Quinta-feira, 25 de agosto de 2016 - 15h05
Com tempo sobrando em face da aposentadoria justa e merecida, venho observando mais a natureza e o entorno. Assim sendo, hoje, bem cedo, deparei-me com a frenética algazarra dos periquitos que vão desrespeitando o sono alheio já a partir das seis horas da matina. Frenesi que dá gosto de assistir! E chego a intuir que aquele barulho todo advém da certeza deles de que aqui no lugar onde moramos ninguém lhes fará mal algum...
Formam um bando de ocupados em cima do apuizeiro invasor, nascido sem ser plantado por mãos humanas e que viceja ao lado de um açaizeiro e de um bougainville. Este último tem nome dado em homenagem ao francês Louis Antoine Bougainville, que o descobriu em nosso país (há quem afirme que a descoberta deu-se no México) por volta de 1790 e o levou para a Europa, onde ele se tornou extraordinariamente conhecido, quase um pop star, ficando reverenciado no mundo todo com seus matizes que comovem e extasiam...
O apuí pode ser a dualidade da morte e da vida, posto que nasce do alto como um quase cipó que é, e vai, através do seu abraço macabro, recolhendo a vida de que precisa para vicejar, ainda que para isso a sua hospedeira, com o tempo, venha a sucumbir.
Braço Forte é o significado que, na língua tupi-guarani, tem o nome de apuí, indivíduo genuinamente amazônico. Mas há quem diga que apuí pode querer dizer “fruta pequena”, que alimenta humanos e, entre outros, pássaros, os periquitos irrequietos e escandalosos.
Com o abraço que asfixia devagar a árvore escolhida, é considerado um “polvo” vegetal, haja vista a quantidade de tentáculos que possui e que distribui por toda a extensão daquela ungida perversamente com ânimo fraticida.
É abraço que anuncia uma morte, devagar, devagarinho, sem gritos e sem murmúrios!
Muita gente vivente neste planeta verde, a Amazônia, desconhece; mas até suco, de gosto e cheiro discutíveis, se faz por conta do aproveitamento do fruto marrom do apuí, de casca dura e interior cheio de pequenos caroços. Uns se valem da sua casca e folhas para fazer calmante.
Aprendi que o apuizeiro não é considerado um parasita, porque na verdade necessita apenas de um apoio. Mas é um hóspede que mata o anfitrião. Uma questão, digamos, de sobrevivência!
Porém, desejo falar daquela algazarra que tenho observado nesta primavera, praticada pelos periquitos que, sem pedir licença, avançam sobre os frutos do apuizeiro.
Pequenos pássaros, bonitos, verde a sua plumagem com tons amarelados; vivem em grupo, formando casais - cuja fidelidade, dizem, os acompanha por toda a vida. Galanteadores, são vaidosos e carinhosos entre si.
Aprendi que os ninhos são edificados nos buracos das árvores, notadamente. Se assustados, ante os perigos eminentes, põem a cabeça para fora inspecionando os arredores e, por prudência, vão saindo de mansinho, sem emitir sons, um após o outro. Defendem-se ficando paralisados, em silêncio, ante o estado de risco, confundindo-se com o meio ambiente, muitas vezes pendurados de ponta-cabeça, num galho, até que a ameaça tenha passado.
Vivem em média 20 anos. A fêmea coloca quatro ovos brancos, até que, 26 dias depois, os rebentos aparecem, deixando o ninho cinco semanas a partir do nascimento dos filhotes.
Em bando, cedo, bem cedo, entoam seus cânticos de agradecimentos ao Criador pela descoberta de comida. Dizem que, ao contrário do que acontece entre os humanos, os machos são mais faladores.
Assim, e concluindo, vejo que ninguém é totalmente mau, nem exponencialmente bom, colocada a minha observação relativamente ao exemplo do apuizeiro, que durante a sua vida abraça funebremente, tragicamente, tetricamente, sinistramente, lugubremente, quem lhe dá guarida e moradia, o que é desleal, perverso e sombrio; todavia, na outra ponta, com os seus frutos alimenta diversas aves, bichos irracionais e racionais, inclusive nós, os controversos humanos, e até os esfomeados periquitos...
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