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Paulo Saldanha

'Madeira-Mamoré: 100 anos depois...o sonho não acabou'


Impossivel para alguém descrever a emoção quando ela explode de repente. Na verdade, a emoção será sempre maior do que a capacidade humana de interpretá-la nos seus tons, causas, matizes, expressões e cores. Sem desejar desmerecer, mas nem o poeta maior é capaz de retratá-la com a pureza, lirismo, grau e intensidade com que foi ela sentida.

Emoção que todos sentiram ao participar dessa programação que tornou possível a apresentação do documentário, a palestra do Economista e historiador Anízio Gorayeb, partes de um grande projeto da prefeitura de Guajará-Mirim - através da 'Madeira-Mamoré: 100 anos depois...o sonho não acabou' - Gente de OpiniãoSEMCET, idealizado pelo então Secretário de Cultura, que o substituto Diego Orsini e equipe executaram de forma competente e arrojada, pois iniciou em 30/04/12 (em parceria com Governo do Estado/Secel e Correios) com o projeto Parque da Música, em comemoração à instalação do último dormente, no km 366, aqui em Guajará. Foram realizadas diversas apresentações e exibições de filmes naquele dia.

Depois, uma série de ações para continuar celebrando o centenário da Madeira-Mamoré fora concebida. Uma delas foi essa programação do fim de semana: palestra do Anisio Gorayeb, exibição de filmes no Iata, lançamento e doação do livro do Antonio Ocampo e exibição do belo documentário do Carlos Levy, Show do Pirarublue (Sandro e Gioconda) e a emocionante Queima de Fogos.

Outras medidas ainda estão por vir!

Pois é, eu afirmava que fui tomado de forma plena pela emoção ao assistir ao filme “Madeira-Mamoré: 100 anos depois...o sonho não acabou”, uma criação do Carlos Levy, portovelhense dos mais ilustres e criativos, idealistas e generosos com quem tenho convivido.

Ao seu lado, essa menina linda, simpática, inteligente e nobre, a Golda Barros; ambos fizeram do próprio sonho a realização dos desejos mais intensos de outras pessoas: o resgate da história da ferrovia da integração, a ferrovia de Deus, a nossa Madeira-Mamoré.

É que ambos, embarcaram num “Ita do Norte” surreal... quando–frases que emprestei do Renato Teixeira- “amanheceu, pegaram a viola,  botaram na sacola e foram viajar” na busca de recursos, sem imaginar as dificuldades a ultrapassar e finalizaram o filme, com a dignidade e satisfação interior que coroam os seres abnegados que concluem positivamente uma missão.

Por serem descendentes de destemidos pioneiros da região, com o amor à terra a pulsar nos seus corações e na palma de suas mãos, foram à luta e acabam de nos legar um trabalho cinematográfico de elevado conteúdo histórico, cultural, econômico, sentimental e filosófico.

O filme mostra, pelo manancial de imagens seqüenciadas, que o planejamento conduz um sonho pela correnteza da ação, que desemboca no estuário da vitória, cujas conquistas navegam pelos paranás da criatividade, pelas eventuais e necessárias correções de rumos, para contornar os entraves surgidos, quando se vencem com arrojo e pertinácia as corredeiras, os tombos e as cachoeiras das dificuldades financeiras, limitações e incompreensões humanas, estruturais, geográficas...

O que é feito com desvelo, amor e garra nos faz ir superando as incapacidades para compreender, vilanias e descasos... até que tudo resulte em águas tranqüilas de um lago azul, sereno e manso. Foi o que aconteceu!

O documentário do Carlos Levy é uma obra prima nascida da sua natureza de diretor sagaz e talentoso, que se sobressai porque tem inteligência, sensibilidade e sabedoria para fazer escolhas certas, no devido tom, que acabam instigando toda a platéia levando-a a se comover com alguns depoimentos recolhidos e, na outra ponta, se revoltar com o abandono a que desavisados impuseram à maior obra erguida pelo gênero humano no inicio do Século XX, aqui na geografia hoje rondoniense, quando a visão sem foco de autoridades que viviam no Planalto Central, deixou de enxergar uma verdade: nas margens da Madeira-Mamoré viviam centenas e centenas de famílias, a quem negaram a chance de sobrevivência porque as abandonaram ao Deus dará, como se cidadãos de classe inferior fossem. Pobre do pobre!...

Se a rodovia BR 425 (que atende o guajaramirense aos trancos e barrancos) fazia parte da nova estratégia geopolítica infraestrutural do Governo Federal, os sitiantes convocados pela própria União, no passado –para ocupar as margens da ferrovia Madeira-Mamoré– jamais deveriam ser lançados à própria sorte...

Mas não desejo falar mal; apenas fixar-me, ainda comovido com o filme, no documentário que retrata a lendária ferrovia Madeira-Mamoré, uma Mãe dadivosa, que fundou cidades, levantou a economia, ergueu a bandeira da cidadania a tantos indivíduos (brasileiros e bolivianos).

Todavia, não temos os poderes para ressuscitar o Jorge Teixeira e o Isaac Bennesby, nem para convidar o inesquecível militar Cirino, três nomes imprescindíveis quando o trem voltou a trafegar, com objetivos turísticos, no trajeto Porto Velho e Santo Antonio e entre Guajará e o Yata, em 1982, três homens predestinados, por isso inesquecíveis por todos nós...

 A Ferrovia Madeira-Mamoré está historicamente resgatada, perenemente eternizada ante a competência de um jovem diretor, o Carlos Levy, apoiado na sensibilidade da sua mulher, a Golda Barros, com o incentivo do IPHAN (leia-se Beto Bertagna), respaldados por outros idealistase queacabaram por produzir uma verdadeira obra de arte, pois as imagens falam por si só, o som é inigualável (assim como o fundo musical escolhido), enfim um resultado que enaltece a arte cinematográfica rondoniense, mas que isso, a amazônica.

Segundos imediatamente seguintes ao fim do documentário uma chuva de fogos de artifícios extasiou uma platéia emocionada, para depois disso tudo, os artistas Sandro Bacellar e Gioconda darem inicio ao show musical, cantando a música canção Estrada de Ferro Madeira Mamoré , numa sincronia tal que causaria inveja a qualquer Reveillon celebrado mundo afora.

Senhores, eu vi homens e mulheres enxugando o cantinho dos seus olhos... mas nem me importo se alguém tão comovido tenha me flagrado com os olhos marejados, desejando aplaudir, abraçar e beijar, de forma absolutamente agradecida aos meninos rondonienses que produziram essa pérola de obra à altura de uma Terra abençoada...

Parabéns a vocês, Carlos e Golda! Deus lhes pague! Lá do alto, um século depois, muitos espíritos de muita luz lhes contemplaram!

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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