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Gente de Opinião

Paulo Saldanha

Moacir Pontes Filho, o magro Duro



Esse Moacirzinho, que celebrou 70 anos no dia 26 de março de 2016, é infinitamente mais velho que eu, posto que vim ao mundo exatos 52 dias após o seu nascimento.

Nós, que fizemos tabelinha como atacantes no Colégio Nossa Senhora do Calvário fizemos tabelinhas ainda na barriga de nossas mães, grandes amigas, estendendo uma amizade que uniu as nossas famílias já transferida para a 4ª geração. Eu soube que Mita, minha mãe, e Vitória, a mãe dele, tricotavam juntas, sonhando sonhos de amor com os rebentos que chegariam, preparando sapatinhos, luvas e agasalhos.

Mas, desejo falar hoje apenas do Magro Duro, apelido que desde cedo ganhou de todos, porque, embora pequenino, sabia ser espevitado, jogador intrépido, às vezes sarrafeiro e valente.

Um dia viajou para um pólo e eu para outro hemisfério. Fui estudar no Rio de Janeiro e ele em Lavras, em Minas Gerais, no Instituto Gammon. Lá virou líder do grupo de guajaramirenses. Comandava a turma em cima de uma ascendência, por ser mais velho, embora pequenino no tamanho, qualidade que o inquietava.

Lá pelas tantas o Carlinhos Leal, talentoso futebolista e exímio jogador de ping-pong, venceu várias vezes um tal de Montanha que, recalcado pela acachapante vitória do nosso representante, ainda muito criança, deu-lhe uma raquetada no couro cabeludo, redundando na revolta dos comandados pelo Moacirzinho, imediatamente convocado para bater no violento agressor. Mas não disseram para ele nem o nome, nem a altura do aprendiz de marginal.

Moacir veio em desabalada carreira para vingar a violência imposta a um dos seus. Mas, teve que percorrer freando, com ranger da sola do sapato por quase 10 metros quando descobriu que o autor tinha aquele descomunal tamanho.

–Bem, pensando melhor é prudente que conversemos em primeiro lugar, disse bem ofegante.

–Não tem conversa, não! Você tem que bater nele, indignou-se o Romes Badra, vice-lider do grupo. Ele machucou um dos nossos... E o Carlinhos Leal por ser do bem, não ofende nem a comida que come. E é meu primo!

–Então quem deve bater no Montanha é você que é parente. Não eu, que nem vi a briga...

Moacirzinho dava uma boiada para não entrar naquela briga. Saiu de fininho e apanhou a sua faca de estimação e passou a amolar o instrumento na frente do Montanha que foi negando fogo, apavorando-se.

Ocorre que aquele Golias de Araque era o companheiro de quarto do Moacirzinho. E exclamava para os amiguinhos mais chegados.

–Aurélio, o Magro Duro passa horas e horas amolando aquele quase punhal. Já nem consigo dormir, pois até no quarto ele vem amolando o cortante. Estou com medo...

E o prestígio do guajaramirense Pontes Filho retornou!

Mas o nosso herói tinha um objetivo: avantajar-se na altura. E lhe ensinaram que fazer barra seria ótimo, razão de passar horas e horas com as mãos agarradas na peça de ferro, esticando-se. Um dia, instalou uma lâmpada numa determinada altura e passava os dias medindo-se desejando encostar a cabeça na incandescente. Mas, nem tchum! A lâmpada continuava a desafiar, até que o Clóvis Ewerton teve a feliz idéia de abaixá-la uns 6 centímetros. E não é que o Magro Duro vibrou naquele dia, pois os seus cabelos ainda pretos encostaram na Osram apagada.

As saudades da terra sempre o traziam de volta. Os telefonemas eram difíceis de ocorrer. Às vezes dois dias separavam o pedido para a ligação se concretizar. O Moacirzinho queria vir logo para o aconchego do seu berço natal, após o termino do ano escolar. Foi à cabine telefônica tentar, até que, enfim sorteado 6,5 horas depois de longa espera. Mas, quando ia começar a falar o operário da prefeitura fez funcionar a britadeira, impedindo-o de se comunicar. Gritou bem forte, exigindo que o trabalhador desligasse a temerária máquina que estava ousando impedir que fosse marcado o seu deslocamento através da VASP. Mesmo contrafeito o funcionário diligente parou o seu equipamento de trabalho, talvez com receio de que uma faca fosse utilizada como coerção.

Bem, a minha homenagem a esse queridíssimo amigo de infância e de juventude, aniversariante tão festejado por parentes e amigos, um menino quase idoso que tem carisma e talentos vários. Ele vem escrevendo versos de amor à sua terra, mediante os projetos arquitetônicos emoldurados nas avenidas guajaramirenses; são casas e prédios que a sua mente privilegiada concebe por conta do talento e da criatividade que o abraça, são romances cheios de ternura que vem escrevendo para aplaudir a cidade; são, enfim, quadros pintados à óleo que fazem inveja a Picasso, Dali, Miró e a Goya, artistas da Espanha, terra de nascimento de sua saudosa avó Manoela Villar, um dos seus exemplos maiores, importante matriarca de uma abençoada família que reinou e reina soberana sob os céus desta terra lindeira.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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