Sinto pena de ti, guajaramirense, que aceitas tudo passivamente!
Sinto pena de ti, guajaramirense, que, por ação e omissão de autoridades federais e estaduais, ficas a mercê de uma rodovia que se enche de água e, como resultado, te deixa sem gás, sem mercadorias, combustíveis, sem remédios mitigadores, enfim, sem gêneros e sem direito para buscar no hospital de Porto Velho e nos equipamentos a qualidade de vida que não tens aqui desde o sempre, como, por exemplo, aqueles que salvam pessoas que necessitam fazer hemodialise!
Sinto pena de ti, guajaramirense, porque me disseram que fostes trocado por dois supostos nativos das florestas que, com o advento da rodovia 421, ainda no Governo Jorge Teixeira, foram conduzidos por maquiavélicos senhores para se fixarem em terras próximas ao Parque Estadual de Guajará-Mirim, lugar onde nem viviam, aonde essa BR deveria transitar, transformando-se em inocentes úteis para que essa estrada imprescindível (para Nova Mamoré, Guajará-Mirim, até para o Estado do Acre e a Bolivia) tivesse interrompida a sua construção.
Sinto pena de ti, guajaramirense, que constitues um universo de 40.000 habitantes (mais, 30.000 dos moradores na cidade de Nova Mamoré, 60.000 de bolivianos de Guayaramerin e 100.000 de Riberalta) números que somaremos 230.000 almas esquecidas, violentadas pelo abandono, estupradas pela ignorância e insensibilidade de agentes públicos, razão que nos leva à descrença e à desesperança.
Sinto pena de ti, guajaramirense, integrante de uma população de 40000 pessoas, porque foste trocado, consoante já citado, "por dois supostos nativos das florestas", significando que o valor que tu dás a eles, respeitando-os, é a moeda que os perversos se valem para impedir o teu progresso e o teu desenvolvimento, em face da interdição da ligação que nos alentaria abrindo o elo com Ariquemes. Na teoria da conspiração democrática 40000 é infinitamente maior que 2.
Sinto pena de ti, guajaramirense, por seres tolo, paciente, covarde e ingênuo. Jamais serias herói porque tu vendes o teu voto para políticos mal formados e que, desde há muito, te enganam com palavras e palmadinhas nos ombros, buscando sufrágios para assegurar seus ganhos de capital, em Brasília e em Porto Velho, sem que uma luta necessária, básica, fundamental, oportuna e inteligente assegurasse o cancelamento da ordem absurda e imbecil que neutralizou o avanço da rodovia 421, em tão boa hora criada.
Sinto pena de ti, guajaramirense, porque aceitaste mansamente a ida da população da qual fazes parte, para o corredor da morte, igual um boi caminha para o abatedouro, e sem desinfecção, entra num tronco, depois servidores públicos bem assalariados, que vivem noutros ricos lugares, trabalhando sobre tapetes e com ar condicionado, vendo cenários deslumbrantes, por suas negligências será como terão mirado na nossa direção uma pistola, que tem um arpão na ponta e crava o desaparecimento de uma população indolente. Em seguida qual animal morto não temos uma esteira para receber uma perfuração de um instrumento afiadíssimo na região do pescoço conduzindo-nos para a mortal sangria.
Como não iremos para o gancho, será como retirar a nossa pele (devemos ter couro e não pele, pois somos de segunda classe), despegar a carne dos ossos e do couro,quando tempestivamente poderias, Oh Guajaramirense! ter mostrado que 230.000 habitantes valem, repito, muito mais que dois representantes dos povos da floresta, inseridos, incorporados de forma adrede, tal qual numa peça de teatro, como coadjuvantes, usados como massa de manobra, no entorno de um traçado, incluídos de forma sub-reptícia, num cenário para impedir um itinerário, que iria favorecer, em face do planejamento, decorrente de uma decisão estratégica, no caso de um colapso como aconteceu com a interdição da BR 425, a tua tranquilidade... dos teus filhos e netos... dos teus avós, pais que podem ficar doentes... dos pacientes dos precários hospitais locais que precisaram fornecer remédios, que agora não podem chegar, aos que padecem dores físicas e espirituais, porque sempre se sentiram relegados.
Sinto pena de ti, guajaramirense, porque exterminaram como se fosse num genocídio a chance de continuar te vendo ligado à capital através da Ferrovia de Deus, a Ferrovia da Integração, a Ferrovia da Vida, sim, a ferrovia que deu vida, qual mãe dadivosa, para diversas que cidades e núcleos pudessem nascer e vicejar. No tempo da ferrovia, mesmo nas cheias mais contundentes, jamais ficamos isolados, como agora!
Sinto pena de pena, guajaramirense, pois criaram no lugar da ferrovia da vida, a rodovia da morte, essa uma que é conhecida como BR 425! Nem as pontes de ferro (agora debaixo d’água) oxigenarão o tráfego. Mas, a BR 421 se tivesse trânsito teríamos uma alternativa para sobreviver, via o acesso no rumo de Ariquemes, passando pelo Parque que, a exemplo de outras regiões (Foz de Iguaçu) deveria ter no trajeto as proteções devidas à fauna e o acompanhamento de guardas florestais.
Que pena!
Sinto pena de ti, guajaramirense, que embora tenhas derramado lágrimas pela crueza da decisão que matou a ferrovia, nada fizeste para impedir essa morte tão prematura, mas que fora anunciada, porque sabiam que tu és covarde e fraco e nenhuma ação produziste para que aquela incúria fosse neutralizada. A pena que sinto de ti, sinto dos antigos portovelhenses que também se acovardaram e nenhum protesto fizeram emergir do fundo de suas almas para a destemida luta visando a sua manutenção e continuidade.
Tenho pena de ti, guajaramirense porque, enfim, tenho pena de mim também, porque sou guajaramirense e sinto que, como cidadão brasileiro, continuo abandonado!
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