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Paulo Saldanha

Os Irmãos Carvalho: o Chefe Claudio e o Mestre Lucio


Os Irmãos Carvalho: o Chefe Claudio e o Mestre Lucio  - Gente de Opinião
 

Paulo Cordeiro Saldanha 

O Escotismo apareceu na Inglaterra, a partir de 1907 e, em nosso País, foi introduzido pela Marinha do Brasil. O primeiro brasileiro Escoteiro foi Aurélio Azevedo Marques, filho do Sub-Oficial Amélio Azevedo Marques. No plano nacional, depois, já em 1910, alguns representantes da Marinha trouxeram daquele País a filosofia e a doutrina geradas por Baden Powel, considerado o seu criador. 

O Futebol surgiu também na Inglaterra. No Brasil teria sido implantado por Charles Miller, em 1894. 

O Escotismo aqui em Guajará tem um nome: Claudio Carvalho, o saudoso Chefe Claúdio. Idealista e grande formador de mentes sãs em corpos sãos. Na condição de Lobinhos prometíamos fazer o melhor possível para: “cumprir meus deveres para com Deus e a minha pátria, obedecer a Lei do Lobinho e praticar todos os dias uma boa ação”. 

Aliás, o futebol local também tem outro nome: Mestre Lúcio de Salles Carvalho! 

Eles eram irmãos, cidadãos de primeira linha, que se transmudaram em agentes do bem. Líderes que iam transformando jovens em melhores cidadãos. Um, através do Escotismo; o outro, valendo-se do esporte, na condição de atleta e técnico de futebol, ia ensinando táticas e procedimentos corretos a comandados, que concorriam para que aqueles tivessem disciplina e ânimo de vencedores. 

Como se sabe, essas duas atividades têm uma função sócio-educativa. Os Irmãos Carvalho: o Chefe Claudio e o Mestre Lucio  - Gente de Opinião

O Lucio Carvalho, nascido em 30/07/1920 (vai fazer 90 anos), aportou nestas plagas em outubro de 1940, já casado com dona Luiza de Almeida Carvalho, Inspetora de Ensino, grande mulher e abençoada Mãe do Marlucio, Leonor, Marilucio, José Manoel (o Zeca), Lucinho, Paulo e João Bosco. 

Como brioso militar fez-se voluntário no 26º BC, em 1937, na cidade de Belém; ali deu baixa, em 1938, transferindo-se para Porto Velho, onde acabou servindo ao Exército, na 3ª CIA de Fronteira, como soldado. Em 1940 removido para o 3º Pelotão sediado em Guajará, foi comandado pelo Ten. Heitor. Chegou a ser convocado para a FEB. 

Em 1941 licencia-se do Exército e é nomeado funcionário da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. 

Ele, o Lúcio, teve uma ação como esportista, digna dos melhores louvores, que ultrapassa o espaço de que disponho. O certo é que fundou o Independente, o Fronteira e o Cruzeiro, antigos clubes de futebol desta cidade; foi técnico e jogador, atuando como meia direita. 

Em 1947 pede baixa definitiva do Exército, já mais experiente e com outra dimensão profissional. 

Após deixar o serviço militar trabalhou com o Demétrio Melas, no Seringal “Curralinho”. 

Depois, ao retornar dos altos rios, tornou-se pintor, atividade que representava o sustento familiar, profissão que o dignificava, mesmo porque seus auxiliares (Simão Salim, Pinheirinho (Sargento) Rafaelito Ocampo) acabaram tornando-se melhores artífices, com outras perspectivas no mercado de trabalho, em função da chance de bom aprendizado que iam recolhendo como pupilos de um grande profissional. 

O Chefe Claudio, que também foi militar, era futebolista e considerado bom goleiro, acabou promovido a Cabo, pois tinha vocação para líder e ensinava ordem unida, inclusive, no Colégio Nossa Senhora do Calvário, responsabilizando-se, ainda, pela direção da Banda e dos tambores, quando dos festejos cívicos. 

O Chefe Claudio, em 1944 deixa o serviço ativo do Exército e é nomeado Fiscal da Prefeitura Municipal de Guajará-Mirim. Depois, em paralelo, cuidou, ainda, da bilheteria do Cine Guarany. 

A partir daí, mercê do incentivo do seu colega de trabalho, o competente e lúcido Wilson Fernandes, como parceiros idealistas, trazem o escotismo para esta cidade, provendo a integração de meninos e jovens nativos. 

Paciente, costumava manter-se equilibrado, mesmo quando uma troupe de pupilos não entendia as suas mensagens e as suas ordens de comando. 

Impunha-se sem que fosse preciso dar um grito. 

O Técnico Lucio Carvalho, não fugia à regra que seu irmão Cláudio desenvolvia. Comandava mansamente, instruindo jogadas a serem levadas a efeito pelo esquadrão do qual era o grande timoneiro. 

Nessa condição foi técnico do Guajará Esporte Clube, na segunda metade dos anos 60. Dividindo o comando técnico com o Carola consegue o campeonato de 1966, cujas faixas foram distribuídas na presença do Coronel Paulo Nunes leal, ex-governador do Território. Nós, seus atletas, o respeitávamos e construíamos os lances, segundo os seus mandamentos, plenos de estratagemas, de ardis e ensaios. 

Sua residência passou a ser a nossa concentração, antes das partidas. De lá, nos dirigíamos ao Estádio “João Saldanha” (onde hoje é a Prefeitura), palco de sensacionais contendas que animavam as torcidas locais. 

O Chefe Claúdio Carvalho faleceu em 1980. O Mestre Lúcio está ai, vivendo ao lado da mulher Luiza, dos filhos e acarinhando os netos, contando histórias, objeto de uma experiência que só orgulho lhe dá, pois é, junto com o Wilson Fernandes, e alguns poucos, um mensageiro de uma época que só exemplos dignificantes legou para a nossa geração. 

Fotos ilustrativas do 7 de setembro  em Porto Velho

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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