Sábado, 1 de agosto de 2015 - 19h10
Para não perder o amigo, eu resolvi acreditar na história contada com seriedade absoluta pelo Geraldo do Carmo. E jamais perdoarei quem dela levantar a menor suspeita...
Ocorre que o Geraldo desde o início de 1970 anda por estas bandas, e numa dessas andanças subiu o rio Mamoré com afoitos companheiros, numa pescaria regada a vinho e muita cerveja, até que pararam na boca do Lago Deolinda, ali bem perto do lugar aonde caiu, em 1967, um Catalina da FAB.
E enquanto durou o tempo de reparo da hélice do motor 40 Yamaha, foram surpreendidos por uma canoa que trazia o Torito Eurasiano e Artuzin Pedregoso, mestiços de boliviana com brasileiro que tentavam vender cachos de banana, inclusive daquela São Tomé. E ambos, após receberem os cruzeiros correspondentes, passaram a contar atropeladamente ao Geraldo a história que lhes repasso, caríssimos leitores.
Os dois beradeiros narraram que subiram o rio numa canoa média no tamanho, em cujo casco tinha um saco de laranja, um banquinho, uma faca e as demais “traias” de pesca; já era noite quando rumaram a partir da foz do lago citado e, ainda assustados, disseram que depois de algum tempo, após zarparem, foram perseguidos por um peixe enorme.
História que me fez viajar até a Bíblia e me ver frente a frente com Jonas. Lembram-se dele? “Segundo o relato bíblico, durante a viagem acontece uma violenta tempestade. Esta só acaba quando Jonas é lançado ao mar. Ele é engolido por um "grande peixe [em grego këtos]" e no seu estômago, passa três dias e três noites”... Tendo se arrependido, é vomitado pelo "grande peixe" numa praia e segue rumo para Nínive”.
Mas, retornando ao Lago Deolinda, voltamos àqueles dois, posto que, um remava na proa; o outro, na popa. Acabaram, num reflexo da lua, observando que era uma piraíba enorme e, pelo jeito, já bem adulta, pois (pasmem!) viram cabelos nas nadadeiras, incrustados como se fossem no sovaco, além de fartos bigodes já esbranquiçados e fios de barba nas já enrugadas faces. E eis que ela, como se estivesse com o “cão” no corpo, deu uma pancada forte com o rabo, no rumo do homem da popa. Esquivando-se com invejável maestria, ele conseguiu manter o prumo e o rumo da canoa em direção ao barranco.
De repente, novo ataque, desta vez visando o Torito, que remava na proa. Foi infrutífero, posto que este caiu na canoa, mas o saco com as laranjas, voando também, viu-se afundando e foi engolido pela fera numa rapidez incrível.
Da Criatura feroz novo ataque, e o banquinho rodopiou, fez um salto carpado e caiu na boca do endiabrado bicho aquático.
Os dois homens bastante assustados, tremendo, ficaram de pé para remar com mais força. Um deles, o Artuzin, portando a faca, a manteve entre os dentes. Ocorre que nova investida concorreu para que esse navegador da popa abrisse a boca e, mediante esse esforço mecânico, fizesse cair no rio a tal faca com a qual defenderia a dupla. Ato contínuo, a fera assassina engoliu também o objeto cortante.
Um vento soprava do Sul para o Norte, impedindo que a canoa furasse o bloqueio, fugindo, ante as pressões exercitadas pela piraíba nauseabunda. Nova agressão, e Torito, já todo borrado, viu-se lançado à água e zás! Foi imediatamente engolido vivo por aquele monstro terrível.
Artuzin, com a roupa toda molhada, fosse pela urina que insistia em ser liberada como também pelas ondas que entravam pela popa da pequena embarcação, também foi derrubado e viu-se ingressando goela abaixo pelo animal fluvial que o atacava de forma inclemente.
Aí, uma surpresa para Artuzin ao ver-se dentro do estômago do peixe enorme e que o fez rir da situação: Torito, sentado no banquinho, tinha uma faca na mão com a qual descascava muitas laranjas e cuspia os bagaços no interior do pescado.
E ele acabou beneficiando-se da cena e comeu uma dúzia delas, saciando-se.
Depois, fizeram umas cócegas no interior da quase baleia, e valendo-se da faca começaram a abrir de dentro para fora a barriga daquele aprendiz de dinossauro de nadadeiras; o bicho começou a estrebuchar-se! e os expeliu após tenebroso arroto, fazendo-os nadar para a beira... permitindo-lhes, assim, contar essa história para o Geraldo do Carmo e seus amigos, e eu, para constar, lavrei a presente ata que vai ser lida e jamais será assinada por nenhum dentre os viventes ouvintes da narrativa...
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