Sábado, 5 de março de 2011 - 10h05
Paulo Cordeiro Saldanha*
Davi Nasser e Jota Junior nos deixaram a letra e a música de Carnaval, cujos versos “Confete/ Pedacinho colorido de saudade/ Ai, ai, ai, ai/Ao te ver na fantasia que usei... Confete/Pedacinho colorido de saudade/Ai, ai, ai, ai/Ao te ver na fantasia que usei/Confete/Confesso que chorei/Chorei porque lembrei/Do carnaval que passou/Daquela Colombina que comigo brincou/Ai, ai, confete/Saudade do amor que se acabou”.
Chiquinha Gonzaga consagrou a marcha “Ó abre alas que eu quero passar/Ó abre alas que eu quero passar/Eu sou da lira não posso negar/Eu sou da lira não posso negar”.
A Marcha do Remador (se a canoa não virar, olê, olê, olê olá eu chego lá...), Chiquita Bacana, Allah-lá-ô, ô ô ô ô ô ô, Índio quer apito, Nós os Carecas, Máscara Negra, Tem Nego bebo ai, Mamãe eu quero, Daqui não saio, Está chegando a hora, e dezenas de frevos que eletrizam multidões até hoje, são minhas recordações tão vivas. Eventual leitor lembrará de outras músicas.
Tenho falado tanto nela que a saudade já está empanturrada de tantas reminiscências.
Porém, falar dos carnavais do meu tempo dá aquela dignidade que eu preciso para acalentar as minhas lembranças.
Não vivi o carnaval da época do Colombina, clube situado ali na Avenida Presidente Dutra, próximo de onde hoje está fincada a Praça Barão do Rio Branco.
Todavia, recordo bem dos carnavais do Helênico, Guajará, Taba do Maracajá (hoje Boinas Rajadas), Cruzeiro, Rio Grande, Trabalhadores...
As marchinhas davam o rítmo que comandava os foliões. Os blocos visitavam ora um, ora outro Clube, entusiasmando o público que se dividia, procurando saber quem eram os mascarados visitantes.
Porque não era proibida –numa guerra de confete e serpentina–a lança perfume, grande combustível do período de Momo, ampliava a alegria e gerava a felicidade incontida que se encontrava nas letras e nas músicas das marchas entoadas, enquanto se pulava ou dançava na pista.
Nós éramos felizes... e sabíamos que brincar o carvanal nos transportava para uma espécie de Nirvana aqui mesmo na terrinha.
As fantasias ampliavam a formosura das moças e senhoras que desfilavam naqueles clubes, com o charme natural que ostentavam.
Nas ruas, os blocos saiam e até alguns deles “invadiam”, de assalto, as habitações amigas, com talco e/ou farinha de trigo, sujando o chão e o chefe da familia, quando exigiam bebida forte para deixar a residência e seus moradores em paz, até que outra casa identificada como de bom parceiro, pudesse ser ocupada, com o mesmo fim.
Aqueles nossos clubes se enfeitavam, com rica e criativa decoração para receber os carnavalescos. Muitos não sabem, mas Guajará do passado tinha clubes dos quais nos orgulhávamos!
O Rossini, o Haroldo, o Bruno, Sebastião, Canhoto, Saninho, o Cabo Salvador, etc... não se cansavam e aconteciam até o amanhecer. Aqueles que tocavam instrumento de sôpro ficavam com os lábios desfigurados, inchados mesmos, de tanto esforço. Mas o que importava era transportar alegria e felicidade aos grupos participantes daqueles folguedos (palavra antiga!).
Nos salões, ao repique de uma marcha mais ardente, mais ardorosa, a multidão se impulsionava das cadeiras em direção à pista e os gritos emergiam traduzindo o êxtase pela celebração vivenciada ali naquelas horas.
Numa dessas, o Rafaelito Ocampo (grande caráter), a exemplo de outros, cheio de lança-perfume aspirada, entra na pista de dança, no mesmo instante em que a música pára visando o descanso do grupo, momento em que os brincantes retornam às suas mesas, ao passo que ele continuava pulando sozinho, absolutamente só, pensando ouvir a marcha que já tinha acabado, reinando parcial silêncio no ambiente.
E o Rafaelito enquanto sob efeito do líquido gelado, ele, sozinho, repito, pulava ao som de uma virtual marcha que só tocava no seu cérebro privilegiado. E os risos, as gargalhadas fluiam ante a imagem por ele distribuida, olhos semi-cerrados, braços ao alto. Até que o efeito da lança-perfume passou e o nosso heroi, desconfiado e ruborizado, envergonhado mesmo, foi saindo de fininho...
Por ser considerada droga perniciosa, passivel de causar mal à saúde, a lança-perfume no final dos anos sessenta ficou sendo proibida.
Mas tinha gente que ia fazer Retiro Espiritual, onde orações eram erguidas ao Senhor, pedindo “a redenção dos pecadores, em face dos excessos que na festa profana seriam praticados...”
Eu mesmo conheci alguns que iam para o Retiro das 8 às 18 horas, no Colégio Nossa Senhora do Calvário, mas à noite, depois das 22 horas, nos Clubes, andaram “pecando” por pensamentos, ações, obras e intenções na festa considerada, naquele tempo, relativamente sacrílega.
Tempos bons! Que estão voltando graças aos blocos atuais que vão enriquecendo a cultura carnavalesca desta Terrinha.
*Membro Fundador da Academia Guajaramirense de Letras – AGL e Membro Efetivo da Academia de Letras de Rondônia – ACLER.
Fonte: Paulo Cordeiro Saldanha
*Membro Fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e Membro Efetivo da Academia de Letras de Rondônia-ACLER.
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