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Paulo Saldanha

O 'Enfeliz' Pacheco, prisioneiro do Forte e o soldado José Veado


                      No livro “FATOS, HISTÓRIAS E LENDAS DO GUAPORÉ”, de autoria de Paulo Saldanha Sobrinho, meu pai, há diversos registros sobre a construção e acontecidos relativamente ao Real Forte Príncipe da Beira, edificado entre 1776 (quando deram inicio à demarcação, alinhamento e levantamento das balizas) e 1783 (inauguração), daquela que viraria obra centenária que, se transformou em contemporânea desta geração, eis que está ali ainda altiva e soberanamente fincada logo abaixo da cidade de Costa Marques, cerca de 385 Km distante de Guajará-Mirim.

                      Ali teria sido prisioneiro o Pacheco que, com a ponta de um prego ou de um estilete, registrou o seu drama. Seria o primeiro preso político nesta Amazônia ocidental?

                      Meu pai asseverava que se desconhecia o crime cometido e que fim levou esse “enfeliz” Pacheco.

                      Quem seria Firmina referida pelo cativo da fortaleza?

                      Esse Pacheco, sem desejar ser historiador deixou um poema, com algumas rimas, marcando sua desdita e, ainda, uma inscrição assinalando que “Hoje 22 de setembro de 1882, as duas da tarde, tremeo a terra” (grafia dele).

                      São versos eloqüentes, que, embora com pequenos erros, estão disponíveis naquele e em outros trabalhos literários.

                      Ora, em junho de 1994, na noite em que, na cidade de Goiânia, Goiás, a seleção brasileira de futebol iria jogar uma partida amistosa contra Honduras, a terra tremeu, assustando os moradores de Porto Velho, São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.

                      Tremor que poderia ser explicado em cima do fenômeno que, de tempos em tempos, se repete, por ser cíclico, em nome da revolta da natureza destemperada.

                      Mas, há ainda um fato, que não se liga ao Pacheco, mas ao soldado José Veado, que, ainda muito nervoso, relatou ao meu velho que havia encontrado cinco frasqueiras enormes, pesadas, bem lacradas com breu preto, debaixo de uma frondosa árvore. Explicou ele que saíra para caçar, mas ouvindo os sons de uma vara de queixadas, posicionou-se visando matar, pelo menos, um deles. Ao correr, observou que, ao lado da exuberante árvore, cinco frasqueiras estavam lá. Tentou erguê-las sem o conseguir de tão pesadas que eram.

                      Depois, abateu um porco com certeiro tiro, retirando as vísceras do animal, e retornou na tentativa de encontrar os garrafões enormes, bem pesados, buscando verificar que se tratava de boa quantidade de ouro, mas, para tristeza sua, que não neutralizava a violenta cobiça que o envolvia, embora retornando ao possível lugar onde teriam sido avistadas, não logrou êxito e frustrou-se.

                      Partindo da premissa de que José Veado tinha visto realmente os garrafões, não poderiam ser, não de ouro, mas de chumbo e pólvora, sinalizando que representariam um estoque de munição, com vistas a segurança para os militares do Forte, em caso de uma fuga, por ataque dos espanhóis numa hipótese de assalto à obra centenária?

                      Dúvidas que lanço aos historiadores em face dos curiosos que, assim como eu, desejariam conhecer a vertente real desses dois personagens que habitaram, cada qual na sua época, a centenária obra, nosso orgulho, referência e inspiração.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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