Domingo, 23 de setembro de 2012 - 09h25
Lembranças vivas, recordações de um tempo diferente! Eu, menino, depois do jantar caminhava um pouco atrás, meus pais à frente, em direção ao bar do Victor Villar, pensava nos sorvetes e estava eufórico!
Meus pais, braços entrejuntados, caminhando sem pressa, conversavam amenidades, liderando um “angustiado” cortejo que os acompanhava, sequioso de viver a emoção de degustar um sorvete de graviola, cupuaçu, açaí, maracujá, leite e até de menta.
No caminho, ora cumprimentavam um conhecido, ora paravam para trocar amabilidades com um compadre ou comadre.
Na rua poucos carros (apenas alguns Jeep), muitas bicicletas e reinando soberano, lá do lugar mais elevado da Caixa d’água, o alto-falante de “A Voz da Cidade”, ofertando músicas de um a outro enamorado.
Para os meninos ansiosos, as 3 quadras que nos separavam dos congelados eram infinitamente distantes e o mundo se movia, como na linguagem do poeta, “nos passos da neblina”...
Chegar ao nosso objetivo, e logo, era o que importava.
Na porta do estabelecimento, na esquina da Avenida Costa Marques com Mendonça Lima, em frente da Associação Comercial, um Victor Villar sorridente nos recebia, enquanto eu e os irmãos apressados sentávamos numa mesa, nem sempre a escolhida pelos nossos mandatários e patrocinadores do particular evento concedido.
Se as notas não estivessem no mínimo exigido alguém ficaria desolado na casa. A “solenidade” só teria a participação de figuras estudiosas.
Ali no ambiente, enquanto nos deliciávamos com as iguarias geladas, o papo corria solto a nossa volta, num tom às vezes acalorado, mas respeitoso, porque ao lado se jogava “porrinha”, ou se lançavam enigmas, as charadas, para serem decifrados pelos companheiros, cujo perdedor pagaria as despesas com a cerveja gelada.
Na outra mesa, quatro deles batiam, cada um na sua vez, com o copo de couro, de forma estridente, naquele jogo apaixonante de dados, que se chama bozó. Mais uma vez ao perdedor caberia o pagamento das despesas.
E nós, bocas marcadas pelos sorvetes, dedos melecados pelos cremes, nos divertíamos com a gritaria ao derredor. Ríamos dos risos e dos deboches demonstrados pelas partes, sem, muitas vezes, entender a razão da euforia.
Hora de nos recolher. Caminhada de volta. Retornávamos envolvidos de alegria, plenos de felicidade... Adormecíamos contentes e, após o sono reparador, outro dia nos recebia. Tempo de aulas.
E, no vai-e-vem do cotidiano das pessoas, o Clipper (construído na confluência da Avenida Presidente Dutra com Mendonça Lima), vendia sanduíches, cigarros, saltenha, croquetes, chicha, guaraná, cachaça, o rabo de galo e muita cerveja. No final da tarde, comerciantes e seringalistas caminhavam como quem vai à novena, convergindo para aquele espaço, objetivando o sagrado jogo de dominó, com direito ao estridente som estrepitoso das pedras na mesa, que suportava sem reclamar a intensidade com que ela era jogada, notadamente quando pontos estavam sendo conquistados.
Adiante, durante o dia, bem na esquina da Presidente Dutra com a Avenida Leopoldo de Matos, o bar do Manoel Manussakis, em frente do então mercado municipal, vendia café, refrescos, picolés e sorvetes, além de cigarros e bebidas quentes (a Cocal era festejada).
Nas mesas, negócios eram tratados, mercadorias vendidas, lucros eram auferidos e homens, contratados para a lida nos seringais. Nos períodos eleitorais, apoios concretizados, votos eram cabalados...
Lembro-me que o ponto forte do bar era a recorrente oferta do refresco de tamarindo, sempre tão gelado que doía na goela do desesperado e ensandecido que desejasse desfrutar do líquido, que, praticamente, só naquele bar seria encontrado.
E a caixa registradora do Manussakis fazia aquele suave barulho que enternece o empresário, pois sabe que dinheiro está entrando no Caixa por conta dos seus negócios.
Lá dentro, o Chico Taratatá, magro e alto, trabalhador e responsável, mexia, sob a supervisão do Lobato, com uma pá de madeira, o café preparando-o com açúcar, sob fogo intenso, numa lata de querosene, cortada em diagonal, torrando-o para, depois, ser pilado ou moído e colocado na máquina de metal para ser servido muito quente e muito doce, ao público.
E eu, que pensava ter perdido na memória um tempo tão bom, observei que as lembranças não se apagaram. Por isso escrevi esta crônica plena de saudades, recheada de boa recordação.
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