Quarta-feira, 13 de maio de 2015 - 18h20
As lendas são histórias inventadas por indivíduos e transferidas geração à geração. Poderiam ser fatos e fantasias que se misturam em cima das invencionices concebidas por alguém e que se irradiam nas comunidades, na tentativa de explicar o inexplicável, quando tomam às vezes dimensões sobrenaturais, que assustam e preocupam.
Escrevi ainda em 2011 sobre a figura exótica, porém, extremamente afável do “seu Padilha”, cidadão que construiu uma abençoada família, no centro do Bairro Triângulo, em Guajará-Mirim, cujos filhos, por terem se transformado em promissores cidadãos, estão brilhando noutros cenários, em outras regiões.
O Padilha amedrontava crianças meninos e mulheres, cuja história meio esquisita, dava conta de que o meu personagem “virava” uma porca – mistura de homem com suíno – que poderia fazer mal a crianças que se aventurassem a adentrar nos seus limites geográficos.
Uns o tinham visto após a metamorfose que o transformava num lobisomem, como tal enfurecido e cruel.
Mas, em sociedade era educado, simpático e andava normalmente pela cidade, onde, em muitas casas almoçava e jantava alegremente, porque era recebido efusivamente.
Quando em nossa casa, nós, os meninos daquela época, o olhávamos desconfiados e receosos, cochichando entre nós os nossos temores. Inclusive, lá atrás disse que “enquanto as narrativas transitavam pelo imaginário popular local, aquele homem ia liderando uma família saudável, bem orientada e progressista”.
Certamente ele ia intuindo os receios que inspirava e os medos que ele próprio espraiava, haja vista a marca que o identificava: cabelos longos e brancos, assim como farta barba, em desalinho, pança do “seu” Barriga, personagem da série CHAVES, e unhas sujas e enormes.
Até que descobri que o “seu” Padilha, por fazer trabalhos com respaldo na Umbanda, ele mesmo, espalhava as informações sobre si, visando resguardar a sua propriedade das visitas indesejáveis que poderiam levar detalhes da sua religião para o Bispo Dom Rey, um tanto intolerante com as práticas espirituais daquele homem.
Falava-se que Dom Rey não lhe interessava ter como adversário! Mas, o Capitão Alípio, sempre atento, o binoculava com zoom...
E o mito da Porca manteve longa trajetória, enquanto durou aquela eternidade...
Mas, acontece que a partir dos anos 70 outra figura assumiu a identidade da Porca, não mais como feminina, mas como “maldoso” Porco, que, também, passou a invadir o imaginário popular, mediante a certeza de que essa entidade que, virava um suíno, habitava não mais o Triângulo, mas o Bairro do Tamandaré, em cujas matas, quem as penetrasse, correria elevado risco de não voltar.
Nasceu o Vira-Porco na pessoa de Raimundo Nonato Costa.
Vestia-se sempre de negro, recheando a indumentária com dentes de bichos e unhas de preguiça. Óculos escuros e uma bota com cano alongado compunham a personalidade do Vira Porco; ele andava pelas avenidas se comunicando com os transeuntes, que o apontavam para os filhos e netos ameaçando-os que, acaso fossem indisciplinados, os entregariam ao Vira-Porco.
Possuía uma agilidade para adentrar na mata, agachando-se com rapidez e desaparecendo das vistas de eventual perseguidor.
E choro, angústia, caretas e ranger de dentes temperavam as inquietações dos meninos daquela década.
Sabia-se que mal algum o Raimundo Nonato praticaria, a não ser os receios que sua figura distribuía, haja vista as narrativas que sobre aquele homem se divulgava.
Também deixou uma família respeitada, cujos netos se transformaram em cidadãos bem formados e cumpridores de seus deveres cívicos e sociais.
Dessa forma, sendo as lendas histórias inventadas por indivíduos e transferidas geração à geração, vou tentando ceder para eventual leitor outros “causos” cujo conhecimento eu pude obter, sem me responsabilizar pela veracidade desses eventos aleatórios.
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