Domingo, 6 de setembro de 2009 - 22h28
Sou de uma época em que o Sete de Setembro, aqui na fronteira, não começava dois dias antes, ou seja, no dia cinco. Na realidade, começava em junho porque recebíamos aulas de ordem unida, ou sob o comando de um sargento do Exército ou sob o fervor do Chefe Cláudio, irmão do senhor Lúcio Carvalho, aquele líder dos Escoteiros aqui em Guajará.
Como estudante no Nossa Senhora do Calvário, eu observava que havia uma preparação bem anterior, em que os quatro hinos oficiais brasileiros (Nacional, Bandeira, Independência e Proclamação da República) eram ensaiados durante muitos e muitos dias, visando a não permitir que alguém pudesse desafinar.
Aprendíamos a marchar e, quem tinha talento, podia tocar Surdo, Caixa e Tarol, o que representava excelso prestígio e honra. Eu, que desafinava e não detinha talento para os tambores, me realizava marchando, ou ouvindo e cumprindo, com devoção responsável, a ordem de ordinário maaaarche! Meia voooolta, volver! Esqueeeeerda, Vooolver! Direeeeeita, Vooolver! Descaaaansarrr!
Alguns alunos eram escolhidos para as apresentações teatrais, cujos textos as Irmãs Calvarianas Maria Agostinho, Ruth, ou Maria Celeste criavam em cima de um tema regional.
Ora, era a catequese promovida por Dom Rey, dirigida aos brancos e aos índios, que íamos reproduzindo, vestidos à caráter, com a sofreguidão decorrente do orgulho de participar da festa brasileira, representando o nosso Colégio. Ora, traduzia uma mensagem, através de uma história exemplar.
Quase sempre, no dia cinco de setembro, com a nossa “fala”, na ponta da língua e com numerosa assistência, dávamos vazão a nossa têmpera de artistas, de atores, que jamais chegamos a ser. Mas valia a pena, ora se valia, em face da honra de nos vermos frente à frente com a platéia, num palco improvisado, nas escadarias do “Simon Bolívar”, naquele tempo sob o comando da Professora Floriza Nicolau Bouez, veneranda educadora, sábia diretora que, também, conduzia os alunos do Grupo Escolar que dirigia, a exercitar-se nessa arte, com textos bem elaborados, transformados nos atos que o peça teatral exigia.
Havia até uma sutil disputa entre os alunos do “Nossa Senhora do Calvário” com os do “Simon Bolívar”, porém, sem agressões, sem intolerância, mas, sobretudo, com muito respeito.
Éramos recompensados com refresco de groselha, bolos, salgadinhos e, salvo engano, com a gratuidade pelos ingressos que nos levavam a assistir a um filme no Cine Guarany ou no Cine Melhem, por conta de um acordo com o Prefeito.
Já no dia sete, na manhã, por volta das nove horas, a emoção ficava por conta do desfile militar, este, sim, bem cadenciado, vibrante, rico de expressões marciais e dos gritos de guerra de nossos valorosos soldados, que emocionavam a assistência.
Na parte da tarde, já com o Estádio de Futebol inaugurado, onde hoje é a Prefeitura Municipal, íamos torcer pela seleção de Guajará contra o selecionado de “La Banda” e Riberalta. Na verdade, para nós era o Brasil jogando contra a Bolivia...
Algumas vezes vinha a seleção de Porto Velho e, através de um quadrangular, com os irmãos da Bolívia, se disputava um troféu, em que a seleção da terrinha sagrou-se campeã de forma repetida. Essa disputa começava no dia cinco e a partida final, para a definição do campeão, homenageava a data magna brasileira, no feriado de sete.
À noite, as seleções representantes das duas cidades, se enfrentavam no basquete, coroando os festejos no campo esportivo. Lá pelas 22 horas, o Baile da Municipalidade fechava com chave de ouro as comemorações da festa da Independência. Normalmente, os comandantes militares, no traje de gala, abriam o instante dedicado às danças.
O importante era a participação! A cidade se vestia com outros adornos e havia um orgulho que enaltecia o civismo, síntese da positiva vaidade de sermos brasileiros, independentes e esperançosos!
Muitas dessas tradições continuam ainda hoje incorporadas nas ações e reações de nossas escolas, colégios e Institutos. Ainda bem! Cumprir essa herança de brasilidade é demonstrar o amor à terra chamada Brasil, a quem os cidadãos nativos devem reverenciar, porque, apesar dos percalços no campo da ética e da moral, ainda se respira liberdade e há, salvo exceções, a concessão de oportunidades a todos quantos queiram crescer. Não fosse assim, o Lula da Silva, não teria chegado ao cargo maior da nação.
Não custa nada lembrar, na semana da Independência, a mensagem que traduz o orgulho de um Olavo Bilac, receitando às crianças brasileiras o exercício de cidadania que o soneto à Pátria enfeixa como mensagem de fé:
”Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!
Criança! Não verás nenhum país como este!
Olha que céu! Que mar! Que rios! Que floresta!
A Natureza, aqui perpetuamente em festa,
É um seio de mãe a transbordar carinhos.
Vê que a vida há no chão! Vê que vida há nos ninhos,
Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!
Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!
Vê que grande extensão de matas, onde impera
Fecunda e luminosa, a eterna primavera!
Boa terra! Jamais negou a quem trabalha
O pão que mata a fome, o teto que agasalha...
Quem com o seu suor a fecunda e umedece,
Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece.
Criança! Não verás nenhum país como este!
Imita na grandeza a terra em que nasceste!”
Fonte: Paulo Cordeiro Saldanha
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