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Paulo Saldanha

O sarará e o delegado


 
Paulo Cordeiro Saldanha*

Alguns de seus colegas de trabalho o consideram um “gentleman” e sentem a maior saudade do tempo em que o tiveram como companheiro e são unânimes em afirmar que, naquela Agência do Banco do Brasil, ninguém o vencia nos requisitos simpatia, polidez e atenção.

Na verdade, antes de se transformar no bancário feliz e atencioso, virtudes que o credenciaram a ser um verdadeiro Relações Públicas, o Carlos Alberto Queiroz Lopes da Silva, foi vitorioso proprietário de uma Casa de Sinuca, onde expandiu o espírito gozador, sarcástico e altamente criativo.

Virou compositor e se transformou no líder do “Conjunto Musical do Sarará”.

Entrementes, com uma formação de esquerda foi lendo muito mais, instruindo-se politicamente, quando, “de repente, não mais que de repente”, viu-se, após a fundação da agremiação, engajado no PT e militante aguerrido do Partido dos Trabalhadores.

Ninguém vibrava mais que o Sarará como defensor das políticas e da doutrina defendidas por Lula e seus companheiros.

Antes, porém, do PT surgir no seu horizonte, mas como símbolo da rebeldia juvenil, patrocinada em cima da verdade que recolhia dos usos e costumes da geração esquerdista, não deixou a barba crescer, mas sim, o cabelo enorme, puxado para cima como no estilo “Black Power”.

Ocorre, que aqui no pedaço, politizaram a cabeleira do nosso herói. Um pouco mais tarde virou caso de policia...

Alguns afoitos diziam que ele tinha ficado mais bonito e charmoso. Aqueles mais à direita não deixavam por menos: “Esse Sarará, não pode ter mudado tanto... sei não! Sei não!”

Nessa fase aprofundou a sua amizade com o Quintino, homem sábio, bem mais velho, de quem se aproximou tornando-se um pupilo, que o credenciou a ser um conselheiro e intenso companheiro de papos filosóficos,
logo edificantes.

Sem prejuízo desse engajamento político, o nosso Sarará, na condição de poeta e músico (?), resolveu brindar com aquele estilo irreverente, a maior autoridade da Guarda Territorial no município e ia cantando a marcha carnavalesca em que tripudiava em cima do Capitão Alípio, sem nenhum desejo de desmoralizá-lo, porém com ânimo de espicaçá-lo:

“SEU DELEGADO,
SE O SENHOR QUER APANHAR,
MANDE CORTAR O CABELO
DO SARARÁ”.

E não faltaram os puxa-sacos que, num leva e traz, diziam ao Velho líder, que um “subversivo” atentava contra “soberania municipal”, debochando em cima daquela autoridade, cantando aquela letra tão agressiva, quanto irreverente!

E o Capitão Alípio, puxava uma baforada do seu inseparável charuto, rindo, debitava apenas a uma gozação barata, de alguém que ele conhecia desde pequeno, mas com o sentido, apenas, de brincar.

- Que nada, capitão, é a sua autoridade que ele quer submeter; é um golpista, tentando desrespeitar um homem da sua envergadura!

Até que um dia, no Cine Guarany lotado, o Sarará, com aquele “Cabelon”, sobe no palco e canta a música do “Seu Delegado , se o senhor quer apanhar, mande cortar o cabelo do Sarará”.

A plateia veio abaixo e, perdidamente embriagada, repetia o estribilho, ensandecida e emocionada!

Naquele dia, a Rádio Educadora, ao vivo, transmitia o Programa “Canta Guajará”, sob o comando do Cabo Ribamar, militar do Exército.

Uns dizem que ali recebeu a voz de prisão, através do MOE DE FERRO. Outros, que quem o levou teria sido o Renato, diligente Assessor do velho Capitão, uma espécie de Comissário de Menores.

E o nosso Sarará, tremeu! Cabisbaixo foi sendo conduzido para a delegacia. Entre os dentes, seu “algoz”, dizia: - canta seu esquerdista duma figa, canta a música do delegado...

Quando o Sarará chegou e viu aquele homem de roupa cáqui, com aquele charutão na boca, de óculos, ai caiu a ficha; ele tremeu e se sentiu irremediavelmente perdido!

- Meu filho, cante para mim aquela musiquinha deliciosa e subversiva. vamos cante, por favor!

E o Carlos Alberto Queiroz Lopes da Silva, não se lembrava da letra e cantava outra...

- Renato, meu bom Auxiliar, é essa a música?

- De jeito nenhum, Delegado! E diligentemente mostrou a letra correta, copiada pelo “Serviço Municipal de Segurança e Informações - SERMUSEI (?)”.

- Então meu jovem você está detido até se lembrar da letra certa. MOE DE FERRO, aos costumes! E o Capitão deu o sinal!

- Pronto, vão me levar para o formigueiro!

Foi ai que o Sarará se sujou todo! E gritou: O Moe de Ferro, não!

- Moe de ferro, antes chame o barbeiro com aquela máquina bem enferrujada e com aquela navalha bem cega. Vamos fazer o trabalho...

E o Capitão Alípio, saiu da sala onde o depoimento era colhido, rindo, contente e satisfeito. Horas depois, o Sarará foi liberado, graças a sua Madrinha. O capitão também sabia brincar! E intimamente, sentiu-se vingado, mediante o susto que deu no Esquerdista Sarará.

*Membro Fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e Membro Efetivo da Academia de Letras de Rondônia-ACLER

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Fonte: Paulo Cordeiro Saldanha
*Membro Fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL
e Membro Efetivo da Academia de Letras de Rondônia-ACLER

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