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Gente de Opinião

Paulo Saldanha

Mister Gerald, o valente comedor de tucumã



Antes de mais nada, convém apresentar o mister Gerald, homem bom, cientista criativo, eletrotécnico, mecânico, filósofo, enfim, um múltiplo homem com os mais variados dons com que Deus o presenteou à sua família que, por sua vez, o ofereceu como empréstimo à humanidade de sua geração.

Ocorre, que mister Gerald tem uma “tara”: é doido, doidinho da Silva por tucumã, razão aliás de alguns dissabores que já o alcançaram por conta desse vício que jamais se desalojou do seu perfil de nordestino intrépido, apaixonado por essa Amazônia de Deus, Pai e Criador.

Convém mais ainda: vou falar do Mister Gerald, cidadão muito macho, valente mesmo, que me dá um orgulho enorme, danado de grande, em divulgar suas proezas, posto ser ele sempre invadido por um destemor que se apodera do homem, numa intensidade tal, que lhe modifica o semblante quase insano, ponto forte na sua índole, personalidade peculiar, pois tem apego à aventura e ao desafio, e descobri que esse homem tão valente, já na lua de mel, demonstrou a que veio para o seu casamento de mais de 43 anos como um dos seus atributos mais determinantes – a coragem.

Na primeira semana após o casório, o casal acordou com barulho típico dando conta de que sua residência estava sendo invadida. E Mister Gerald, escondendo-se atrás da bela esposa exigiu que ela enfrentasse as feras que tinham ousado ingressar sorrateiramente no ambiente familiar. Ela, negando-se, concorreu para o choro intermitente, angustiado, com direito a soluços, derramado pelo chefe, em tese, de família. Madame Lúcia, comovida com a reação lacrimejante do marido, munindo-se de uma vassoura, enfrentou com fúria defensiva os bandidos de plantão.

Depois, envergonhado Mister Gerald desejou voar no cabo da vassoura de que a esposa valente se valera para enfrentar a quadrilha.

Valentias à parte, Mister Gerald um dia visitou a fazenda de um grande amigo e eis que, na companhia do coleguinha Eurácio Torito, no campo aberto, descobriu cocos de tucumã amarelinhos que exerceram forte influência positiva nas suas pudicas glândulas salivares.

Pedindo que diminuísse à marcha do carro saltou com ele em movimento e correu com o desespero dos aflitos em direção ao primeiro tucumanzeiro que descobriu. E, antes de abraçá-lo, esquecendo-se de que o tronco é protegido por espinhos, eis que, na correria, Mister Gerald foi surpreendido pela adversa geografia do terreno e caiu num poço, como quem cai do alto de um coqueiro, por um buraco aberto por força de uma chuvarada, quando foi engolido traiçoeiramente. Enquanto despencava, lembrou-se de que no fundo daquele ôco vertical poderia ter uma jararaca ou uma pico-de-jaca. Mal tocou no fundo uma força estranha o impeliu para cima, demonstrando que a sua ligeireza ainda funcionava, numa agilidade tamanha que só o medo, digo, a coragem dele pôde conceber.

Noutra feita, como homem corajoso que parece ser, ele chegou de mansinho à base da caixa-d’água – lugar distante das edificações – e começou a instalar um sistema mais moderno de captação do líquido universal, quando ouviu vozes. E arrepiou todos os cabelos do sovaco e ficou tremendo. Pensou em fantasma ali naquele ermo! Ora, a tal alma falava em português, ora em castelhano. Ora, falava baixo, ora um tonitruante som era entreouvido naquele entorno. Pensou em correr. A voz reverberava na mata verdejante ali bem perto. Um tremor nos lábios denunciava violenta agonia, mas as pernas não mexiam. Estava no mais elevado grau de frouxidão, quase promovendo conseqüências indesejáveis no seu esfíncter, em vias de entrar em atividade Lânguida, humilhante e sem graça alguma.

De repente, descobriu que o vigilante do local, do alto da caixa d’agua vinha descendo, pela escada instalada, após falar ao celular, porque daquela altura o sinal era mais forte.

Riu amarelado e ganhou novas cores no seu rosto que, segundos antes estava denunciando pavor, violento medo que o paralisara momentaneamente.

O Mister Gerald está aí forte, resolutamente generoso e abnegadamente companheiro, cada vez mais valente, corajoso e intrepidamente vencedor de desafios... e continua apreciador de tucuman.

Continua mais: muito valente! Valentia que só perde para a qualidade superior do destemor sempre, a qualquer tempo, demonstrado por sua mulher.
 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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