Terça-feira, 31 de maio de 2011 - 14h17
Paulo Cordeiro Saldanha*
Quero escrever, liberar palavras que nem o vento poderá deter, nem apagar. Desejo expressar a minha força e as minhas fraquezas; o meu lado selvagem e a parte lírica das minhas vivências; as inseguranças e a minha sensibilidade, que me elevam; enfim, a multidão que me habita e os demônios que tentam (sem o conseguir) me fossilizar, enfraquecendo-me.
Escrever para mim é como dominar os espaços e percorrer os meus horizontes, de mãos dadas, ora com a felicidade, ora com a minha solidão. Ir e voltar lá do infinito e, após, beber água límpida da fonte, subir aos céus abençoando as pessoas e a natureza.
Escrever para mim é como cantar a mais linda canção de ninar, segurando o dedinho da criança tonta de sono, que, mesmo assim, esboça um sutil sorriso, não desejando dormir, senão depois de ouvir, em toda a extensão, a música que tanto lhe agrada.
Escrever para mim é como receber a visita de um anjo, que ia noutra direção, mas me viu, parou e me enxergou como um homem do bem, cuja ansiedade precisa ser estancada, mediante a psicografia de frases que, ao interromper a sua caminhada, me foram assopradas, me fazendo crer que seriam simples inspiração.
Escrever para mim é como levar um presente à criança ou ao idoso, abandonados na Casa que os acolheu, e ver refletido esse gesto em verdadeiros sinais de alegria que se estampam no rosto de quem se julgava só.
Escrever para mim é como distribuir o alimento que faltava, numa mesa limpa, porém, cheia de escassez, compensada apenas pela plenitude de amor e de esperança naquele lar reinante.
Escrever para mim é como receber o agasalho que diminui o frio do corpo e da alma; é receber no quarto úmido o cobertor que aquece e que neutraliza o isolamento físico de quem anda em busca de aconchego e calor.
Escrever para mim é como gritar com tanta força o amor que guardo dentro do peito, para distribuir na intensidade e na cadência tão contritas, tão eloqüentes, enquanto pulsa e me palpita esse fértil coração.
Escrever é como recolher a bênção maternal; é a recordação do beijo na mão e na fronte da Mãe que já não vive, mas que está naquele gesto perenemente gravado na história do amor filial, que não se acaba.
Escrever para mim e ir caminhando em direção à vida e, lá na curva do caminho, dar um adeus às recordações, boas ou amargas, procurando esclarecer com o balançar das mãos que um dia voltarei devidamente abençoado com outras vitórias.
Escrever é inspiração. É percepção do entorno, onde o escritor se fixa como indivíduo e como ente social. Escrever é retratar a vida, a natureza, o semelhante, a sociedade, enfim, o universo a sua volta, num horizonte de tempo.
Escrever é situar perante aqueles da sua geração, e das posteriores, a lucidez ou a loucura do seu tempo, a lógica e a dialética, a tese, antítese e a síntese, segundo o seu olhar.
Escrever é tentar demonstrar que o narrador, muitas vezes, um visionário, busca colocar como se fosse uma verdade, a hipótese que gostaria que acontecesse.
Escrever, enfim, é a explosão dos meus devaneios, meu grito de guerra, a minha saudação de amizade, o aperto de mão e o abraço mais afetuoso; é a forma que encontrei para estar em comunhão com o próximo, se aqui ao meu lado, se lá bem distante. É a maneira mais sincera que pude descobrir, para expressar meus sentimentos de tristeza e de saudade, de desculpas e de perdão, de alegria e de felicidade.
Fonte: Paulo Cordeiro Saldanha
*Membro Fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e Membro Efetivo da Academia de Letras de Rondônia-ACLER.
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