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Paulo Saldanha

No Alto da Montanha - Por Paulo Saldanha



Eu bem que gostaria de ter uma serra, um monte ou mesmo uma montanha! Que não fosse uma elevação qualquer! Algo que, numa pretensão arrogante, pudesse ter a altitude de, ao menos, uns mil metros. Nem sei explicar o porquê desses 1.000 metros, e não um Everest, por exemplo, com seus 8.848 metros... De qualquer maneira, que fosse um acidente geográfico só meu. Que ficasse incrustado num sítio imaginário de meu domínio, ainda que esse tivesse pequena área.

É que tenho mania de procurar enxergar mais longe... Serei mesmo pretensioso?

A partir de um morro, se você nele subir dez metros que seja, pode-se enxergar além. De um barranco ou da campina sua visão é limitada e o horizonte é curto, quase que dá para pegar com a mão, fica logo ali.
Subindo-se o morro até os vinte metros de altura pode-se ver outra serra lá longe, mais ao fundo.

Mas aos cem metros de altura a curva do sinuoso rio aparece majestosamente, e a cachoeira parece correr tanto que, mesmo distante dela, pode-se ter a impressão de que os sons da água nas pedras nos chegam aos ouvidos.

Com 200 metros, já numa elevação tamanha, a pequena vila que a gente sabe existir apresenta seus sinais vitais, e uma fumaça branca parece sair de alguma chaminé a partir de um tosco fogão de lenha. O cheiro do café na nossa imaginação nos chega como quem chega do nada...

Todavia, com 1000 metros o ar esfria e a beleza cênica que nos surpreende demonstra que as bromélias e as orquídeas, tão faceiras, estão ali deslumbrantes, sinalizando que para vê-las é preciso subir; e subindo, se descobre que há muito mais vida a partir daquele entorno do que poderia supor a nossa vã filosofia.

Há o murmurejar de vários igarapés que, nascendo naquelas alturas, caminham entre pedras no rumo dos vários pontos cardeais e, desdobrando-se, encontram outros mananciais; mais abaixo formarão outros córregos e esses desembocarão em rios, aumentando-lhes o volume da água e a profundidade do leito, traduzindo-se em mais vida - pois onde há vida há mais pujança, vivificando muito mais exuberância, mais oferta de meios para a alimentação, inclusive dos peixes, quelônios e dos pássaros que, nos seus barrancos, ali gorjeiam e tem o seu habitat...

Até a serpente que rasteja sorrateira adota o hábito de subir em árvores para poder, do alto, espreitar melhor suas presas. Na ação intuitiva ela sabe que precisa subir se quiser encontrar alimento.

Subir é elevar as nossas perspectivas! Enxerga melhor quem pode vislumbrar novos caminhos estando em um plano superior. Do alto, mesmo numa mata fechada, pode-se ver o sol e as estrelas, e assim há como recolher a localização privilegiada e, por conseguinte, fazer a correção do rumo.

E se na dificuldade da subida houver uma perda de tempo, esse detalhe haverá de ser ponderado mediante a facilidade e rapidez na hora da descida...

O prêmio da subida se justifica pela descoberta de inéditos cenários que se pode identificar e vivenciar; a recompensa pela descida se obtém pela experiência alcançada, cujas marcas servirão de alicerces para outras caminhadas com o foco no alcance de novos panoramas, em outros recomeços diante de novas situações.

Afinal, subir e descer faz parte da vida! Porém, é bom que cada um tenha no campo mental uma montanha particular, para que do alto dela se possa sonhar e vislumbrar vitórias, vitórias e outras conquistas pessoais, materiais e espirituais. Aliás, na minha fase atual de vida, reconheço que essas últimas (as do espírito) são as que mais me comovem, porque caminho subindo e descendo morros, serras e montanhas em busca de sabedoria, e as conquistas espirituais são elas que mais me sensibilizam; afinal, através delas tento eliminar os meus defeitos e as minhas limitações, me aperfeiçoando...

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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