Sábado, 8 de agosto de 2015 - 16h08
Ainda ontem, sete de agosto, passei na frente da antiga estação ferroviária de Guajará e me deparei com uma espécie de encantamento: os ipês ali plantados irradiando cor intensa, desfilando aos nossos olhos a majestade que transita pelo belo e comove a todos durante a eternidade da sua exposição.
E peço perdão pela rima pobre com a qual inicio esta crônica dizendo que, quando o ipê libera as suas flores no auge do verão, é o instante em que, em função das queimadas, a tristeza me esturrica o coração.
Mas, mesmo assim, faço ao Ipê a minha genuflexão mais respeitosa, porque o vejo arrancando do solo quase estéril as dores que transformam as folhas verdes de ontem em flores amarelas, e as oferece como bênção, através dos galhos, em versos de amores vegetais, como quem declama um poema fazendo gestos com a direita mão. Fenômeno que ocorre “num abrir e fechar dos olhos da escuridão”...
Não tem jeito, não! Os ipês, sejam da cor amarela, lilás ou branca, despertam a atenção e aguçam os nossos sentidos. Sem desejar ser repetitivo, eu declaro: eles emocionam! Eles comovem! Estejamos no pantanal guaporense, ou transitando nas nossas avenidas, ou ainda olhando o entorno da antiga estação ferroviária desta cidade.
Matizes que somente o Pintor Maior do Universo consegue atingir, por conta do talento único que o poder mais elevado da divindade lhe concede, tanto que emociona a todos os expectadores daquele espetáculo ao ar livre, pois se sabe que, qual cometa, esse evento natural tem passagem ultrarrápida, é efêmero; tampouco isso não lhe diminui a importância, dada a dimensão da estonteante beleza que arrepia e enternece.
Comparando, o ipê tem a mesma expressão, aqui no nosso mundinho vegetal, do cometa Halley, por exemplo, que aparece de tempos em tempos, extasiando os terráqueos; daí serem esses dois celebridades universais, tão importantes quanto o Dalai Lama e o Papa, que, quando diante de nós, criam um frisson e todos celebram as suas chegadas.
E o amarelo implantado nas paredes da antiga estação fica esmaecido, desbotado, pálido como se estivesse com malária, confrontado com o dourado retumbante que emerge altaneiro das flores dos ipês que, depois se deitam no chão, afagando as pupilas dos nossos olhos.
Em contraposição, o amarelo pintado pela Excelsa Divindade é tão especialmente superior que nem precisou de outra “demão”.
Pena que essa atração dure tão pouco! Porém, talvez por isso mesmo, seja tão valorizada.
Um dia, lá para as bandas de 1992, na companhia do senhor Ueda, Presidente do Banco Sumitomo, sobrevoando o sagrado Vale do Guaporé nos deparamos com a encenação da diversidade dos ipês amarelos e roxos. Ora eu olhava para a margem esquerda do rio, ora para a direita, me extasiando com o quadro pintado naquela imensidão do pantanal rondoniense: aquelas tonalidades de amarelo misturando-se com o roxo da mesma espécie, a dos sagrados ipês, simbologia maior da expressão do talento divinal, do bom gosto com o belo. Por isso é declarada a flor nacional.
Como a flor nacional o ipê continuará soberanamente sendo admirado, pois, assim como a nossa bandeira, é um símbolo augusto da paz e do deslumbramento, haja vista na outra vertente traduzir durabilidade, força, energia, resistência e contemporaneidade, e jamais passará sem ser notado, diferenciando-se das demais espécies da botânica universal.
Para finalizar copio um pequeno poema, nos termos a seguir em que destaco o seu autor: Sílvio Ricciardi
“Ontem floriste como por encanto,
sintetizando toda a primavera;
mas tuas flores, frágeis entretanto,
tiveram o esplendor de uma quimera.
Como num sonho, ou num conto de fada,
se transformando em nívea cascata,
tuas florzinhas, em sutil balada,
caíam como se chovesse prata...”
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