Quarta-feira, 18 de setembro de 2013 - 10h29
Naquele tempo eu nem planejado estava, tampouco estabelecidoque eu seria morador num canto determinado do Universo. Mas, em 1931, Joubert de Carvalho e Olegário Mariano se reuniram para a produção de Zíngara, uma canção-rumba que, não sei explicar, me comove ao extremo. É mais uma das heranças recolhidas, no campo musical, do casal Paulo e Mita, que me conceberam.
“Vem, ó cigana bonita / Ver o meu destino / Que mistérios tem / Tu com os olhos / De quem vê no acaso / O amor da gente / Põe nas minhas mãos / O teu olhar ardente / E procura desvendar / No meu segredo a dor, Cigana, do meu amor / Mas nunca digas, / Ó zíngara, / Que ilusão me espera, / Qual o meu futuro. / Só àquela por quem / Vou vivendo assim à toa / Tu dirás se a sorte / Será má ou boa / Para que ela venha / Consolar-me um dia a dor / Cigana, do meu amor”.
A batida e o ritmo da canção mexem comigo! Que justificativa espiritual poderei encontrar para decifrar esse (apenas para mim) enigma?
Mas há outras músicas que, por conta do cancioneiro popular, me surpreendem enlevando-me, quando vou buscar emoções no recôndito de minhas almas (pretensioso, adianto: devo ter mais de uma, posto que se comovem com ritmos tão diferentes), haja vista o quanto a “História Triste de uma Praieira” se traduz em emoção, ao tê-la ouvido através da bem afinada voz de minha tia Estela Casara, que evocou para mim tantas lembranças maternais.
São da linha popular, mas que algum dia entronizarão no panteão dos clássicos...
“Canto em Qualquer Canto” é outra melodia que quase me leva às lágrimas, assim como “Assum Preto”, “Asa Branca”, “Malandrinha”, “Valsinha”, “Naquela Mesa”, “Modinha” “Roda Viva”, “Caminhemos”, “Mensagem”, “Lua Branca”, “Negue”, “Cavalgada”, “Porto Solidão”, “Voa, Liberdade”, “O Último Desejo”...
Valorizo-as porque têm começo, meio e fim, tanto no conteúdo, forma e no ritmo melódico.
Na vertente dos clássicos, “Noturno” (Chopin), a Quinta e a Nona Sinfonias de Beethoven, “Réquiem” do Mozart, “Quebra-Nozes -Pas de Deux”, do Tchaikovsky, “Bolero” de Ravel, “Ave Maria” de Gounoud, para mim representam a nota máxima da referência da criação musical pelo homem, conduzida por mãos divinas.
Sem que eu não deixe de valorizar outras partituras.
Afinal, a música será sempre a mãe das demais artes. Até porque, por exemplo, a dança se respalda nos sons criados para definir suas evoluções; um poeta se inspirará melhor se um fundo musical lhe despertar a verve; o romancista criará imagens tão profundas a partir do gracioso movimento de notas que se unem como se dessem as mãos numa ação seqüenciada para fazer amor com o lirismo e, assim, gerar o belo; e o artista plástico emoldurará seu talento para a posteridade quando nas passarelas da natureza ou num ambiente sensual e acolhedor desfilarem acordes que possam lhe chegar através da brisa tocada pelo vento.
E “nos antigamente” uma serenata só seria possível se a canção derivada de sons e ritmos bem articulados na frente da casa da mulher amada se expandisse na cadência de um samba-canção, bolero ou tango, na voz do seresteiro valorizado pela expressão grandiloquente da lua brilhando lá de cima, com seu sorriso maroto de quem desejava ser cúmplice de um namoro a ter início já no dia seguinte...
Se os tempos modernos diminuíram a força e a intensidade de uma seresta, a música, desafiando o tempo, se mantém íntegra, vencedora, incitadora, e vai comovendo e enternecendo almas, assim como a esta, que vai registrando a sua comoção porque é impressionante o que elas fazem comigo...
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