Segunda-feira, 4 de junho de 2012 - 10h38
Sempre apreciei ouvir histórias, assim como ofereço o meu aplauso àquelas piedosas mentirinhas que o caboclo, o ribeirinho, enfim, o sábio homem da roça consegue expor, ali no terreiro, bem limpo, com direito a uma fogueira com suas labaredas avermelhadas, aquecendo o ambiente e o papo, que corre solto entre os presentes, numa noite de luar.
Tem um momento até que uma conversação mais séria transita como tema, mas bom mesmo são os chistes, as facécias, que vão surgindo no lirismo de um instante em que olhando para cima se observa a trajetória da lua no firmamento.
“–Sabe cumé, cumpanhêro, ando meio cansado. Imagine que acordei sem ver as hora e fui diretin pru rio e ai migrulhiei, mas di tão cansado, di tão cansado drumi dibaixo dágua e só acordei na ponte do Igarapé Araras.
–Mas cumpadi o sinhô saiu daqui do rio Pacaá Nova e varou toda essa imensidão dibaixo d´água? Vôôôte!
Silêncio sepulcral... A lenha na fogueira, envergonhada, crepitou!
–Afiná, pelo rio deve de dar mais de 120 quilômetros... E as cachoeira? Saulo das Cruzes Rodrigues não perdoava.
–Num vi, não, meu sinhô! Sono meu é veramente bem pesado, ainda mais na profundidade que eu istava... mais de 90 metros...”
–qual a profundidade? Indaguei, entrando na prosa.
–mais de 90 metros!
Essa é das “brabas”! com meus botões, eu pensei, até porque o rio Mamoré, antes dos tombos maiores, varia entre 30 a 40 metros, até onde apurei. Depois de Porto Velho, chega a medir mais de 66 metros, em alguns trechos, mesmo em agosto. Além do mais, o Simão Borges Bazzano, autor do relato acima, contrariou os princípios da física. Descer o rio dormindo, com “extremíssima” boa vontade, mesmo nos 90 metros mergulhados, tudo bem, mas subir o Igarapé Araras, adormecido será sempre demais...
Sem se perturbar o nosso homem de imaginação fértil nem tremeu. Até que o Euro Salim Baleroni, boliviano naturalizado, com origem libanesa com italiano, simpático, bonachão disparou, num portunhol quase sofrível:
–“Cuando serví a mi país na Fuerza Naval de Bolivia, no Lago Titicaca yo mergulhê en una profundidad de unos 55 metros, caminé entre las varias ballenas. Ni tuve miedo”!
–Cuidado, amigo, pois um pré-histórico poderá assustar outro pré-histórico ao vê-lo, naquela profundidade toda e, assim, partir para o ataque. Ainda de forma serena ousei tripudiar.
–“El miedo no me asusta, cumpa! my coraje me fascina! Soy hombre acostumbrado a superar desafíos”! Ouvi de um resoluto e bastante humilde representante dos castelhanos, que nem ligou para a minha provocação.
Mas, vejam até onde chega a fantasia humana. Como se no Lago Titicaca tivesse baleias...
Lá pelas tantas meu primo Narciso Paes de Azevedo, o Ditão, me surge contando a seguinte história:
–Meu primo, disse em tom solene, segurando uma lata de cerveja, nessa boca do Pacaás Novos e apontou para o encontro das águas, tem uma mulher de branco assustando os navegantes.
–Como? Perguntei, piscando os olhos, de tão surpreso!
–Veja, estava eu, voltando de um passeio; comigo, o Nemilson de Carvalho Louras, o Afonso Soares de Albuquerque, do INCRA, e nossas respectivas mulheres, na segunda-feira passada. A cheia do rio muito grande, não permitia parar num barranco confiável. Atracamos no Pier do hotel, por voltadas 18 horas e 30 minutos, para fazer um “xixizinho ecológico”.
–Mas logo no Píer, primo, a urina de vocês despejou impureza nos soberanos barrancos fronteiriços. E ri da minha presunção.
–Nisso, –o Ditão não desejava parar de falar– surgiu uma mulher bonita, vestida de branco, que nos surpreendeu dizendo que ali era um hotel e, franzindo o cenho, demonstrou a sua contrariedade por nos ver ansiosos precisando “verter líquido”; e ela foi caminhando rumo ao rio, na água entrou e foi afundando e sumiu. Como estávamos desesperados para urinar ficamos de costa e nos aliviamos. Depois, fomos procurar a tal moça. Nada! Olhamos por baixo do tablado do Pier e nada! Como estava escurecendo, nos valemos de lanternas possantes, farol silibim movido à bateria e focamos... nada! Chamamos por ela, sem saber o seu nome e... nada. Ficamos procurando mais alguns minutos, em vão. No outro dia, colamos nossos ouvidos nas emissoras de rádios locais, desejando saber se algum corpo de mulher fora encontrado, boiando. Tudo em vão!
–Ditão, nunca vi nada! No dia citado por você o hotel estava sem hóspedes e demos folgas para a equipe, apenas os vigias ficaram... Estranho, não!
Depois, ante a confirmação que meu santo e imaculado primo Ditão, homem sério, aprecia beber umas cervejas, “sempre numa nice”, procurei o Afonso do INCRA que me ratificou, com idênticos detalhes, a vivência experimentada por sua pequena comitiva. Estranho, não?
Sempre gostei de ouvir histórias, assim como ofereço o meu aplauso àquelas piedosas mentirinhas, com intenção de fazer rir, que costumo ouvir, mas, sonhos, quimeras, fantasias ou devaneios (?) de um primo, para mim tão querido, está fora dos meus propósitos, mesmo assim os divido com os poucos leitores de minha despretensiosa coluna.
Palavras da salvação! Ou Palavras da imaginação!
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