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Paulo Saldanha

Eureca, a MINHA MONOTÔNIA é porque a CARGA ESTÁ ADÚLTERA


 

Paulo Cordeiro Saldanha*

 

Existem pessoas que adoram falar difícil. Fixam-se em algumas palavras e esquecem de verificar o significado, os acentos e os tempos dos verbos.

Meu pai costumava contar as conversas que mantinha com um dos seus Assessores mais próximos, sempre disposto a demonstrar intimidade com o idioma pátrio. E sem se socorrer do dicionário lhe sapecava frases cômicas que lhe doíam a audição:

–Chefe, hoje amanheci com aquela “monotônia” de amargar...

Lá pelas tantas, um dia, a carga de uma das embarcações do Serviço de Navegação do Guaporé chegou vinda de Vila Bela da Santíssima Trindade, com evidentes sinais de violação. E o intrépido colaborador não titubeou:

—Patrão, a carga chegou “adúltera”, temos que trazer um “périto” para verificar o “Status Quo Vadis” da mercadoria...

E meu Pai, pisando em ovos para não rir, partiu em direção ao Porto do SNG.

Mas ele não desejava ser testemunha de uma cena de adultério, não! Apenas quis conhecer o prejuízo, gerado pelo dano (o furto) e a indenização ao destinatário, o comerciante dono da mercadoria.

E, é evidente, transferir para o Delegado a obrigação de descobrir o autor do desvio praticado.

Nas minhas andanças como profissional de Banco também me deparei com estórias semelhantes.

Numa, na cidade de Cuiabá, bem antes da minha chegada por lá, um Engenheiro Agrônomo taxou a frase que se eternizou no ambiente bancreveano da minha geração: “e assim crimos que, com isso, refreamos preventivamente o ocaso vago do insucesso...". Esta pérola consta no item Conclusões por conta de um Laudo de Avaliação de uma propriedade rural.

Se tentou ser técnico não conseguiu; se optou por se transformar em poeta fracassou, haja vista que ninguém entendeu a sua intenção.

Noutra feita, um escriturário, tendo sido levado a substituir um Fiscal Rural, na preparação de outro laudo, quando tratava das garantias a serem prestadas por um pecuarista saiu-se com essa: “Deixo de considerar os bezerros como integrantes da hipoteca (seria Penhor) em face de os mesmos serem menores de idade...”

São verdadeiros arquivos implacáveis que o cotidiano nos presenteia, em qualquer atividade.

E as provas do ENEM estão ai a produzir gargalhada e alguma dose de vergonha!

Aqui em Guajará-Mirim havia um comerciante que teimava que a palavra Eureca era o nome da mulher do Arquimedes. O seu interlocutor, ao esclarecer que, no idioma Grego, Eureca significa Achei, não se conformando, saiu-se com essa:

–Fulano, quando você está na sua casa e deseja falar com a sua mulher, você não chama pelo nome dela? Ora, Eureca é o nome da esposa do Arquimedes, sim!

E ainda tem aquela história do bancário que não admitia ser chamado de Poliglota, por considerar termo assaz insultuoso, mas agradecia quando o apontavam como pederasta, para ele, palavra que continha o significado de homem que falava fluentemente vários idiomas.

E aquela do Estácio Lopes Gusmão, versado homem de agência bancária, quando foi apanhado em cima de uma mangueira, em terreno dos americanos e decidiu contornar o flagrante falando um controvertido Inglês para o Proprietário, um Evangélico generoso, mas agressivo e revoltado com a invasão:

–Saber, Mister que my Mother gusta muy mangue madurre!

O pobre Estácio não teve tempo para ver a fuga do Joroca, do Charuto e do Pepê, seus companheiros naquela empreitada, pois ficou apanhando do estrangeiro e nem pôde levar uma manga para sua querida Mãezinha...

Coisas do cotidiano, coisas da vida...

Fonte: Paulo Cordeiro Saldanha
  
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