Sexta-feira, 18 de abril de 2014 - 19h51
E eis que um arco-íris multicolorido raiou no céu, dando-nos a impressão de que aquele quase dilúvio iria ter fim, ainda que temporário. Embora esperançosos e otimistas, acreditamos que, em face das agressões contra a natureza, os homens de boa e má vontade irão ver a sua repetição em 2015.
Eu, particularmente, desejaria fazer uma aliança com Deus para que essa adversidade climática, gerada pela mão de dirigentes desfocados, jamais mostre a sua cara de novo. É muita angústia, é sofrimento atroz que ninguém merece...
E em verdade lhes digo como esse quase dilúvio começou: primeiro, os engenheiros das usinas hidrelétricas do Madeira deixaram de fazer estudos técnicos competentes alhures, no altiplano boliviano e peruano; segundo, depois os administradores destas se excederam nas projeções gananciosas, fixando-se nos ganhos de capital e nos exacerbados lucros financeiros, deixando uma população à mercê de dividendos sociais negativos, à deriva, perplexa e em desespero: abandono das empresas, firmas e botequins, casas, lares e residências, todos atingidos pela inundação; terceiro, subestimaram as cotas das cheias do rio, em face de deficitárias e desconcertantes análises falhas, por sua vez derivadas de negligentes estudos de topografia e de engenharia. Jamais se viu um dilúvio aqui na região com tamanha gana enfurecida, com agigantada goela e fúria assassinas.
Sou descendente de uma das famílias mais antigas da região. Nenhum fato me foi transferido pelos meus ascendentes referente a uma enchente de tão grande dimensão. Entrevistei pessoas mais velhas que eu, e todas elas me afirmaram que cheia grande igual a esta, sem que alarde maior tenha sido gerado, jamais tomaram conhecimento ou vivenciaram.
“Então Deus abriu todas as fontes do grande abismo e uma chuva torrencial caiu durante 40 dias e 40 noites”. E os nossos rios transbordaram a níveis jamais imaginados pela população estabelecida há mais de um século. Até peixes morreram asfixiados... Quem não tinha “arca” abandonou a vida, seus bens e seus sonhos... E por pelo menos durante 70 dias as águas invadiram a terra, antes tão pródiga, reprodutiva e tão dadivosa, adentrando-se nos igapós.
E não me venham com churumelas! Não foi uma punição divina aos viventes regionais por eventuais pecados, pela devassidão que impera, nem pela perversão de valores que campeia nesta e noutras terras.
Fomos punidos pela imprevidência dos dignitários do poder, pela vontade empresarial fratricida de se obter ganhos, legais e ilegais; fomos castigados pela incúria da pseudo-engenharia moderna, que, por sua soberba, não liga para as mensagens anteriores da natureza...
E houve até um debochado depoimento do representante da ESBR, ao dizer que eram "crendice" as afirmações que botavam na conta das usinas as alagações deste ano...
Fizeram-se esquecidos da geologia e da biogeografia! Até porque um dado que se impõe (?) leva-nos a supor, em face das nefastas conseqüências do que se vivenciou a partir de fins de janeiro a até abril de 2014, que os estudos e análises das vertentes hidrológicas, ambientais, topográficas e geológicas não foram realizados de forma prudente, competente, racional e sem achismos, nos devidos termos correspondentes exigidos até durante as prévias de qualquer estudo fundamental para essa área, a serem verificados por analistas preparados, mormente durante a fase preliminar daquelas exigências na perspectiva de todas as bacias envolvidas dos rios tributários do Madeira (Beni, Madre de Dios, Guaporé e Mamoré).
Aliás, descuido fenomenal, detalhe importante que acarretou mortes, danos psíquicos, perdas materiais enormes, doenças, enfim, tragédias monumentais, sem que nos fosse oferecida uma única chance de, pelo menos, fazer cada um uma pequena arca que fosse, para a proteção das nossas famílias e retirar dos quintais galos e galinhas, mudas de tangerinas, laranjas, limões, capim santo, alface, couve e jambu.
Pobre do pobre! Infelizes dos moradores que ficaram isolados, banidos da vida nacional, sem rodovias, sem acesso, privados da relativa capacidade de ir e vir, sem rumo, desorientados, sem remédios, gêneros diversos, gás, combustíveis, etc., etc.
E pior: pagando preços elevadíssimos para não deixar faltar o mínimo necessário a ser direcionado para a sua sobrevivência e dos seus familiares. Sem esperanças, posto que não supunham, tampouco desconfiavam mediante a ausência de condições para prever o dia seguinte, se teriam ou não de abandonar seus antigos aconchegos, produto de anos e anos de sacrifícios, muitas vezes purgando uma sub-vida para tentar preparar-se para a velhice. Essa incerteza gerava toda uma sorte de fragilidades.
Mas o que se deplora, por conta dos inumeráveis danos sofridos, é a certeza de que preocupação alguma ligada aos aspectos sociais com ênfase no meio ambiente, do qual os seres humanos fazem parte, foi dispensada realmente; até porque, depois da implantação total ou parcial das duas usinas do rio Madeira, o que se viu foi um “nefasto e catastrófico” dano a homens e mulheres, habitantes das cidades de Porto Velho e adjacências, Jaci-Paraná, Nova Mutum, Araras, Nova Mamoré (e distritos) e Guajará-Mirim.
Afinal, até agora não foram observadas ações e intenções reais para se reparar ou compensar os prejuízos decorrentes da falta de previsão anterior, e muito menos aquelas que pudessem preventivamente ter mitigado ou evitado todos esses atropelos que, como assinalado, jamais foram vistos nestas paragens do poente.
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